quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Mas alguns são mais iguais do que outros




A actual campanha de apoio aos participantes nacionais nos Jogos Paralímpicos apresenta-se como um esforço igualitário e patriótico: tudo é igual, o esforço, a pista, os sonhos. O facto de haver uma diferença óbvia entre estes atletas e “os outros” está logo definida pelo facto de participarem em competições distintas (e, diga-se de passagem, na forma como o próprio anúncio pressupõe a existência de uma “diferença” contra a qual deve reagir, defendendo que “enfim, é tudo igual”); mas por alguma razão achou-se uma boa ideia pegar no assunto pela falácia mais clara e escondê-la atrás de um slogan como “a pobreza é má”, i.e., daqueles dos quais, por mais banais e demagógicos que possam ser, parece ser impossível discordar.

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

A Senhora Indignada


Ela habita em todas as repartições de Finanças, em todos os balcões, em todas as Lojas do Cidadão. Ela está habitualmente mal vestida, um pouco mal lavada e fala sempre alta demais. Ela observa quem a rodeia com a atenção do predador, uma águia na planície observando com que outro ser vivo partilhará as suas desgraças; com a diferença que as águias não resmungam tanto. Ela é licenciada em retórica popular, uma mestra na má conjugação do ver “haver”, uma doutora na arte do arrelio. Ela tem muitas formas e muitos nomes, mas como qualquer bom arquétipo possui um carácter universal e um nome unificador de todas as suas personificações: ela é A Senhora Indignada.

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Análise do romance “O Velho e o Mar” por Rute Sousa, cabeleireira no “Dina Salon”


Antes de começar esta argumentação queria tirar um momento para agradecer ao senhor Renato Rocha que me está a dar esta oportunidade. Sempre fui uma criança muito precoce e artística. Gostava de ter muitas mais oportunidades para expressar o que sou e o que sinto mas às vezes não dá.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

A Mensagem


Mais tarde chamariam a atenção para o facto de ser 4 de Agosto. A praia algarvia estava cheia de gente. Cheirava a protector solar e a gelado derretido. No meio das ondas surgiu uma cabeça e, agarrada a ela, o elegante corpo de um jovem rapaz. Louro, de olhos claros, orgulhoso porte, todo coberto de algas e areia. As pessoas estranharam vê-o sair do mar sem no entanto o terem visto entrar primeiro; ainda por cima vestido. De onde vinha?

- Isto é Portugal? – perguntou o rapaz. Um turista disse que yes.

- Sou o Rei desta nação – proclamou, de braços estendidos como Cristo– e vim salvar-vos.

Um gato a morrer



Eram já duas da manhã quando o ouviu lá fora: um silvo ameaçador interrompeu a noite e fê-lo levantar a cabeça da almofada e pousar por momentos o livro. Com brusquidão, o beco caiu no silêncio habitual e ele voltou a pôr o livro sob o candeeiro. E logo depois: um gemido de criança, longo, ondulado, agudo, como uma alma a comunicar com os vivos.

sábado, 4 de agosto de 2012

10 Regras para Escrever Ficção


Inspirado por uma interessante reunião de conselhos dados por grandes escritores sobre o seu ofício (que pode ser lida clicando aqui), o Trajectória Aleatória fez uma pesquisa de pelo menos quinze minutos numa livraria portuguesa e compilou umas listas. Que recomendações oferecem aos seus aprendizes os autores mais populares da actualidade?


quarta-feira, 1 de agosto de 2012

FAQ infantil


Às vezes as crianças desarmam-nos com perguntas simples para as quais não temos resposta. Temos uma escolha a fazer: ou pomos a criança a ler a Enciclopédia, incentivando-a a descobrir por si mesma as respostas, ou escondemos a nossa ignorância atrás de uma resposta intricada a fim de manter, aos olhos do miúdo, uma aparência de conhecimento. Hoje, aqui, agora, neste local e neste momento, vou dar alguns exemplos práticos de perguntas que um filho de outra pessoa me poderia colocar e às quais responderia sabotando a educação do dito cujo para diversão pessoal.