sexta-feira, 30 de abril de 2010

A colher é para ser metida, minha senhora

A notícia do dia parece ser a do casal que não só violava os filhos como os obrigava a fazer sexo entre si. Parece um filme de terror, eu sei. A mulher foi já libertada, à boa maneira da justiça portuguesa, uma vez que se dizia obrigada pelo marido a violar os filhos. O pai das crianças está preso, e nega as acusações.
Não chegava o choque desta notícia. Estou neste momento a ver a Praça da Alegria, onde o repórter Hélder entrevista os vizinhos da família. Uma senhora, de visível e inqualificável burrice, contava que bem ouvia os gritos da mulher ou das crianças quando havia “porrada da velha”, mas nunca denunciou a situação porque, pelas suas palavras, “Não estava para me incomodar porque o homem era mesmo mal-educado, e também há aquele ditado que diz que entre o homem e a mulher não se mete a colher”.
Outras vizinhas falaram de seguida, todas confirmando que toda a gente sabia que havia violência naquela casa e todas confirmando que “achavam” que a Segurança Social estava a acompanhar o caso, e que por isso não fizeram denúncia; até porque, dizem ainda, “a mulher é que devia ter feito a denúncia”.
A parte mais chocante é quando as vizinhas dizem qualquer coisa como “Ah, sim, eu sabia que havia porrada nos miúdos, não sabia é que havia violações!”; como se a pancadaria pronto, até se compreende; mas a violação já é inacreditável.
Não só espero que estas pobres crianças sejam colocadas num ambiente o mais inofensivo possível, e que obtenham o acompanhamento que merecem. Espero também que o marido e que a mulher (apesar da sua desculpa de ser ameaçada) sejam presos durante umas décadas exemplares.
E, uma vez que a violência doméstica é crime público, espero que a vizinhança seja também culpabilizada. Acho monstruoso alguém violar os filhos, mas igualmente inacreditável é a burrice e irresponsabilidade dos vizinhos que nada fizeram. Tanto se queixam da Segurança Social e de como ela “não fez nada”, mas por outro lado não se quiseram “incomodar” com o caso. Eu não poderia dormir, se fosse um daqueles vizinhos; não só pela surpresa e choque de ter um caso destes perto de minha casa, mas também por, não denunciando, ser cúmplice da violência.
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