terça-feira, 29 de março de 2011
Tareia intelectual: Ray Comfort e "The Atheist Experience"
sexta-feira, 25 de março de 2011
Poema inédito de Alberto Caeiro
quinta-feira, 24 de março de 2011
Cuidado com a desinformação
quinta-feira, 10 de março de 2011
Jovem sofredor
O Jovem levantou-se da cama, esperguiçou-se e coçou o rabo. Saiu do quarto e foi até à cozinha, onde o pai lia o jornal sobre um prato com torradas e a mãe, de roupão, fazia café.
- ‘Dia – disse o Jovem.
- Bom dia, filho.
- Sabem, tomei uma decisão.
O pai observou-o do topo da secção de desporto e a mãe pousou a chávena de café sobre a bancada.
- Quero um emprego.
O pai e a mãe entreolharam-se.
- Eu acho óptimo, querido – disse a mãe.
- Sinto que está na altura de a sociedade me dar valor. Sabem, porque sou especial – o jovem puxou para si uma torrada e mordeu-a – E vocês sabem como isso é verdade.
- Claro que sabemos, filho – disse a mãe.
- Aliás, eu penso que já não era sem tempo – comentou o pai – Desculpa, mas é verdade.
- Tu sabes perfeitamente que eu estava ali a qualificar-me – disse o Jovem – Isso dá trabalho.
- Claro que sim, claro que sim – disse a mãe, bocejando – Desculpa, querido, mas tenho de ir trabalhar. Ficas bem?
- Podes dar-me doce?
A mãe tirou um frasco de doce do frigorífico e estendeu-o ao filho.
- Também vou – disse o pai, dobrando o jornal e limpando-se ao guardanapo.
Os pais saíram de casa e o Jovem terminou calmamente a sua torrada. Depois foi para o quarto observar o seu diploma, um papel lindíssimo com um selo que reflectia a luz do candeeiro. Depois foi um pouco para o Facebook, comentar com os colegas a sua complicada situação. Depois vestiu-se, agarrou no megafone, e reviu os seus gritos de ordem para a manifestação dessa tarde.
Não ia parar de se esforçar para sair da sua situação precária. Nunca desistiria. Até o meterem a trabalhar em alguma empresa, onde lhe dessem festinhas no cabelo e lhe oferecessem doces e elogios, nunca desistiria. Respirou fundo e saiu de casa, preparado para outro dia no mundo real.