domingo, 28 de fevereiro de 2010

O meu computador odeia-me Parte 2

Estou a usar o pc da minha mãe e não só ele funciona na perfeição, como o Blogger também decidiu deixar-se de coisas. Já consigo fazer copy paste! Isso significa que posso ir ao baú procurar alguma para pôr aqui enquanto não me ocorrer nenhuma história muito engraçada.

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Deu-me para a misantropia

A Sic está neste momento a transmitir uma daquelas lamechas e aborrecidas galas de solidariedade, que acontecem de cada vez que há uma catástrofe natural. Entre os convidados musicais e os telefonistas prontos a registar os donativos (que, por alguma razão, são sempre caras conhecidas; não percebo porquê, uma vez que com certeza toda a gente que liga para lá o faz por pura e absoluta solidariedade), há ainda tempo para umas interessantes montagens de imagens da destruição, e pedaços de relatos dos cidadãos em desespero.

Eu compreendo o total desespero da população da Madeira, e contam com a minha solidariedade (o que quer que isso signifique). Posso até fazer uns quantos telefonemas para a linha de donativos (desde que não seja um jogador do Benfica ou aquele careca que apresenta o programa de apanhados), mas por favor parem com as reportagens sobre a desgraça. Eu não vejo telejornais, e mesmo assim já é a décima vez que vejo as mesmas imagens, os mesmos vídeos amadores, as mesmas celebridades a fazerem cara de caso. Vamos lá decidir o que fazer a seguir, perceber como serão optimizados e aplicados os donativos, quem fará as distribuições. Eu sei que sou um burocrata chato e insensível por não estar a chorar pelos cantos e estar preocupado com estes pormenores, mas pronto.

E a propósito, só numa situação de catástrofe natural é que o Presidente da República participaria pessoalmente numa gala apresentada pelo Manzarra.

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quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

O meu computador odeia-me (e outros assuntos importantes)

Estou sem computador, uma vez que o meu sistema operativo decidiu meter férias sem me dizer nada. Se desejarem novos e actualizados post todos os dias, podem sempre comprar-me outro portátil.

Entretanto, ando desaparecido porque as coisas não estão fáceis. Tive exame de condução, no qual passei (iei!), e ando atulhado em trabalhos da escola. É a educação e pronto. A dança também consome tempo, o qual poderia utilizar para, oh, sei lá, dormir, ou outras coisas não-essenciais. Por agora vou acordando às seis da manhã. Decidi colar com fita cola um cachecol na janela, para tapar a pequena filinha de buracos na persiana que, por estar avariada, não fecha totalmente.

Okay, mais coisas fúteis... Ah! Não se metam com a Meo. É um serviço de idiotas, que nunca funcionou bem comigo. Cá em casa só temos TV e Internet de vez em quando. Vamos mudar para a Zon não tarda.

E acho que está tudo.

P.S.: Tive uma ideia imensamente divertida para uma história, mas estou com demasiado sono. Parece-me óbvio que os grandes escritores internacionais não praticam dança, muito menos têm insónias.

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segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Momento de Poesia - "Tenho exame de condução daqui a 35 horas e 48 minutos"

Fecho os olhos ao adormecer
Mas em vez de sonhor ver
Orbitam à minha volta
Sinais de cedência de passagem

um stop enorme, maçã encarnada
suculenta
à frente da qual devo parar

um triângulo invertido
flutuando divertido

e peões acelerados
caminhando sobre as zebras

Primeira, segunda, terceira
Quarta quando o motor se queixar
Quinta ao passar dos sessenta
Decoraste?

Adormeço
e sonho com pedais

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domingo, 21 de fevereiro de 2010

A religião torna as pessoas melhores

Hoje estava a chegar a alvalade pelo Metro, que uso frequentemente, e vi acontecer uma situação nada rara.

Vinha um moço atrás de mim, e atrás dele uma mulher que pareceu ser sua mãe. Encostei o meu passe à maquineta e as portas automáticas abriram-se. Passei. Ao olhar para trás, reparei na proximidade entre o rapaz e a senhora e, esperando o inevitável, fiquei à espreita.

Fatal como o destino, o miúdo encostou o passe à máquina e a sua mãe, com um à-vontade e uma lata que denotavam experiência naquele tipo de atitude, passou coladinha ao filho por entre as portas automáticas. Foi óbvio que não se tratou de uma situação do estilo "O meu passe não está a funcionar, por isso passámos os dois"; a falta de qualquer troca de palavras entre os dois e a absoluta organização nos movimentos revelava treino.

À mãe faltou-lhe rapidez, as portas fecharam-se, e o filho voltou atrás para forçar as portas e soltar a mãe presa; isto tudo passando-se a alguns metros de um dos revisores (que, diga-se de passagem, demonstrou uma total falta de profissionalismo ao ignorar a situação).

Pensei o que penso sempre que vejo tal situação. Que lata tem esta gente, e principalmente, que irresponsabilidade, ao ensinar a uma criança uma atitude tão deplorável e desonesta. Oh bem. Há que seguir em frente.

Segui, mas não pude deixar de reparar que o moço e a senhora, agora já na rua, se encontraram com um homem e seguiram caminho pelas mesmas ruas que eu. Indo atrás deles, decidi desviar-me da minha rota habitual para ver onde se dirigiam as personagens.

Foi, portanto, engraçado reparar que dali a uns cinco minutos estavam a entrar descontraidamente numa das muitas igrejas que existem em Alvalade. Há que apontar aqui a estranha ironia. Alguém que vai à igreja aos Domingos ouvir a palavra de bondade e honestidade do Senhor e, para isso, negligencia a educação dos seus filhos e fá-los participar em roubo (sim, para mim andar de metro sem bilhete é roubo, para mim e para qualquer pessoa com cabeça) é alguém que não sabe bem onde estão as suas próprias prioridades; muito menos parece tomar grande atenção aos ensinamentos bíblicos de respeito e honestidade em relação ao próximo.

Não conheço aquelas pessoas, e depois desta atitude pouco interesse teria em conhecê-las; mas sim, posso julgá-las. Se vão com convicção à Igreja e, pelo caminho, roubam para lá chegar, então são exemplos horríveis da sua própria religião, quanto mais de cidadania e respeito.

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E se Rosa Parks fosse lésbica?

Rosa Parques era uma boa pessoa; não queria chatices nem aborrecimentos. Tinha uma vida pacata. Partilhava a sua casa e a sua vida com Cláudia, sua namorada. Ambas tinham emprego, ambas gostavam uma da outra, e nenhuma se envolvia em escândalos imorais. Os seus amigos gostavam delas, até lhes confiavam os seus animais de estimação. Tinham uma casa pequena, perto do centro da cidade, e eram felizes.

Um dia, Cláudia apareceu em casa com um anel e ajoelhou-se à frente de Rosa Parques. Ela chorou, e disse que sim. Ficaram noivas. A sua união foi motivo de alegria para os amigos e familiares, que viam na sua relação um amor raro e intenso. Cláudia e Rosa Parques prepararam uma pequena festa, organizaram os comes e bebes, e imprimindo convites. Fizeram a lista de convidados, escolheram o local para o copo de água, contactaram um fotógrafo profissional, escolheram os vestidos, reflectiram sobre qual delas levaria o bouquet e decidiram que levariam as duas, cada uma o seu. O grande dia chegou, e Rosa Parques e Cláudia meteram-se no carro e foram à Conservatória Civil.

Quando lá chegaram, perguntaram-lhes o que raio pensavam estar a fazer. Rosa Parques apontou para os seus vestidos, e perguntou se não era óbvio. Pela cara de total incompreensão do segurança, não deveria ser assim tão óbvio. Exigiram falar com o responsável, que dali a vinte minutos chegou e perguntou o que ali se passava. Ao que parece, disse-lhe o segurança, estas duas senhoras querem casar.

- Com quem? - perguntou o responsável.

Rosa Parques e Cláudia deram a mão.

- Estão a brincar! - disse o responsável. Não, não estavam - Não sabem que isso é ilegal?

Algumas das pessoas que estavam na conservatória aproximaram-se, observando a cena. Rosa Parques pronunciou-se. Se era ilegal, era uma injustiça. Quem teria feito essas regras? O que é para uns não deveria ser para os outros?

Um homem com enorme bigode e ar de puritano indignou-se. Chamou-as de radicais e exageradas, e sugeriu-lhes que se mantivessem no seu lugar na sociedade, que assim é que deve ser. Nada de serem ambiciosas; até porque, argumentou, a maioria das pessoas não concordava com elas.

Rosa Parques sorriu-lhe, perguntando se a maioria teria razão. O homem de bigodes respondem que claro que tinha, pois se era a maioria! Rosa Parques sorriu-lhe outra vez, recusando-se a largar o bouquet de flores, e perguntou qual seria o problema de se casar com a pessoa que lhe apetecesse. Que mal viria ao mundo? O homem de bigodes corou, e disse que todos, todos os males viriam ao mundo. Sua radical.

O segurança procurou acalmar os ânimos, sugerindo a Cláudia e Rosa Parques que se retirassem pois estavam a indignar as pessoas e isso é que não poderia ser. Algumas vozes apoiaram o homem de bigodes, e outras resmungaram que não senhora, as duas noivas até tinham uma certa razão.

Gerou-se alguma confusão, enquanto os dois grupos discutiram e trocaram argumentações. Rosa Parques insistiu que se queria casar, e era hoje. Ok? Não, não ok. O grupo liderado pelo homem de bigodes interrompeu-a, declarando que se deles dependesse nada disso iria acontecer. A sociedade estava organizada de determinada forma, em que cada um tem um lugar definido e um papel na sua organização. Mudar isso é trazer o caos, é levantar o ridículo e o inimaginável, é igualar as duas noivas a dois noivos quaisquer! E acrescentaram que, no espírito da boa democradia, eram a maioria, e por isso decidiam que ali não ia haver casamento para ninguém.

O responsável pela conservatória não teve outro remédio senão convidá-las a sair, e Rosa Parques e Cláudia assim o fizeram, garantindo que muito provavelmente aquela luta não ficava por ali e que, mais cedo ou mais tarde, justiça seria feita; isto sob uma pequena salva de palmas daqueles que lhes deram razão. À porta da conservatória, deram um beijo apaixonado, de língua, e o homem de bigodes quase teve um AVC.

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sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Demasiado sono para falar daquilo que, apesar do sono, vou falar na mesma

Amanhã há uma impressionante manifestação organizada pela Plataforma Cidadania e Casamento, defendendo a realização de um referendo. Portanto, se forem como todos os homofóbicos que acham que têem o direito de decidir sobre quem casa e não casa no nosso país, participem com os vossos argumentos mal fundamentados.

Deixo-vos AQUI o vídeo publicitário da Plataforma. Este vídeo tem apenas uma coisa positiva, para além de uma enorme aridez argumentativa que chega até a divertir: dura pouquíssimo tempo, e por isso a tortura termina depressa.

Claro que não profetizo nenhuma grande novidade na habitual conduta desta Plataforma e respectivos gnomos-ajudantes. Vamos ouvir mais do mesmo "O Casamento é uma Instituição" e "Eu acho que, portanto". Se, por alguma razão, houver algum tipo de novo e criativo argumento contra o casamento homossexual, estou preparado para ser convencido. Não acredito que tal venha a acontecer, mas mesmo assim.

Logo se verá como irá correr, e comentarei se achar importante e interessante.

Até lá, caros amigos, está na hora do sono merecido e reconfortante. Se não aparecer por aqui durante uns tempos é porque:

1) Aconteceu-me algo horrivelmente incapacitante

2) Tenho demasiadas coisas para fazer

3) Fui raptado pelos temíveis líderes do Lobby Gay, a organização secreta que promove a destruição metódica de todas as gerações futuras e procura mergulhar a Humanidade na mais absoluta orgia de imoralidade

Até outro dia.

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quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

O número de telemóvel do Harry Potter

Harry Potter saíra da escola há apenas alguns meses, e enquanto procurava emprego aproveitou para tirar umas merecidas férias. Derrotar o maior feiticeiro de sempre tirara-lhe energia e, principalmente, tempo para cuidar de si próprio; por isso foi até à Multiopticas e trocou os seus óculos de armação por um par de lentes de contacto. O desconto igual à idade, habitual em todos os anúncios com o Eusébio, não se lhe foi aplicado. Pagou em Galeões, recebeu o troco em euros e deixou a empregada da caixa a duvidar da legitimidade daquelas moedinhas de ouro.

Levava a varinha no bolso, só para o caso de haver chatices. Quando se passa a infância a combater as forças do mal é complicado largar certos hábitos. Sabia-lhe bem o passeio. Desceu até ao Marquês de Pombal, apanhou o metro, e quando ia a chegar à Avenida um homem enorme, vestido de preto e com um capuz na cabeça, entrou na mesma carruagem que ele. O reflexo foi rápido demais; além disso, mal conseguia ver por entre as lentes recém adquiridas.

- Patronus! - gritou, com a voz decidida. O veado prateado saiu da sua varinha cavalgou pela carruagem do Metro, acertando no homem alto que começou a chorar e se atirou para o chão. Uma senhora desmaiou, outra começou a gritar. Harry Potter procurou pedir desculpas, mas ninguém o ouviu. O metro chegou aos Restauradores e Harry Potter saiu da carruagem como quem não quer a coisa.

Na estação dos Restauradores preparou-se para apanhar o comboio que o levaria de volta para a realidade a que se habituara. Enquanto olhava em volta à procura de indicações, tentando perceber onde raio estava o pilar que separava a plataforma 9 da plataforma 10, dois seguranças enormes subiram as escadas do metro, seguidos pelo homem alto vestido de preto. O homem apontou para ele, gesticulando, e os seguranças começaram a correr na sua direcção. Assustado, Harry Potter deu um salto para dentro da primeira carruagem que encontrou, segundos antes de as suas portas se fecharem e iniciar a marcha.

Respirou fundo ao ver os dois seguranças tentarem mas não conseguirem entrar no comboio. Suava. Sentiu a sua varinha dentro do bolso, e acalmou-se. Escolheu um lugar, e agarrou numa cópia abandonada do Destak.

Ia a meio do Sudoku de três estrelinhas quando um revisor se aproximou e lhe pediu o bilhete com voz autoritária. Harry Potter empalideceu, envergonhado. Esquecera-se de comprar o bilhete.

- Não tenho bilhete, mas saio já na próxima estação.

O revisor olhou para ele de alto a baixo.

- Está a brincar comigo?

- Não, claro que não. Ouça, eu tive de entrar no comboio porque estava a ser perseguido.

- Por quem?

Harry Potter ia responder, mas se dissesse que era procurado pela segurança do metropolitano os seus problemas duplicariam.

- Por um louco qualquer que me queria roubar. Era com certeza drogado.

- O seu nome, por favor - disse o revisor, preparando-se para passar uma multa, quando um grupo de cinco jovens com mau aspecto entrou na carruagem. Vinham a ouvir música alta, vestiam roupas largas e caras, gritavam sem vergonha palavrão atrás de palavrão e tratavam-se mutuamente por "brotha". O comboio chegou a uma nova estação, e o revisor pareceu mudar de ideias, saindo apressadamente. Harry Potter ia segui-lo, mas não conseguiu sair a tempo.

- Oi! Puto! - disse o vozeirão de um dos jovens. As portas fecharam-se. O comboio recomeçou a andar.

- Sim, tu aí! Parou! - gritou outro dos jovens. Aproximaram-se.

- Olá - disse Harry Potter.

- Chiu. Passa para cá o telemóvel e a carteira.

- Não tenho nada.

- O caraças. Passa para cá tudo. Tens dinheiro?

- Tenho, mas só alguns Galeões - Harry Potter tirou algumas moedas do bolso, e estendeu-as aos jovens.

- Isso são moedas de chocolate. Brotha, esse gajo tá a gozar ca tua cara - disse um dos jovens, mais atrás.

- Tás a gozar ca minha cara ou quê?

- Ou quê - respondeu Harry Potter. Que se lixe, pensou ele. Agarrou a varinha dentro do bolso.

- Vais ficar sem dentes, filho duma ganda... - começou um dos jovens. Harry Potter tirou a varinha do bolso, houve um estalo que ecoou pela carruagem e os três jovens mais à frente foram atirados contra as portas de entrada.

- Que merda é esta? - gritou um dos jovens não atingidos, olhando para o pau que Harry Potter segurava à sua frente.

- Saiam daqui. E larguem a mala dessa senhora - disse Harry Potter, apontando a varinha para um rapaz que puxava pelas alças da mala de uma senhora gorda e a choramingar.

- Puto, tás tão fedido. Donde és? Andas em que escola?

- Hogwarts - respondeu Harry Potter. O jovem não percebeu, e a varinha soltou outro estalo. Os dois rapazes que ainda estavam de pé cairam de costas. O comboio chegou a uma nova estação, e Harry Potter guardou a varinha e saiu. Um agente do Ministério da Magia esperava-o junto a uma máquina que vendia Kit Kats e refrigerantes.

- Harry James Potter, permita-me que o leve para as nossas instalações. Incorreu numa grave infracção ao fazer magia em frente a um total de 18 Muggles.

- Eu sei. Foi em legítima defesa.

Uma rapariga passou por eles enquanto falavam, parou subitamente, olhou para a testa de Harry Potter, e começou a respirar muito depressa.

- Olha... Desculpa... - disse ela, de cabeça baixa - Tu és... O Daniel Radcliffe?

- Hum? - respondeu Harry Potter.

- Oh meu Deus. Oh meu Deus. Que cena. Eu sou, tipo. A tua maior fã- a rapariga procurou ar, ofegante. Dobrou-se sobre a mala, retirou um telemóvel - Posso tirar-te uma fotografia? Melhor! podes tirar uma fotografia comigo? É para pôr no Facebook. Ninguém vai acreditar, ninguém! O Daniel Radcliffe na linha de Sintra!

O agente do Ministério da Magia olhou em volta, não viu ninguém, e agitou a sua varinha. a rapariga parou de se mexer, paralisada, de olhos muito abertos e vazios de conteúdo. Amanhã não se vai lembrar de nada.

- Venha comigo - disse o agente, e Harry Potter seguiu-o perguntando-se quem seria esse tal Daniel Radcliffe. Quando chegasse a casa ia perguntar à Hermione. Ela deveria saber.

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domingo, 14 de fevereiro de 2010

Espinafres nos dentes e um copo cheio de sumo: demasiadas coincidências?

Dois acontecimentos recentes fizeram-me pensar na aleatoriedade da vida, e na forma como o acaso pode por vezes parecer ensaiado.

Explico: há dias estava em casa dos meus avós a espremer laranjas. Era enormes. Usei uma daquelas maquinetas para espremer as laranjas. Fiz sumo, somei cascas de laranja espremidas, fui buscar um copo. E qual não foi a minha surpresa quando reparei que o sumo espremido enchia o copo que trouxera do armário até ao topo, e meticulosamente até ao topo, sem deixar espaço para mais ou transbordar. Pensei imediatamente que um observador de outro planeta veria naquilo um espectáculo da natureza. Se um amigo meu marciano estivesse a almoçar lá em casa até poderia convencê-lo que aquilo tinha algum tipo de significado. Que as laranjas tinham sido feitas para aquele copo, ou que o copo tinha sido calibrado para receber aquela quantidade exacta de sumo. Poderia até vender-lhe a ideia que as laranjas foram, na verdade, evoluindo em paralelo com a humanidade de forma a encaixarem nos nossos copos na perfeição.

Hoje, uma situação semelhante. Num filme na televisão, a horrífica actriz Eva Longoria fazia um papel de uma agente do FBI; e numa das poucas cenas que vi do filme, só de passagem, ela dizia a um dos outros agentes "Tem espinafres nos dentes". Qual não foi a minha surpresa quando, apenas seis horas depois, ao pesquisar por entre vídeos do Youtube e ir parar a um vídeo de um músico satírico que gosto particularmente, ouvi outra vez a expressão "Tens espinafres nos dentes"; não só a mesma expressão, mas dita na mesma língua! Com certeza pode tratar-se de sinais escondidos, de uma poderosa conspiração que secretamente procura controlar a televisão e a Internet e cujos padrões de comunicações secretas acabei de descobrir.

Estas duas situações fizeram-me pensar na forma como lidamos com a aleatoriedade nas nossas vidas, e como lhe damos significado quando toma formas reconhecíveis ou surpreendentes. Por exemplo, alguém que faça torradas todos os dias saberá que o padrão de queimadura das torradas é diferente todos os dias; mas se um dia esse padrão, aleatório, se parecer com um cão ou com uma face humana, o que era aleatório passa a ter um "significado" (Pesquisem "Jesus+toast" no Google e vão perceber o que quero dizer).

Das torradas passamos para outros exemplos. Encontrar a mesma pessoa, ou referências à mesma pessoa, duas vezes no mesmo dia, há-de ter algum significado. Ligar para alguém quando essa pessoa nos ia ligar também mostra uma "forte ligação espiritual", ou qualquer coisa do género. Se o meu horórcopo me diz que vou ter dores de barriga ou que o dia me vai correr bem e tenho dores de barriga ou o dia me corre bem, é porque os horóscopos lá terão as suas façanhas adivinhatórias. Ou quando dois canais passam dois filmes com o mesmo actor, terão combinado?

A verdade é que damos muita importância àquilo que nos é reconhecível, e que, dentro da aleatoriedade, reconhecemos e conseguimos compreender. Já vi uma analogia sobre isto ser feita com um baralho de cartas. Se, ao jogarmos póker, tivermos a sorte de obter um full house, dependendo do full house, poderemos até ganhar (Estou a dizer isto como se percebesse muito de póker, mas é irrelevante para a analogia); no entanto, o mesmo conjunto de cartas não terá qualquer significado para alguém que não sabe jogar póker. Pode até reconhecer o padrão entre algumas das cartas (por exemplo, três seis); pode, até, ser o meu amigo marciano, que nem sabe o que são ouros ou paus, e por isso não consegue sequer compreender o conceito de baralho de cartas, muito mais o conceito de full house e assim atribuir o mesmo valor que eu àquele grupo de cartas. Para ele, é um conjunto de cores e números; para mim, trata-se de uma sequência específica que me permite vencer o jogo.

Por outras palavras, somos muito bons a atribuir significados ou explicações ao que é sobrenatural, ou ao que é tão aleatório que parece impossível; no entanto, não estamos necessariamente a descobrir nada novo. Obviamente as laranjas não foram feitas para, ao serem espremidas, o seu sumo caber perfeitamente no meu copo; no entanto, as probabilidades de tal acontecer são tão enormes que deve haver algum significado escondido atrás de tal acontecimento! Certo?

No entanto, a probabilidade de a quantidade de sumo ser a exacta necessária para encher o copo até ao topo é, de certa forma, a mesma probabilidade de obter qualquer outra quantidade de sumo; claro que isto é limitado a algumas variáveis. Com duas laranjas, o sumo obtido nunca será 0,00003 litros, muito menos 70; mas dentro de certos limites, a probabilidade para cada quantidade é a mesma. Ao lançar um dado, as possibilidades de obter 1, 2, 3, 4, 5 ou 6 são as mesmas; mas se eu já estiver à espera de um 5, esse 5 obtido irá totalmente ao encontro das minhas expectativas e desejos. Deverei agradecer à sorte, ao dado, a um ser sobrenatural? E se tivesse saído 4, e estivesse num casino, e tivesse perdido todas as minhas poupanças?

O poder da aleatoriedade é grande, e atribuimos facilmente qualquer aleatoriedade esperada ou desejada a um plano universal, a uma entidade, ou a outra coisa qualquer; no entanto, não nos podemos deixar enganar. Se conseguir encher, com duas laranjas, um copo até ao topo todos os dias durante alguns meses (partindo do princípio que troco de copo, espremedor e marcas de laranja, de maneira a tentar eliminar todas as variáveis), então aí o Poder das Laranjas terá algum significado, e o meu amigo marciano (caramba, até eu próprio) teremos razões para acreditar que algo sobrenatural se passa no meu espremedor e na cozinha da minha avó. Até lá, nada me indica que o Universo se curvou à minha necessidade; mas também não é o fim do mundo, pois não?

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sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Um Homem chamado Destino, uma Senhora vestida de Branco

Isto só fará sentido depois de lerem o último post, "Uma Mulher chamada Ovária, um Homem chamado Destino". Se mesmo assim não fizer sentido, paciência. Coisas de autor.

A Senhora Branca não tinha idade, e à sua volta tudo era mais recente do que ela; até o mundo. Quando caminhava por uma floresta, os pássaros deixavam de cantar e os animais ferozes escondiam os dentes, vendo-a passar, iluminados como que por uma luz branca e leitosa que irradiava dos cabelos da Senhora. Era toda ela branca, mais branca que a mais branca das luzes ou o mais branco dos linhos; e trazia as mãos vazias, esvoaçando levemente ao vento e acompanhando o ritmo dos pés descalços.

A Senhora Branca entrou no quarto da estalagem, e olhou para a estranha criatura deitada sobre a cama. Havia um cheio a podridão e carne ressequida que violava as suas narinas, capazes de cheiras os mais puros aromas do mundo; e no entanto a sua pálida face de mármore mal se entortou ou estremeceu. Aproximou-se do homem esquelético, e deixou que a pálida luz branca que irradiava o acordasse do seu sono delirante.

- Senhora - disse o homem esquelético, mastigando as palavras com a língua de cortiça - Ajude-me.

- Seu idiota ignorante - disse a Senhora Branca, sentando-se à berma da cama e colocando a sua mão de seda sobre o joelho amedrontado do homem esquelético - Como te sentes?

- Água. Por favor, Água.

A Senhora Branca dobrou-se sobre um copo sujo na mesa de cabeceira e trouxe-o aos lábios finos e chupados do homem. Ele bebeu com sofreguidão, tossiu umas quantas vezes, e quase se engasgou.

- Calma - disse a Senhora, na sua voz de veludo branco - Respira. Como te sentes?

- Como se morresse.

- Assim o é, meu querido - disse a Senhora com um sorriso.

- Perdi o Destino. Senhora, perdi-o. Levaram-no.

- Bem sei. Descansa, agora. Terás tempo, mas respira e descansa. Quando acordares ainda aqui estarei.

E o homem esquelético adormeceu, e quando acordou dois dias depois estava curado e a Senhora Branca permanecia ao seu lado.

***

A pele do peito voltara a crescer, como uma crosta mole e estranha ao resto do corpo. O homem esquelético, em temos e durante eterniades chamado Destino, era agora um homem esquelético apenas. Nada restava da sua eterna personalidade.

- Sabes porque aqui vim, não sabes? - perguntou a Senhora, sempre branca e sempre bela - Deves recuperar o Destino dos Homens. Sem ele, não haverá paz.

- Foi a mulher. Ovária. Foi ela que mo tirou.

- Os Deuses estão desapontados, Destino. Muito desapontados.

- Bem sei, Senhora.

- E esperam que sejas capaz de corrigir o mal que fizeste. As consequências de uma missão falhada são demasiado desastrosas para serem sequer consideradas. Compreendes-me, Destino?

- Compreendo, Senhora. Perdoe-me.

- Visitar-te-ei em cinco dias, para saber como estás. Se até lá não tiveres encontrado o Destino, os Deuses terão de procurar outra pessoa para o fazer. Reconheces as consequências que terá o teu insucesso?

- Reconheço, Senhora.

- Vai, Destino. Lembra-te. Cinco dias.

***

Por quatro dias caminhou Destino, enrolado num manto velho e arrastando os ossos pelos caminhos. Sentia frio, sentia fome, e de Ovária nem o mais vago sinal. A mulher que o ajudara e que lhe salvara a vida evaporara-se como um sonho, levando consigo a sua pele e o seu próprio eu. O que restava de Destino, sem o destino na pele, era uma carcaça ressequida com um conteúdo mole e vísceras tremendo de fraqueza. Chovia agora, na noite do quarto dia, e a Lua alta fazia antever a meia noite. O quinto dia não demorava, e Destino, apesar da ironia, sabia que destino o esperava. Deixou-se tombar no chão da floresta, a meio caminho entre duas aldeias longínquas e tão afastadas dali que as suas fogueiras não eram mais do que pequenos pontos de luz por entre as árvores. Pensou que ia morrer, e a coisa mais bela do mundo surgiu-lhe à frente e estendeu-lhe uma mão branca e fria.

- Ele deseja ver-te - disse a Senhora Branca. O que em tempos fora o Destino estendeu um dedo chupado, e tocou na palma da mão da Senhora. A floresta desapareceu, o chão também, e tudo o que via era a mais pura das luzes divinas. À sua frente, à sua volta, por todo o lado, estava a figura gigantesca e grotesca de um leão dourado, de longa juba com todas as estrelas dos firmamentos. A boca do leão podia tê-lo engolido quando falou:

- Porque falhaste, Destino? - e a voz estendeu-se pelo mundo todo, antes de vir ecoar dentro dos seus ouvidos.

- Nem sei que lhe dizer - disse o homem que em tempos fora Destino, deixando-se aquecer pela luz branca. O leão dourado deu duas voltas sobre si mesmo, e voltou a abrir a boca.

- Falhaste. Que outros tenham melhor sorte que tu. E agora, o que pensas que te resta?

A voz do leão ocupava galáxias inteiras.

- Morrer - disse o homem que fora Destino, fechando os olhos; mas mesmo com os olhos fechados podia ver o leão infinito à sua frente.

- Os Deuses não morrem. Em tempos foste um de nós, mas uma vez falhaste e uma vez foste castigado. Agora voltaste a falhar, e segunda vez receberás um castigo. Está a tornar-se rotina, Destino.

- Peço perdão - disse o homem, ou melhor, o resto de homem - Perdão.

- Destino. Ouve-me. Não serei eu a escolher. Que vivas com as consequências do que fizeste. Voltaras a caminhar o mundo como um homem, mortal como qualquer homem, e submetido ao Destino como qualquer homem. Destino que perdeste. Adivinha o que se segue?

- O caos - disse o homem esquelético, e o leão deu mais duas voltas sobre si próprio.

- Vai, e não chames por nós quando rezares pois não te acudiremos.

E a floresta voltou, e o leão foi-se, e o homem em tempos chamado Destino levantou-se do chão e encarou a Senhora Branca.

- Sinto muito, a sério - disse a Senhora.

- Não a voltarei a ver, Senhora.

- Talvez de visite, apesar de não visitar os Homens. Quem sabe. Só os Deuses.

E com isto a Senhora Branca desapareceu também, e nunca mais o homem esquelético, em tempos um Deus, em tempos o Destino, viu uma face tão doce ou uma luz tão branca.

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quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Uma Mulher chamada Ovária, Um Homem chamado Destino

Ovária era seu nome. Não sabia bem quando nascera, se bem que nascera e apenas isso lhe importava. Toda a vida correra mundo em busca de emprego, sítio onde repousar o corpo e, quiçá, fama e fortuna. Ovária tinha uma mala, onde guardava todas as suas posses: uma escova de dentes, um desodorizante, uma garrafa de rum, e uma muda de roupa e uma velha fotografia de seus pais. O homem à esquerda tinha longas barbas castanhas, e usava um fato macaco. A mulher à direita tinha um longo vestido e cara de postura de quem ganhava a vida a apanhar cenouras. Assim era. De seus pais, sua única ligação ao passado, Ovária possuia apenas uma leve memória a sopa de cenouras e aquela fotografia amarelada e gasta.

Ovária era arredondada, curvilínea, pode até dizer-se cheia. Não que isso lhe importasse. Teve a sua quota parte de aventuras amorosas. Em Itália, namorou um moço que por ela se apaixonou perdidamente; era poeta, bêbado e de duvidosas ligações com tipos ricos de fato que dominavam os casinos da Sicília. Em Viena, cruzou-se com um homem casado que dela apenas queria a fugaz visita a um corpo diferente; correu com ele. No México, quase foi morta ao atravessar um deserto pelo homem que amava; e quando chegou ao seu destino, com a sua mala com todas as suas posses lá dentro, primeiro bebeu água e depois foi encontrá-lo deitado numa cama com outra mulher. A partir daí decidiu nunca mais sofrer ou correr por homem nenhum, nem deixar-se ser enganada por ninguém.

Pois aqui está ela. Foi cozinheira, ajudante de pedreiro, empregada num Pub inglês, lavou escadas, aprendeu a fiar, aprendeu a matar entretanto, por via da necessidade; mais vivida que Ovária será difícil de encontrar. Senta-se agora tomando um copo, e entre golos de pesado vodka russo, puro o suficiente para corar as bochechas a um lutador de boxe, olha em volta para quem a rodeia naquele bar. São duas da manhã, e Ovária tem a sensação de que por esta altura terá feito 54 anos. Não sabe, não tem como os contar; segue bebendo.

Num canto do bar, um homem de chapéu e fato negro pede outra garrafa, exige que lhe encham o copo outra vez, e mais outra, e o dono do bar grita-lhe para se pôr a andar e por favor não vomitar para cima de nenhum cliente. O homem de negro, magro, esquelético, de porte fácil de rasteirar ou partir com um empurrão certeiro, cambaleia até à porta do bar. Olha em volta, os seus olhos dois berlindes à solta, e quase pisa um cavalheiro mal vestido. O cavalheiro, de feia dentição e ombros largos como a ombreira de uma porta, levanta-se e exige explicações. Ovária bebe vodka. O cavalheiro procura agarrar os pulsos do homem magro, que se afasta com um salto cambaleante e lhe levanta o dedo médio, esquelético e fino. O cavalheiro-ombreira-de-porta sobe para cima dele, querendo parti-lo ao meio. O dono do bar sua pela testa abaixo. Ovária bebe vodka. O homem esquelético deita a língua de fora, cambaleando pelo meio das mesas. O cavalheiro -ombreira-de-porta persegue-o a longa distância, correndo o risco de tropeçar nos próprios músculos e na própria banha. Ovária bebe vodka. O dono do bar chora. O cavalheiro-ombreira-de-porta partiu várias mesas, o homem esquelético saiu porta fora, cai sobre uma poça de água, adormece. Saem bolhinhas de dentro da poça. Ovária termina o vodka. O cavalheiro-ombreira-de-porta vai esmagar o homem esquelético com um punho, mas para subitamente. O homem esquelético levanta a cabeça da poça, procurando ar. Ovária pegar na mala e sai pela porta do bar, passando o cavalheiro-ombreira-de-porta, agarrando na cabeça do homem esquelético e levantando-o pelos cabelos.

- Vamos lá ter calma com isto. O senhor - dirige-se ao cavalheiro-ombreira-de-porta, parado, como uma estátua - vá continuar a sua noitada.

Ele foi, sem perceber bem porquê. O homem esquelético agarra-se a Ovária com ambas as mãos magras e finas e diz-lhe:

- O seu destino é meu - e adormece.

***

A estalagem onde Ovária dorme com o homem esquelético é porca e barata, mas serve. O homem esquelético vomitou três vezes para dentro de um balde, e Ovária limpa-lhe a boca.

- Nem sei como lhe agradecer - disse o homem esquelético.

- Não precisa. Sente-se melhor.

- Oh sim, muito - disse o homem esquelético. Voltou a vomitar, enterrando a cabeça despenteada dentro do balde. Olha para Ovária, longamente.

- Como se chama?

- Ovária.

- Não me pergunta o nome?

- Pouco me importa.

- Chamo-me Destino, e sei o futuro.

- Ora que bom para si.

- Sou o Destino das coisas, sabia?

- Deite lá tudo cá para fora e não diga disparates.

- Queria Ovária, os seu Destino está traçado - e com isto o homem esquelético, que afinal era o Destino, abriu a camisa ao meio e revelou um peito magro e pálido, coberto de pequenos pontos unidos por pequenas e finas linhas, um mapa infinito e complexo tatuado na sua pele com uma tinta lilás. Apontou para um ponto, junto ao mamilo.

- Aqui está.

Ovária observou. Escrito a pequeníssimas letras lilases, estava um nome: Ovária.

- Sei para onde vai, como vai, e quando irá morrer - disse o Homem chamado Destino.

- Não acredito.

- Não lhe devia mostrar isto, é contra as leis.

- As leis?

- As leis que governam o Universo. São várias, complexas, escritas em letra pequenina como os contratos para comprar qualquer coisa. Tive de as ler e decorar, não foi fácil, mas sei-as todas. Não as posso dizer, não me peça. Porém, como forma de agradecimento por ter salvo a minha vida, dir-lhe-ei o que quiser do seu Destino. Pergunte, Ovária.

Ovária olhou para o peito do homem, e o seu futuro escrito em linhas assustou-a. Pareceu-lhe curto. Duas e três linhas e terminava, mesmo antes de chegar ao umbigo.

- Quando vou morrer? - perguntou, segurando o balde.

O Destino seguiu as linhas com um dedo esquelético.

- Espere - disse Ovária de repente. O Destino parou - Não quero saber.

- De certeza?

- De certeza.

- Pois como queira. Passe-me o balde - e o Destino vomitou outra vez. Quando voltou a tirar a cabeça do balde, viu Ovária à sua frente. Estendeu-lho, ela aceitou-o, agarrou-lhe pelas pegas e arremeçou-o com força. O balde embateu na cabeça do Destino com uma força tal que a abriu ao meio, como a uma melancia. O Destino caiu para o lado, tombando sobre a sua cabeça. Ovária respirou fundo, ofegantemente, surpreendida pela facilidade da sua façanha. Desceu ao andar de baixo, pediu emprestada uma faca para cortar um pedaço de pão que trouxera, e regressou ao quarto.

Ovária é seu nome, e com ela leva uma mala com todas as suas posses: uma escova de dentes, um desodorizante, uma garrafa de rum, uma muda de roupa, uma fotografia de seus pais e, ainda quente e ainda sujo de sangue, o mapa do Destino da Humanidade. O que fará com ele ela lá saberá, mas chegará o dia da sua morte antes de se atrever a olhar para as linhas lilases que correm do nome "Ovária" e que marcam o seu destino.

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segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

(um post gigantesco sobre) A crença na ciência

Em resposta ao desafio de um dos leitores deste blog, com quem tenho elucidativas e interessantes discussões sobre religião, vou aqui tentar mostrar como uma das proposições religiosas mais famosas e utilizadas é fundamentalmente errada. Trata-se do argumento "Ateísmo e ciência são crenças, tal como a crença em Deus"; é, de certa maneira, uma variante de "Ateísmo baseia-se tanto em fé como acreditar em Deus".
Vamos primeiro definir conceitos, de forma a afastar qualquer obscuridade sobre as palavras utilizadas; não só para percebermos bem o que quer dizer crença ou ateísmo quando utilizamos estas palavras, mas também porque o peso das palavras será importante para esclarecer alguns pontos.
O meu dicionário (Dicionário Universal da Língua Portuguesa, Texto Editora, 1995) define crença como fé religiosa; convicção. A minha enciclopédia (Grande Enciclopédia Universal, edição Correio da Manhã, 2004) diz-nos que crença é o "acto de crer; opinião forte, adoptada com fé e convicção; crédito que se dá a um facto ou acontecimento como seguro ou certo; fé religiosa; sinónimo de fé, credo, convicção". Por outro lado, e uma vez que vem à baila, o mesmo dicionário e enciclopédia definem fé como "crença religiosa; crença, convicção em alguém ou alguma coisa, firmeza na execução de compromissos; virtude teologal", e "crença que se dá às coisas por autoridade de quem as diz ou por fama pública; crença religiosa".

Encontramos aqui uma relação de semelhança entre ambos os conceitos, "crença" e "fé". Passemos as outros dois conceitos importantes, ciência e ateísmo.

Ciência (segundo o mesmo dicionário e enciclopédia) trata-se de um "conhecimento rigoroso e racional de qualquer assunto; corpo e conhecimentos, sobre determinado tema, obtido mediante um método próprio; conjunto organizado de conhecimentos baseados em relações objectivas verificáveis e dotados de valor universal; "conhecimento de certo das coisas, dos seus princípios e causas; investigação metódica das leis dos fenómenos". E ser ateu, o que significa? "Pessoa que não acredita na existência de Deus". Cá está. Vejamos, então.


"Para ser ateu é preciso ter fé; acreditar em Deus e não acreditar são ambas posições de fé!"

Há uma diferença enorme entre acreditar em Deus e não acreditar. A fé, vocábulo muito utilizado pelos religiosos, está intrinsecamente ligada à religião mas não ao ateísmo. Sendo a negação de uma crença, o ateísmo não só não precisa de nenhuma fé como não se baseia nela. A posição de não acreditar em Deus até que alguma prova conclusiva seja apresentada não requer fé, requer apenas o bom senso de olhar para o mundo de uma forma analítica e imparcial.

Um exemplo pode ajudar a ilustrar o que estou a dizer. Alguém concordará que é preciso tanta fé para acreditar em fadas como para não acreditar? Como em qualquer afirmação, o ónus da prova está em quem a faz; é por isso que qualquer arguido num processo judicial é considerado inocente até ser provada a sua culpa. A polícia deve construir um caso e apresentar as suas provas de forma a comprovar que um assassino matou determinada pessoa; a acusação não é tomada como facto inviolável. Se a polícia não apresentar qualquer prova relevante contra o arguido, o juiz não precisa de outra razão para o declarar inocente daquele crime, sem ser preciso que a defesa sequer se pronuncie.

Não há razões para acreditar em fadas, e é por isso que ninguém acredita na sua existência; não por ter fé que elas não existem, mas porque não há razões para levar a sua existência a sério. Eu posso acreditar plenamente que tenho um dragão debaixo da cama, mas essa afirmação será irrelevante e ignorada por toda a gente se não conseguir comprovar que o dragão existe na realidade. Neste caso, tal como no exemplo referente à defesa e acusação, quem tem de provar alguma coisa sou eu, que acredito no dragão, e não o resto do planeta, procurando provar que o dragão não existe. Da mesma forma, todas as outras pessoas não acreditarão no dragão debaixo da minha cama baseando-se em fé, apenas na falta de informações.

A mesma coisa funciona para a existência de Deus. Os ateus não acreditam em Deus pela mesma razão que não acreditam em unicórnios ou fadas (aliás, pela mesma razão que qualquer religioso é ateu em relação a todos os Deuses existentes, menos o seu): porque não há razões para acreditar. No entanto, os religiosos argumentam que Deus existe e que isso é um facto, e que por issto têm fé; na sua prespectiva, não acreditar em Deus é igualmente uma posição de fé. A sua prespectiva está errada. O ateísmo não é uma posição dogmática e inflexível. Se amanhã houver razões suficientes para acreditar que qualquer entidade sobrenatural existe, eu acreditarei sem problemas; no entanto, até lá, não precisarei de fé para não acreditar em algo para o qual não há razões satisfatórias para acreditar.
Como nota final, é de sublinhar que é possível haver religião sem ateísmo, mas não ateísmo sem religião; ateísmo é a resposta a uma afirmação baseada numa crença, e não uma crença por si só.

"Ter fé em Deus é tal e qual como ter fé na Ciência: é acreditar em algo e pensar que temos razão."

Não.
A ciência é o processo pelo qual conhecemos o mundo natural, e podemos reunir conhecimento e informação e utilizar certos dados para fazer previsões correctas. Utilizamos o método científico como forma de analisar os dados que recolhemos do mundo e organizá-los. Não se trata, portanto, de uma fé. Trata-se de compreender o mundo ao analisar os dados recolhidos de forma objectiva.
Um exemplo. A teoria da evolução por selecção natural foi proposta por Darwin há 150 anos atrás, altura em que a discussão sobre a validade da teoria foi bastante acesa. Darwin podia estar enganado. Tinha alguns exemplos e argumentos favoráveis à sua ideia, e por isso, mesmo na altura, foram muitos os que o apoiaram; no entanto, 150 anos depois, todos os conhecimentos na área da biologia, biologia molecular, genética, paleontologia ou geologia ajudam a perceber o processo pelo qual todos os seres vivos evoluíram. A descoberta do DNA, e especificamente a descoberta do seu papel único e importantíssimo na hereditariedade, veio corroborar a ideia de Darwin: todos os seres vivos têm um ancestral em comum. Estranhamente ou não, hoje temos exemplos incontáveis de fósseis que demonstram uma passagem progressiva de um ser vivo para o outro, mais especificamente a evolução lenta e adaptativa que os seres vivos sofreram ao longo de milhões de anos. Por outro lado, podemos hoje comparar o DNA dos seres vivos e descobrir que dois seres vivos têm informação genética comum, quaisquer animais que sejam, e que quanto mais próximos se encontram na árvore da vida, mais idêntico é o seu DNA.



O Archaeopteryx, um ser vivo que viveu no Jurássico (há 150 milhões de anos) e que apresenta características de réptil e ave, pelo que se pensa tratar de um exemplo bastante visual da passagem progressiva dos répteis do tempo dos dinossauros para as nossas aves actuais

Não há uma conspiração secreta a liderar estas descobertas; muito menos podemos achar que todas as ciências da vida estariam erradas na precisa proporção necessária para nos dar uma gaçsa ideia de unidade e coerência. A verdade é que olhar para o mundo natural com olhos de ver e retirar dele alguns dados, aliado à nossa capacidade de raciocínio, pode fazer maravilhas. Nada em ciência é opinião ou crença, porque nenhuma ideia sobrevive sem ser fundamentada. Um cientista que apresente uma ideia, qualquer que ela seja, e reinvidique razão, é rapidamente ignorado pelo resto da comunidade científica se não tiver provas, dados ou informações que demonstrem que a sua hipótese pode sequer ser levada a sério. Sem isto, a ciência seria uma colecção de propostas e proposições infundadas. Tudo é medido, observado, testado e repedito, ou tudo se enquadra num modelo que procura explicar qualquer fenómeno; e, por não ser dogmática, a ciência já esteve errada (e continua, e continuará a estar em algumas questões).


"Levas a ciência a sério? Seu burro. Não sabes que eles antigamente achavam que a Terra era plana? Como podes confiar no que te dizem, se estão sempre a mudar de opinião?"


Como muitos religiosos gostam de referir, muitos cientistas antigos fizeram proposições ridículas. Isaac Newton, por exemplo, acreditava na alquimia (e, a propósito, em Deus); não por Newton ser burro, mas porque na altura em que viveu a ciência evoluíra até certo ponto, e só até aí. A sua teoria corpuscular da luz, por exemplo, explicava com eficácia todos os fenómenos da luz (reflexão, refracção e decomposição da luz branca) conhecidos na altura; no entanto, alguns anos depois, a teoria corpuscular foi substituída pela teoria ondulatória, pois apenas esta explicava as mais recentes descobertas no campo dos fenómenos da luz. Actualmente, o modelo aceite é o da dualidade onda-partícula, muito diferente de qualquer outra proposição com a qual Newton alguma vez sonhara. A ciência evoluíra, e procurara explicar o mundo à medida que o mundo se ia tornando menos misterioso.

Entretanto, muitos dos erros que os antigos tomavam como factos foram e estão a ser corrigidos, e é provável que ainda mais concepções que hoje tomamos como certas sejam destruídas amanhã. Isto não invalida todo o trabalho e descobertas feitas por esses cientistas. Newton não deixa de ser um dos mais importantes cientistas da História só porque a sua teoria corpuscular da luz e as suas suposições sobre a gravidade podem estar erradas ou ultrapassadas; foi graças ao seu trabalho que as gerações seguintes, munidas desses conhecimentos, puderam fazer investigações mais abrangentes e precisas, descobrindo as falhas nos modelos sobre os quais tinham sido ensinados na escola e podendo, assim, corrigi-los para o bem do conhecimento humano.

Isto porque a ciência, ao contrário da religião, não crê. Vê, mede, analisa, e retira conclusões; e, mais importante, corrige-se a si própria. É o método científico que nos permite corrigir os modelos que, entretanto, descobrimos serem errados; em nada a crença ou o apego a determinada ideia ou teoria tem peso na busca pela verdade. A convicção pessoal de um cientista nunca pesará tanto como um dado objectivo mas contraditório.


A ciência pode ser repetida

A ciência contém outra característica importante, e que não só nos dá razões para aceitar as conclusões científicas como nos permite fazer previsões acertadas sobre o mundo: a ciência pode ser repetida. As medidas podem ser feitas várias vezes, de forma a diminuir os erros de leitura; as mesmas experiências podem ser repetidas por diferentes cientistas em diferentes lugares do mundo, com os mesmos resultados. Ao datar uma rocha, por exemplo, os cientistas utilizam diversos processos de datação. Se um cientista chinês, um australiano e um inglês chegam, por processos diferentes ou até iguais, à mesma idade aproximada da rocha em questão, é difícil acusá-los de "crer" que a idade da rocha é X; todos os dados, dentro da nossa capacidade actual de entender a realidade, apontam para a idade X. Não há razões para duvidarmos de sistemas de datação que são usados todos os dias, e que apesar de distintos e de se basearem em diferentes formas de calcular a idade de um objecto ou substância, apresentam resultados incrivelmente aproximados e de forma sistemática. Não seria de esperar que se tudo não se tratasse de uma crença selectiva ou de um erro de cálculo, os vários processos de datação chegassem a conclusões distintas?

Assim é com a evolução, já aqui referida; podia ser que os milhares de fósseis descobertos entre os dias de Darwin e a actualidade, bem como todas as informações recolhidas sobre o funcionamento da hereditariedade e dos genes, fossem contra a ideia da selecção natural. No entanto, isso não acontece. Não se trata dos cientistas escolherem acreditar na teoria da evolução; enquanto ela funcionar como modelo que explica os fenómenos biológicos e a origem da diversidade dos seres vivos, e até novas informações destruírem os seus fundamentos, a evolução por selecção natural continuará a ser o modelo utilizado. Não por crença ou fé cega e parcial, mas porque funciona mesmo quando tentamos explicar o que observamos no mundo e obter previsões sobre o que vai acontecer.

A religião, pelo contrádio, justifica a divindade dos seus Deuses e profetas com acontecimentos antigos, mal fundamentados e longe de poderem ser testados ou repetidos sob condições controladas, ou sob a observação directa de qualquer ser humano. A vida de Jesus, sobre a qual há pouquíssimas e nebulosas referências fora da Bíblia, está repleta de milagres que desafiam as leis naturais. O próprio nascimento de Jesus (e de outras figuras centrais de outras religiões mais antigas, já que não é difícil encontrar semelhanças entre as histórias mitológicas de muitas das religiões de há uns quantos milhares de anos), bem como o seu caminhar sobre a água e a sua ressurreição, sem a qual a divindade do personagem seria duvidosa, são milagres incríveis, mas nunca repetidos. Jesus investiu tempo e energia em provar a torto e a direito a sua divindade a qualquer pessoa que encontrasse pela rua, mas hoje em dia é incapaz ou recusa-se a repetir a façanha.

A crença nestes acontecimentos baseia-se na crença de um livro traduzido e copiado de língua em língua, século em século, mão em mão e motivações em motivações. Acreditar num método de datação por carbono, baseado em fenómenos conhecidos e observados da física e da química, que hoje em dia é feito diariamente sob condições controladas, e acreditar que um homem chamado Jesus voltou dos mortos há dois mil anos atrás porque uma colecção de livros contraditórios entre si nos referem tal acontecimento; são duas "crenças" ao mesmo nível? Tenham dó.

Crer na ciência é a mesma coisa que crer em Deus?


Em ciência não há certezas absolutas nem dogmáticas, mas na religião sim. Em ciência, há razões para acreditar nas coisas, e essas razões podem ser comprovadas por outras pessoas várias vezes ao dia, e sem nenhum tipo de crença prévia nos resultados. Não "acreditamos" nos antibióticos, eles funcionam mesmo. Não acreditamos nos fenómenos ópticos ou no funcionamento dos electrões; é graças a eles que temos comunicações ou satélites. Por explicar convincentemente o mundo que nos rodeia, por obter resultados práticos e em concordância com a realidade, e por se corrigir a si própria à medida que nova informação é descoberta, a ciência é e continuará a ser a única forma válida de obter algum tipo de conhecimento sobre o mundo natural.

A religião, por seu lado, mantém-se inalterada, mudando aqui e ali os seus dogmas e as suas desculpas para melhor se justificar à luz das descobertas dos últimos séculos. Basta reparar como, ao longo dos tempos, a figura de Deus serviu para explicar a origem do planeta e do Homem muito antes de estes processos serem compreendidos como sendo mecanismos puramente naturais, sem a necessidade de uma explicação divina. A explicação "Deus" é mantida para tentar justificar tudo o que, no contexto do conhecimento humano, ainda não foi explicado de outra maneira. Esta posição é uma falácia, e uma óbvia desonestidade; e à medida que nos movemos para uma sociedade que cada vez mais compreende o mundo e se compreende a si própria sem necessitar de uma justificação sobrenatural, é mais do que natural a necessidade da religião de tornar o seu Deus uma nebulosa criatura infinita e fora das leis comuns da nossa realidade. Afastando Deus do domínio do natural e do real, e por definição do investigável, colocamo-lo numa prateleira tão alta que ninguém lhe pode chegar; e assim, o religioso sente-se justificado em acreditar, porque a "crença" na ciência ainda não chegou ao seu Deus. Não há uma crença cega na ciência; e se houvesse, haveria muito mais justificações para acreditar na ciência do que em Deus. No entanto, não é a fé o combustível da ciência; é a vontade de obter conhecimento e verdade, ao invés de aceitar o que nos é dito por um livro.

O ateísmo e ciência são normalmente colocados lado a lado, porque ambos têm em comum o horror à crendice gratuita e a vontade de "acreditar", e levar em conta apenas aquilo em que há razões para ser levado em conta. A ciência é, portanto, diferente da religião. Não garante ser possuidora da verdade absoluta, muito menos afirma que aquilo que "sente" ou "acredita" são factos inegáveis; e, principalmente, a ciência não tem problemas em admitir que está errada quando está errada, procurando imediatamente corrigir esses erros sem vergonhas ou receios de perder credibilidade.

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domingo, 7 de fevereiro de 2010

O pior e-mail "Faz já o teste para revelar a tua personalidade e veres um desejo ser realizado!" de sempre!

Recebi este e-mail há algumas horas, e achei que em vez de o reencaminhar para todos os meus contactos e facilitar o contágio mundial deste tipo de mensagens chatas e inúteis, deveria partilhá-lo convosco.

É uma daquelas mensagens com meia dúzia de perguntas, supostamente para descobrirmos a nossa mais íntima personalidade. Contém todos os clichés nossos conhecidos, incluindo a "Que animais gostas mais?" e "Se não enviares isto a 30 pessoas terás muito azar na tua vida amorosa". Vou transcrever algumas partes, mantendo todos os erros ortográficos e maiúsculas deslocadas existentes no e-mail original. Só para verem como estes e-mails são sérios.

Uma das perguntas:

Preferes trabalhar onde?

- Nas obras
- Em Medecina

O que revelará esta resposta sobre a minha personalidade?

Nas obras - és uma pessoa inculta
Em Medecina - és uma pessoa culta

Eu escolhi "Em Medecina", o que quer que medecina seja. Isso deve significar que sou bastante culto. E vocês?

Outra pergunta:

O que preferes?

- Estar com os amigos
- Estar sozinho em casa

Respostas?

Estar com os amigos: és uma pessoa Social
Estar sozinho em casa: és uma pessoa anti- social

O tempo que o autor deste e-mail deve ter gasto a construir estas perguntas e respostas deve ter sido enorme. Vê-se logo pela complexidade e variedade das opções de escolha. Passemos a uma terceira, que demonstra como o autor foi não só meticuloso, mas também possuidor de impressionantes capacidades adivinhatórias.

que sitio Gostas mais?

- Cidade
- Campo

As respostas:

- Cidade - gostas de sitios movimentados
- Campo - gostas de sitios calmos

E, terminando,

Diz o nome de uma pessoa do teu sexo.

Essa pessoa vai te ajudar sempre no futuro

A esta última respondi "Brad Pitt". Como ele me vai ajudar no futuro, não sei.

Escusado será dizer que abomino que me encham a caixa de e-mail com estes disparates. Ao menos este foi engraçado, pela óbvia preguiça com que foi escrito.

Têm recebido e-mails divertidos como estes, e que vos retiram tempo útil de vida? Partilhem connosco em forma de comentário.

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