segunda-feira, 28 de maio de 2012

O filósofo e o elevador


- Sabes, elevador, em Física aprendi sobre um conceito chamada “caminho percorrido” – disse o filósofo ao elevador. O elevador, que nunca tinha sido interpelado antes, alinhou os cabos para melhor ouvir o filósofo.

sábado, 26 de maio de 2012

Associação Portuguesa de Pessoas Indignadas


O Trajectória Aleatória está solidário com os tempos de crise. Nunca houve tanta gente indignada como nos dias que correm; e, acima de tudo, nunca a indignação em massa permitiu tantas mudanças na sociedade. Talvez por isso seja importante falar com Calisto Pires, Presidente da Associação Portuguesa de Pessoas Indignadas.


sexta-feira, 25 de maio de 2012

Associação de Ciborgues Portugueses


Um ciborgue foi ontem à noite à Fundação Champalimaud contar a sua história (clique aqui para ler a notícia). As pessoas não sabem, mas antes de Neil Harbisson ser reconhecido como primeiro ciborgue na História já existiam muitos como ele. Onde? Em Matosinhos, pois claro. Foi lá que nasceu a Associação de Ciborgues Portugueses. Sempre na vanguarda das coisas que estão em vanguarda, o Trajectória Aleatória foi entrevistar Mourato Sousa, ciborgue sócio-fundador da Associação.


Medley de Personas # 2


Jonas, o anão

Jonas, o anão, estava sempre muito em baixo.


quinta-feira, 24 de maio de 2012

Comprei um unicórnio


Quando comprei o unicórnio um amigo avisou-me logo para ter cuidado com os arco-íris pastosos. Como era um tipo um bocado chato decidi ignorá-lo, como aliás ignoro todos os amigos quando estes fingem perceber mais de alguma coisa do que eu. Neste caso enganei-me; ele percebia mesmo de unicórnios. Certo dia cheguei a casa e chamei:

- Pégaso?

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Humor negro + cérebro à mostra + bebé = perda de leitores



Sobre o que é uma das mais lidas notícias do dia? Economia, finanças, crise europeia, futebol? Não;  massa encefálica à mostra. A notícia tem o prometedor título: “Facebook pede desculpa a pais depois de retirar imagens do filho que nasceu com malformações”.

O Homem que Vomitava Estereótipos


O Homem que Vomitava Estereótipos acordou um dia sem qualquer percalço: sentia-se de tal maneira saudável que expelir pessoas pela boca era a última das suas preocupações. Abriu a janela, foi até à cozinha preparar um pequeno almoço nutritivo, entrou na casa de banho para preparar o duche e vomitou um bispo.

terça-feira, 22 de maio de 2012

O verbo "arrefinfar" e seu poder


Arrefinfei até casa depois das aulas e o meu pai, todo arrefinfado, arrefinfou que notas arrefinfara eu recentemente. Logo por azar a professora arrefinfara-me um Não Satisfaz na composição de português, o que me arrefinfara pra caraças. Todo arrefinfado e cabisbaixo, arrefinfei devagarinho o relatório escolar de dentro da mochila e arrefinfei-o ao meu pai. O meu pai arrefinfou o papel e as bochechas arrefinfara-se-lhe todas de vermelho, totalmente arrefinfado. Arrefinfou-me na bochecha e eu, arrefinfando para trás, arrefinfei umas lágrimas gordíssimas e um grande choro.

- Que nota é esta? – arrefinfou-me ele.

- Arrefinfei o meu melhor... – arrefinfei-lhe eu, quase a chorar. E ele pimba, lá me arrefinfou outra vez no queixo. Fui arrefinfado para o meu quarto, de castigo, e só arrefinfei uma peça de fruta depois da minha mãe arrefinfar a casa e me arrefinfar no quarto. Ela ao menos não se arrefinfava tanto como o meu pai.

Ainda não arrefinfei bem por que raio não arrefinfei uma melhor nota na composição. Olha, que se arrefinfe... 

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Anda comigo ver banalidades


O que mais agrada no novo sucesso de Verão, “Anda comigo ver os aviões”? Será o vocalista inapto, incapaz de atingir as notas mais agudas da canção sem roçar a rouquidão? O convite repetitivo (vamos ver isto, vamos ver aquilo, agora vamos ver aquele outro)? O pressuposto de que ver carros a queimar pneus é romântico? Será a pieguice desmedida de “Nem que eu roube a Lua só para ti”? Ou, talvez, o refrão em que o sujeito poético diz que “Um dia vou jogar à bola”, “Um dia pego na pistola” ou “Um dia eu ganho a lotaria” como forma de expressar o quanto ama a “mulher” em causa? Quiçá falta-me alguma sensibilidade. Parece típico da música contemporânea expressar-se agora nestes termos muito naturais, muito directos, muito “bonitos”, onde a figura de estilo é substituída por “Tu sabes o quanto eu te amo” e outros versos de invejar Tony Carreira. Ter critério e satisfação: ora aí está uma incompatibilidade.   

Nada é inocente: metáfora na obra de Quim Barreiros




Barreiros como paradigma artístico popular

Nada mais significativo aconteceu no panorama musical português do último século que o surgimento de um grupo de artistas especializados num tipo de expressão musical mais simples e popular. Um deles, sem dúvida um dos mais bem sucedidos, reúne em si características físicas que o tornam familiar a todo o português: o sorriso maroto, o chapéu, a estrutura encorpada mas de reduzido tamanho, o profuso bigode: Quim Barreiros, mais que um criador musical, é uma persona.

O Mark e Eu


Estava eu a dormir tranquilamente quando o telemóvel começou a tocar. Atendi: era o Mark.

- Estou, Renato?

Sempre odiei a forma como pronunciava “runâutô”.

- Sou eu, sim. Qué que queres? Estava a dormir.

- Ouve-me.

E começou a chorar. Disse-me que estava à espera da minha prenda de casamento, que ainda não tinha chegado à Califórnia. “Fogo”, pensei eu, levantando-me da cama com um salto. Esquecera-me completamente de pôr o vaso de porcelana no correio. E agora?

- Mas a coisa não chegou aí? 

- Qual coisa? – fungou o Mark.

- Comprei-te um vaso de porcelana lindíssimo – disse eu, a olhar para o embrulho em cima da mesa da sala – Sacanas dos gajos do correio!

- Nunca pensei que a minha amizade significasse tão pouco para ti – disse-me ele, toda ofendida.

- Eu compenso-te, pá. Dá-me uns segundos.

Pousei o telemóvel, fui até ao Facebook e criei uma página dedicada ao Trajectória Aleatória. Mandei-lhe o link por e-mail. Voltei ao telemóvel.

- Ora vai lá ao teu e-mail.

Ele foi e voltou.

- Eia, oh Renato. A sério. Que honra! Obrigado! Obrigado!

- Tem calma, pronto. Vá, beijinhos à Priscila.

- Priscila, o Renato manda-te beijinhos! - pausa - Ela manda-te um beijinho também.

- Vá, adeusinho.

Desliguei e fui dormir. 

Cuidado com os anarquistas!



Um grupo de anarquistas sofreu (qual vilão do 007 impedido de destruir o mundo como o conhecemos) um forte golpe no seu plano maquiavélico: atirar ovos a todas as sedes partidárias. Acertaram na do BE e na do CDS-PP mas falharam as restantes porque a Polícia os interceptou. Agora, antes de começarmos a gozar com a desorganização dos anarquistas há que pensar em como o seu plano era complexo. Exigia:

- Ter ovos

- Encontrar cinco edifícios

- Fazer pontaria

- Acertar com ovos nos edifícios

Conseguiram-no em dois, faltaram três; não pode ser considerado um sucesso retumbante, mas também pedir mais a sete dezenas de rebeldes armados seria um exagero.

domingo, 20 de maio de 2012

As mulheres


Bateram à porta e soube logo que era ela, a sacana. Tinha saído a chorar com a mala ainda meio aberta, de cuequinhas cor de rosa a arrastarem-se ao vento para dramatizar a arrumação apressada e uma fungadela para resumir, com o ranho sorvido, aquelas emoções todas à flor da pele e que agora queria interiorizar. Deixei-a ir; fiquei obstinadamente quieto e de olhos na janela enquanto ela se vitimizada e enfiava a roupinha na mala. Ouvia-a chorar e suspirar banalidades, quem sabe um pedido de desculpas todo muito sincero.

sexta-feira, 18 de maio de 2012

O Paradigma do Astrólogo


Vamos ser claros: toda a gente está igualmente sem qualquer pista sobre como lidar com a actual situação mundial. Todos concordaram em chamá-la de “crise” e insistem em repetir os mesmos chavões: é preciso crescimento, o desemprego é feio, há que estimular a economia. Em suma: é preciso uma “mudança de paradigma”; o que é o equivalente político e económico às respostas que encontramos nos horóscopos.

segunda-feira, 14 de maio de 2012

A estrada


O carro fora moderno antes de ambos terem nascido e estava prestes a desfazer-se há demasiado tempo. Ainda assim rondava aos tremeliques, a luz do óleo a piscar indiscriminadamente, o velocímetro avariado, a porta que só fecha quando é atirada como o portão da quinta. E é um orgulho: as pessoas param e vêem-no passar com  aquela curiosidade bacoca de quem assiste a um desfile de Carnaval.

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Deambulatório




Dei por mim numa rua longuíssima, aos ziguezagues, cheia de poças por entre os solavancos que as raízes das árvores davam ao chão. Procurei não molhar os pés: estava gelado. A chuva que caíra até há uns minutos atrás deixara o céu cinzento, abaulado; e viera gordíssima, a sacanear os transeuntes que não contavam com ela. Eu incluído. Mas segui em frente sem remorsos nenhuns: há qualquer coisa de melancólico mas belo em caminhar por uma rua molhada, ouvir o chapinhar das coisas e a mecânica dos carros transformada em salpicos transtornados.

sexta-feira, 4 de maio de 2012

O Trajectória Aleatória foi ao Pingo Doce


Boa tarde. Ora, diga-me lá como lhe está a correr a tarde.

Meu amigo, isto é um escândalo.

Então?

Acabaram-se os iogurtes. 

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Medley de Personas #1


A Mulher que não Sabia que era um Homem


A Mulher que não Sabia que era um Homem foi ao ginecologista pela primeira vez e a coisa não correu bem.