sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Momento de Poesia: Roberto e Liliana, Uma História de Amor

Roberto e Liliana
Conheceram-se a dançar
Num cruzeiro em Havana
Numa noite de luar
A paixão foi radical
Rapidinha, colossal
Olhavam-se nos olhos
Não demorou a perceber
Que Roberto e Liliana
Estavam destinados a ser
Um casal muito feliz
E logo passados anos
Liliana teve um petiz
E Roberto descontente
Porque era inteligente
Deu a volta à lembrança
Começou a questionar
O porquê da carapinha
E da pele escura da criança
Fez-se logo um teste
“Minha esposa, que fizeste?”
Pergunta Roberto, a chorar…
E ela, a olhar
Sem sequer pestanejar
Diz: “O filho não é teu”
“Um dia destes me apeteceu”
“Viver uma aventura”
“E depois de acordar”
“E de ir ver o correio”
“Corri de langerie para a rua”
“Fui dormir com o padeiro”

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Conto erótico de Verão

Dispo-a de cima abaixo e arranco-a da maldita roupa que a aprisiona. Encanto-me ao olhá-la, ali, despida e ao natural, todos os seus poros em êxtase e à mostra, a tatuagem que lhe cobre o ventre a dizer MARIA.
Maria… o seu nome provoca-me calafrios. Olho para ela e, adivinhando o prazer que se seguirá, não consigo aguentar mais. Ela, provocadora, olha para mim em tom sugestivo, como quem diz “Possui-me, devora-me à força, morde-me toda”.
Não espero mais. Agarro nela e seguro-a com força masculina, viril, enquanto abro o frasco de chocolate. Lá dentro o licor desejado, quente, pronto a ser banhado pela pele de Maria… Seguro-a nas minhas mãos enquanto a besunto de chocolate, sem medos, sem hesitar. Ela tremula, em êxtase, e deixa-se levar pelo prazer que a invade, que me invade a mim.
Devidamente besuntada, olho agora para ela e nunca Maria me pareceu mais bela. Dobro-a sobre si mesma para que o chocolate não escorra do seu corpo nu e trémulo de prazer, e abro a boca, solto um gemido ao sentir a minha língua no chocolate que a cobre e devoro-a logo ali, à bruta, à força, enroscando-a na minha língua e sentindo o seu sabor latino.

(créditos adicionais para quem perceber o segundo sentido do texto. Favor não revelar nada em comentários, já agora.)

terça-feira, 27 de novembro de 2007

Mononucleose contada às crianças

Texto escrito durante uma longa semana fechado em casa por causa de uma mononucleose. Relato emocional da existência reduzida a Benurons:

Levanto-me outra vez de manhã como se tivesse levado com um camião em cima. Dói-me o corpo todo, as articulações, os músculos, provavelmente os ossos e a superfície cutânea. A vontade de abrir os olhos é pouca, mas a porcaria da janela ficou aberta ontem a noite e tenho de me levantar para fechar a persiana e voltar para o suado e patogénico ambiente carinhosos dos cobertores. Ergo-me a tremer de frio, enfio uma camisola, vejo que ainda são umas oito da manhã; como terei ainda mais uma semana para estar em casa sem fazer nada, decido fechar a janela e não me levantar, pelo menos para já.

Enrolo-me como um bebé nos cobertores. O tédio, as horas a passar e o tresandar ao próprio suor são tudo boas razões para me afogar no bidé, ou meter a cabeça no fogão; mas hoje não. Talvez amanha. Hoje ainda tenho aquelas repetições dos Simpsons que já vi umas cinco vezes, e aquelas repetições do Dr. House, e mais as repetições daqueles filmes que dão todos os sábados na TVI. Com tantas oportunidades para viver mais um dia de absoluto sedentarismo, cansaço e preguiça, para quê o suicídio? Nos tempos que correm, muito boa gente vendia a própria mãe para terem férias de tal envergadura. Para faltar aos testes e ainda ter a mãezinha à perna, a perguntar se queremos um cházinho. Por respeito a quem trabalha, tenho de me esforçar ao máximo para viver mais um dia nesta letargia doentia, pelo menos mais um dia!

Agora estou outra vez com febre. Ou talvez não, já nem sei. Fartei-me de ter de meter um aparelho electrónico no sovaco de cada vez que me sinto febril. Que se dane, se estiver com febre devo sentir, certo? E das duas uma, ou fico com um calor brutal e começo com divertidas tonturas que me empurram contra as paredes ou me fazem a cabeça girar de cada vez que me levanto, ou acordo (como agora) a meio da noite, a tremer de frio, a ouvir as minhas próprias articulações a ranger, a ouvir a sinfonia do meu maxilar inferior a bater nos dentes de cima como aquelas castanholas sevilhanas. Engulo o comprimido, volto a meter-me na cama previamente coberta de cobertores. Já não é uma cama, é um protótipo de loja de mantas. Tento adormecer, não consigo. Toco estupidamente no meu nariz e sinto-o frio. Penso com um sorriso que talvez já esteja cadáver, pelo menos só no nariz. Penso que se a Rita ali estivesse já me estava a levantar as pálpebras para ver se estou amarelo nos olhos. Ou que se a Vanessa aqui estivesse me diria que não estou nada em condições de ir para a escola, não sejas maluco, e tu vê lá se tomas os comprimidos! Onde está a tua mãe? Tá aí contigo? Diz-lhe que… etc, etc, etc. Ou se aqui estivesse a Ana já estava a fazer uma careta, a dizer “Opa, que coisa, e agora? Estás bem? Não estás pois não? Eu sei que não, eu tenho um sexto sentido para essas coisas… Ai, Renato, a sério, fala comigo, estás bem?”. Ou talvez o Luís, com a sua guitarra, a cantar-me alguma balada sobre enfermeiras sensuais. Ou o Tiago, a fazer um striptease masculino, o que juntaria à minha lista de sintomas a vontade de vomitar. Mas eles não estão aqui. Estão dali a nada a entrar para as aulinhas, todos felizes. Imagino-os vestidinhos de igual, sorridentes, de mãozinha dada, a saltitar para a escola, a cantar “Que bom que é, que bom que é estar na escolaaaaa!”. Deve ser, imagino que sim…

Quero sair daqui. Nem é pelo frio, nem pelo tremer, nem pelas tonturas, nem pelo sabor da porcaria do benuron pela língua abaixo. É porque quero simplesmente sair daqui. O mundo lá fora continua e eu aqui, parado. Como se para mim o tempo estivesse com prisão de ventre, não fizesse o que tinha a fazer. Estivesse sentado na sanita à espera de poder sair dali mas por qualquer razão não poder…

Estou aqui preso. Preso por quatro paredes, preso por quinze cobertores, preso por um bicho qualquer que tem a lata de me andar a infectar sangue abaixo. Como se eu fosse pessoa de dar essas confianças a vírus. Não há direito.
Vou-me levantar, devagarinho. Fazer um cházinho, quiçá. Ver se fico melhor.

Será que é hoje que me afogo no bidé?

domingo, 25 de novembro de 2007

Momento de Poesia - "A Incontinência"

“Não sejas maltrapilha!”

Diz a gota prá virilha

Escorrendo pelo pénis

Do pobre incontinente

Que, molhado, descontente

De calça repleta de urina

Exclama: “Oh Marina!

Esqueci a fralda na gaveta!”

“Bem feita, seu jarreta!”

Riposta Marina, comovida

Exibindo-se, atrevida

À janela de seu quarto