terça-feira, 19 de abril de 2011

Vamos pensar com profundidade

O Trajectória Aleatória, na sua tentativa de retomar o ritmo e qualidade a que habituara os seus leitores, decidiu convidar o Dr. Augusto Fonseca e Cunha, filósofo e especialista em coisas profundas que nos fazem pensar, a redigir alguns textos que aqui serão reproduzidos na forma da nova rubrica, “Vamos pensar com profundidade”.
É com gosto que aceito este convite do Renato. Ele é um rapaz excepcional, e daria um excelente filósofo de largasse essa sua constante mania de se dedicar a outras coisas. Poderia seguir o meu exemplo, e sentar-se em casa simplesmente pensando sobre as coisas. Com certeza chegaria a conclusões profundas e úteis. Um exemplo: a cor do seu blog está desactualizada, e é pouco estética. Não necessitei de qualquer ferramenta sofisticada de lógica moderna para chegar a esta conclusão. Nem precisei de premissas nenhumas. Parece-me elementar e lógico, cristalino e límpido na sua evidência. Enfim, ninguém é perfeito, e sem dúvida que Renato Rocha é um vivo exemplo disso.
Decido começar esta minha parceria com este blog com uma reflexão sobre aquele que é um problema ignorado pela maioria das pessoas e sobre o qual reflicto deste 1987 com frequência. Publiquei sobre ele, aliás, um artigo na Filosofia Moderna, uma revista maravilhosa, culta, bem trabalhada, e da qual, por coincidência, sou editor-chefe. Dediquei também largas horas de palestras e debates a esta questão, entre elas uma discussão verdadeiramente acesa com um filósofo americano chamado Dennis Hoothwood, um indivíduo claramente sensível e consciente das suas limitações. Chegou a elogiar-me a argumentação, dizendo-me que nunca se apercebera de umas quantas falácias que alimentavam a sua forma de pensar há anos. É o que dá meterem-se comigo quando estão em causa questões às quais dedico profunda reflexão desde 1987.
Cheguei, até, a fazer uma palestra sobre este tema numa escola de filosofia brasileira onde, como sabemos, toda a gente se dedica a sambar e a beber caipirinhas. Procurei explicar ao pobre coitado que me fez uma pergunta tola que estava errado, mas ele insultou-me e acusou-me de estar equivocado numa série de pontos. Pelo sim pelo não, e porque a sua argumentação era falaciosa, pedi para que lhe fosse desligado o microfone. Esse incidente ficou marcado na minha memória como uma das razões por que não quero nunca voltar a fazer palestras em escolas. Os jovens hoje em dia não querem perder tempo a pensar no tipo de tema que me proponho explorar. E, além disso, não desligam os telemóveis antes de entrar nos auditórios. Não seria a última vez que os meus silogismos, compostos ao longo de uma reflexão constante que se estende desde, digamos, 1987, eram interrompidos pelo refrão de uma tal Lady Gaga a cantar sobre um dito Alexandro. Não que tenha algo contra a música Pop, simplesmente não a ouço e acho-a pavorosa. Não pretendo com isto julgar ninguém, nem sublinhar a minha superioridade intelectual a alguém que retira prazer em investir o seu tempo ouvindo uma mulher que se veste de forma deslocada. Apenas dizer que a música Pop é um fenómeno recente, facilmente explicável por uma série de factores sobre os quais tenho vindo a reflectir com gosto e afinco nos últimos anos e sobre os quais publicarei, em breve, longas e esclarecedoras reflexões na antologia de artigos filosóficos da Universidade de Oxford.
Poderei ser acusado de tudo, menos de intolerância; e penso que a defesa do meu ponto de vista em relação a este tema será prova suficiente de que não sou, de todo, um homem pouco razoável. Considero-me, com modéstias à parte, a pessoa mais razoável que conheço. Foi, aliás, um dos elogios que me foi feito no discurso do Presidente da Associação de Filósofos Luso-Brasileiros, pouco antes de me ofertar o galardão de Filósofo da Década. Agradeci, claro, e referi o nome dos outros nomeados e de todos os filósofos que, neste preciso momento, estão ocupados com coisas do dia-a-dia e por isso não se dedicam, como eu, a reflexões verdadeiramente profundas. Talvez por isso fosse eu o Filósofo da Década, e não eles. Talvez porque as minhas ideias, como as que me proponho a defender neste artigo, valem por si só, sendo a minha intervenção na busca incessante pelo conhecimento total apenas uma mera contribuição, ainda que imprescindível, para o bem de todos. Não me vejo como Filósofo da Década, ou mesmo do Século (como alguns colegas meus, a quem costumo dar espaço na minha revista, gostariam de defender). Vejo-me simplesmente como um homem que ama o conhecimento, e o busca. Que será a filosofia senão isso? A mim pouco me importa ser de facto superior a muitos dos meus colegas em intelecto e cultura. Isso tira horas de sono a eles, e não a mim. A única coisa que me tira horas de sono é a reflexão profunda, em dias em que me preparo para chegar a qualquer tipo de conclusão elegantíssima sobre o Universo.
Foi com gosto, portanto, que primeiro reflecti, e seguidamente escrevi este artigo para o blog do Renato Rocha. A todos os leitores os meus mais cordiais cumprimentos, e espero que voltem a ter o prazer de me ler em breve. Aqui neste blog, ou quem sabe numa das sete revistas para as quais contribuo com regularidade; ou mesmo através do meu best-seller internacional sobre a vida provada de Kant e a sua relação com o existencialismo pós-empirístico. É uma temática de vanguarda; aliás, penso ser o único a reflectir com afinco sobre o assunto.
É com reserva que me despeço. Os melhores cumprimentos,
Dr. Augusto Fonseca e Cunha, Filósofo da Década, Especialista numa Série de Temas e Comentador Generalista para a Imprensa e a Televisão.

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