Harry Potter saíra da escola há apenas alguns meses, e enquanto procurava emprego aproveitou para tirar umas merecidas férias. Derrotar o maior feiticeiro de sempre tirara-lhe energia e, principalmente, tempo para cuidar de si próprio; por isso foi até à Multiopticas e trocou os seus óculos de armação por um par de lentes de contacto. O desconto igual à idade, habitual em todos os anúncios com o Eusébio, não se lhe foi aplicado. Pagou em Galeões, recebeu o troco em euros e deixou a empregada da caixa a duvidar da legitimidade daquelas moedinhas de ouro.
Levava a varinha no bolso, só para o caso de haver chatices. Quando se passa a infância a combater as forças do mal é complicado largar certos hábitos. Sabia-lhe bem o passeio. Desceu até ao Marquês de Pombal, apanhou o metro, e quando ia a chegar à Avenida um homem enorme, vestido de preto e com um capuz na cabeça, entrou na mesma carruagem que ele. O reflexo foi rápido demais; além disso, mal conseguia ver por entre as lentes recém adquiridas.
- Patronus! - gritou, com a voz decidida. O veado prateado saiu da sua varinha cavalgou pela carruagem do Metro, acertando no homem alto que começou a chorar e se atirou para o chão. Uma senhora desmaiou, outra começou a gritar. Harry Potter procurou pedir desculpas, mas ninguém o ouviu. O metro chegou aos Restauradores e Harry Potter saiu da carruagem como quem não quer a coisa.
Na estação dos Restauradores preparou-se para apanhar o comboio que o levaria de volta para a realidade a que se habituara. Enquanto olhava em volta à procura de indicações, tentando perceber onde raio estava o pilar que separava a plataforma 9 da plataforma 10, dois seguranças enormes subiram as escadas do metro, seguidos pelo homem alto vestido de preto. O homem apontou para ele, gesticulando, e os seguranças começaram a correr na sua direcção. Assustado, Harry Potter deu um salto para dentro da primeira carruagem que encontrou, segundos antes de as suas portas se fecharem e iniciar a marcha.
Respirou fundo ao ver os dois seguranças tentarem mas não conseguirem entrar no comboio. Suava. Sentiu a sua varinha dentro do bolso, e acalmou-se. Escolheu um lugar, e agarrou numa cópia abandonada do Destak.
Ia a meio do Sudoku de três estrelinhas quando um revisor se aproximou e lhe pediu o bilhete com voz autoritária. Harry Potter empalideceu, envergonhado. Esquecera-se de comprar o bilhete.
- Não tenho bilhete, mas saio já na próxima estação.
O revisor olhou para ele de alto a baixo.
- Está a brincar comigo?
- Não, claro que não. Ouça, eu tive de entrar no comboio porque estava a ser perseguido.
- Por quem?
Harry Potter ia responder, mas se dissesse que era procurado pela segurança do metropolitano os seus problemas duplicariam.
- Por um louco qualquer que me queria roubar. Era com certeza drogado.
- O seu nome, por favor - disse o revisor, preparando-se para passar uma multa, quando um grupo de cinco jovens com mau aspecto entrou na carruagem. Vinham a ouvir música alta, vestiam roupas largas e caras, gritavam sem vergonha palavrão atrás de palavrão e tratavam-se mutuamente por "brotha". O comboio chegou a uma nova estação, e o revisor pareceu mudar de ideias, saindo apressadamente. Harry Potter ia segui-lo, mas não conseguiu sair a tempo.
- Oi! Puto! - disse o vozeirão de um dos jovens. As portas fecharam-se. O comboio recomeçou a andar.
- Sim, tu aí! Parou! - gritou outro dos jovens. Aproximaram-se.
- Olá - disse Harry Potter.
- Chiu. Passa para cá o telemóvel e a carteira.
- Não tenho nada.
- O caraças. Passa para cá tudo. Tens dinheiro?
- Tenho, mas só alguns Galeões - Harry Potter tirou algumas moedas do bolso, e estendeu-as aos jovens.
- Isso são moedas de chocolate. Brotha, esse gajo tá a gozar ca tua cara - disse um dos jovens, mais atrás.
- Tás a gozar ca minha cara ou quê?
- Ou quê - respondeu Harry Potter. Que se lixe, pensou ele. Agarrou a varinha dentro do bolso.
- Vais ficar sem dentes, filho duma ganda... - começou um dos jovens. Harry Potter tirou a varinha do bolso, houve um estalo que ecoou pela carruagem e os três jovens mais à frente foram atirados contra as portas de entrada.
- Que merda é esta? - gritou um dos jovens não atingidos, olhando para o pau que Harry Potter segurava à sua frente.
- Saiam daqui. E larguem a mala dessa senhora - disse Harry Potter, apontando a varinha para um rapaz que puxava pelas alças da mala de uma senhora gorda e a choramingar.
- Puto, tás tão fedido. Donde és? Andas em que escola?
- Hogwarts - respondeu Harry Potter. O jovem não percebeu, e a varinha soltou outro estalo. Os dois rapazes que ainda estavam de pé cairam de costas. O comboio chegou a uma nova estação, e Harry Potter guardou a varinha e saiu. Um agente do Ministério da Magia esperava-o junto a uma máquina que vendia Kit Kats e refrigerantes.
- Harry James Potter, permita-me que o leve para as nossas instalações. Incorreu numa grave infracção ao fazer magia em frente a um total de 18 Muggles.
- Eu sei. Foi em legítima defesa.
Uma rapariga passou por eles enquanto falavam, parou subitamente, olhou para a testa de Harry Potter, e começou a respirar muito depressa.
- Olha... Desculpa... - disse ela, de cabeça baixa - Tu és... O Daniel Radcliffe?
- Hum? - respondeu Harry Potter.
- Oh meu Deus. Oh meu Deus. Que cena. Eu sou, tipo. A tua maior fã- a rapariga procurou ar, ofegante. Dobrou-se sobre a mala, retirou um telemóvel - Posso tirar-te uma fotografia? Melhor! podes tirar uma fotografia comigo? É para pôr no Facebook. Ninguém vai acreditar, ninguém! O Daniel Radcliffe na linha de Sintra!
O agente do Ministério da Magia olhou em volta, não viu ninguém, e agitou a sua varinha. a rapariga parou de se mexer, paralisada, de olhos muito abertos e vazios de conteúdo. Amanhã não se vai lembrar de nada.
- Venha comigo - disse o agente, e Harry Potter seguiu-o perguntando-se quem seria esse tal Daniel Radcliffe. Quando chegasse a casa ia perguntar à Hermione. Ela deveria saber.
.
2 comentários:
Tá muito fixe! Podias continuar!=P Sabes que coisas sobre o Harry Potter eu gosto!=P Bjo
Hilariante!
Enviar um comentário