- … ço – disse eu – Uou, o que foi isto?
- Também senti. Foi como se deixasse de existir durante 48 horas – disse Namor.
- Fiquei mal disposta – resmungou Lilith.
- Vamos ver Poseidon, então? – insistiu Jack.
Fomos mesmo. Poseidon estava sentado no seu enorme trono, de pernas esticadas pelo chão e com um livro aberto em cima da barriga chamado “As Sete Leis da Auto-confiança – Como sentir-se maravilhoso mesmo quando tem todas as razões para se sentir miserável”, de uma tal Dra. Eneidra ou que é. Quando entrámos, Poseidon pousou o livro e saudou-nos.
- Meus caros! Aproximem-se, por favor. Tenho óptimas notícias para vocês.
- Encontrou a Rose! – exclamou Jack.
- Ainda não, mas estamos num bom caminho. Smith, meu caro, tal como lhe prometi: terá um escritório maior, a que chamaremos Departamento de Relações Diplomáticas e Resolução de Conflitos Extra-Aquáticos e Extra-Oceânicos.
- Isso não terá uma sigla, para facilitar? – perguntei. Poseidon pensou por momentos.
- DRDRCEAEC.
- Oh meu deus.
- Foi o nome que encontrei para melhor definir as tuas funções.
- E que é isso de resolução de conflitos?
- Só para o caso de haver alguma questão que envolva seres enviado a outro oceano ou a outro país, para resolver algum problema de política externa.
- Então porque não chamar ao departamento qualquer coisa como Relações Internacionais? – sugeriu Namor.
- Ou Departamento de Relações Internacionais, Aquáticas e Extra-Oceânicas – sugeriu Jack.
- Departamento de Relacionamentos Intra e Extra Aquático-Oceânicos – experimentava Poseidon.
- Departamento de Relações, Resolução de Conflitos e Diplomacia Generalizada de Relações e Resoluções Extra Supra Inter Aquáticas – disse um gordíssimo atum, assistente de Poseidon.
- Prefiro Departamento de Relações Extra-Aquáticas, para simplificar – pedi eu. O atum pareceu destroçado por a sua sugestão ter sido ignorada.
- Concordo – disse Poseidon – Falemos de coisas práticas. A tua primeira missão como chefe do departamento será ir com o teu amigo Jack e com a tripulação de que necessitares encontrar a tal Rose.
- Poseidon… - Jack começou a choramingar – Obrigado… Nem sei como lhe agradecer!
- Agradece a Smith e à sua chantagem desavergonhada – respondeu Poseidon – que, aliás, é importante referir. Smith, sei que não foste tu quem fez a denúncia anónima aos jornais, o que demonstra da tua parte um corajoso e, devo dizer, surpreendente cumprimento da palavra de honra. E mesmo que tivesses sido tu o desbocado, tudo seria pelo melhor. Este escândalo fez-me enfrentar como nunca o meu verdadeiro eu, e compreender que estava na altura de mudar a minha vida. Considera, portanto, as nossas boas relações mais do que retomadas. E desculpa aquilo de te ter acertado com o tridente na barriga.
- Ora essa – respondi. Estava surpreendido. Poseidon parecia confiante, determinado, corajoso. Não devia vir ali uma boa coisa.
- E essa viagem, para quando é? – perguntou Jack, entusiasmado.
- No próximo episódio! – anunciou o atum.
- Chega de referências aos episódios, caramba – disse Poseidon – Nós aqui com piadas e nem cheguei a contar-vos o melhor. Apresento-vos o vosso companheiro de viagem.
Poseidon apontou para um canto do salão. Uma figura alta, esguia e com um longo casaco elegante deu uns passos em frente e olhou para nós. Tinha umas longas barbas, um olhar perfurante e uma pele escura. Era monhé.
- Este – anunciou Poseidon – É o Capitão Nemo.
- Boas tardes a todos – disse o monhé, com uma curta vénia.
- Ele vai ser o vosso, er, motorista.
Capitão Nemo soltou uma tosse formal.
- Ele é um génio científico, e protagonista de um livro famoso sobre viagens sub-aquáticas.
- O único Nemo que eu conheço é o peixe – disse o atum – o do filme.
- As pessoas confundem-me muitas vezes com ele – murmurou Nemo – Por causa das barbatanas. E das riscas.
- E, claro, será o vosso bem-humorado companheiro de viagem – disse Poseidon. O Capitão permaneceu quieto.
- Capitão, muito obrigado por esta oportunidade – disse Jack.
- Posso garantir-lhe que vamos encontrar a sua noiva – disse o Capitão Nemo - Aliás, eu até nem tenho nada melhor com que me preocupar.
- O Capitão Nemo aceitou em levar-vos na vossa viagem, bem como a um máximo de duas pessoas para vos ajudar.
- Está-se mesmo a ver quem vamos convidar – comentei eu com um sorriso.
- Gostaria muito que a Lilith e a Ariel fossem connosco, Rei Poseidon – disse Jack.
- Vocês os quatro dão-se muito bem – disse Poseidon.
- É verdade.
- Smith, pode ser que o casamento sempre ande para a frente!
- Quando partimos? – perguntou Jack.
- Amanhã de manhã – anunciou o Capitão Nemo – Espero-vos, a vós e às vossas aparentemente imprescindíveis companheiras de viagem, à entrada do Palácio. O Nautilus estará à vossa espera.
- Quem é esse? – perguntei.
- É um tipo de molusco, seu burro – disse o atum, a rir da minha burrice.
- É o meu submarino – rosnou o Capitão. O atum calou-se e percebeu finalmente que estava a mais.
- Hoje à noite faremos uma festa de despedida – anunciou Poseidon – Amanhã iniciarão a vossa viagem para o desconhecido e, claro está, assim que encontrarem a Rose serão bem-vindos de volta ao palácio.
- Muito obrigado – agradeceu Jack.
- Tem alguma fotografia ou registo em desenho da sua noiva que nos possa auxiliar na busca? – perguntou o Capitão.
Jack corou um pouco. Eu também. Lembrei-me do desenho, o motivo pelo qual fora esmurrado por Jack.
- Quanto a isso não se preocupe Capitão – disse Jack – até porque lhe garanto que assim que vir a minha amada a reconhecerei nesse mesmo momento.
Todas as Terças e Quartas, novos episódios de Smith e as Sereias.
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