sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Samora 48


Sonja era jovem e isso fazia toda a diferença. A dada altura, Sara transformara-se naquilo em que Samora a quisera metamorfosear durante todos aquele anos: uma esposa que não o é, com todos os benefícios da mulher-objecto sem as necessidades emocionais dos comuns dos mortais. Ao contrário, Sonja apresentava-se com uma irresistível urgência pela vida. O seu emprego era uma plataforma para uma mais alta posição na hierarquia; o seu quarto alugado a primeira de muitas casas progressivamente maiores; a sua conta no banco um investimento a gastar no futuro. Em Sonja, apesar dos papos debaixo dos olhos e da forma magra e aplanada do seu corpo, existia uma espécie de promessa de futuro. Sara, envelhecendo, era o que tinha sido e não se reciclava; Sonja, florescendo, era uma pequeníssima parte do que se podia tornar. 

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