Renato, muito obrigado por ter aceite
esta entrevista.
Isto
é para quê? Uma revista?
Para documentação. Estou a
investigá-lo. A tentar perceber quem é o Renato Rocha. Pode tentar resumir-se a
si próprio em meia dúzia de linhas?
Posso,
pois. Ora bem: tenho vinte e um anos, olhos castanhos, cabelo extremamente
difícil de cortar e um metabolismo acelerado que me permite perder ou ganhar
peso com demasiada facilidade. Sou aquele tipo de pessoa que volta para trás
quando trouxe sem querer alguma coisa que não pagou do supermercado. Sou
extremamente curioso e desenvolvo facilmente um interesse tão grande por uma
tão grande quantidade de assuntos que nunca tenho tempo para me dedicar
verdadeiramente a nada.
Mas sei que é um escritor assíduo.
Isso
sim. Procuro escrever todos os dias, se bem que nos últimos meses tem sido
praticamente impossível.
Algo em especial? Deixe-me adivinhar,
escreve um diário onde debita os seus pensamentos e reflexões profundas, incluindo
todo o tipo de filosofia barata, melodramática e fatalista típica dos
adolescentes.
Pelo
contrário. Não que tenha nada contra ser melodramático, acho até que cada um
deve encontrar a sua forma de expressão ideal. Só que prefiro as histórias ficcionais, a sátira, etc.
Acontece-me com facilidade inventar personagens, temas, lugares, situações, e
escrevo sobre eles. Às vezes não consigo adormecer porque a minha criatividade
liga o piloto automático e só pára de madrugada. Espero que isto não pareça pretensioso.
Cá agora. E onde podemos ler essas
suas histórias?
No
meu blog. Quer que diga o endereço?
Não sei, o blog é seu.
trajectoria-aleatoria.blogspot.com.
Basta ir ao Google e pesquisar “Trajectória Aleatória”, em princípio aparece
logo.
Considera que o seu blog é uma boa
representação do Renato Rocha?
Isso
terá de perguntar a quem me conhece bem. Mas tenho mais estabilidade mental do
que poderá parecer ao leitor comum, e sou uma pessoa mais carrancuda e séria do
que esta entrevista pode deixar transparecer.
Sei que tem um interesse profundo por
certos temas, como ciência e religião.
Sim,
é verdade.
Quer ser mais específico? Fale-nos do
seu interesse particular em biologia evolutiva, ou talvez sobre a forma como
lhe fascina a religião como um processo natural e comum a todas as
civilizações.
Para
alguém que faz as perguntas parece-me
muito bem informado. Você já sabe tudo sobre mim, caramba. O que quer que lhe
diga?
Fale-me agora sobre desporto. Gosta
de desporto?
Não.
Nem de futebol? Toda a gente gosta de
futebol.
Pois
eu não gosto.
Mas sei que há um desporto de que
gosta…
Vá,
diga lá. Está mortinho por dizer!
Homem, tenha calma. Eu só estou a
tentar estimular uma conversa.
Eu
não preciso cá de estimulações. Faça-me uma pergunta imparcial, sem segundas
intenções, que eu respondo. Agora se é para estar a responder por mim vou-me
embora e você fica aqui sozinho a escrever uma entrevista a si próprio.
Há algum desporto de que goste, assim
só por acaso?
Sim.
Gosto e pratico danças de salão.
Isso é aquelas coisas que vemos na
televisão com os senhores afeminados a mandar as senhoras ao ar?
Mais
ou menos. Digamos que as danças de salão são mais exigentes e fisicamente
desafiantes do que muita gente pensa. Actualmente encontro-me em pré-competição
e a dar aulas a iniciados na modalidade.
Isso é fantástico. Voltemos à sua
escrita. Como é a sua rotina de trabalho?
Não
existe. Sempre que tenho tempo e vagar sento-me numa cadeira, ligo o
computador, começo a mexer os dedos e mexo-os até ter escrito o que quero até
ao fim.
Qual é o seu maior defeito como
escritor?
Total
ausência de poder de síntese. Veja bem, ainda agora podia ter dito “escrevo
demais” mas não: disse especificamente que tenho uma “total ausência de poder
de síntese”.
Aliás, nem se nota nada pelo tamanho
desta entrevista. Tem algum momento da sua carreira como escritor amador que
gostasse de partilhar com os nossos leitores?
Ah,
mas isto agora tem leitores?
Pode ter, por isso é melhor fazer boa
figura.
Uma
vez participei num concurso literário na minha escola secundária e ganhei o
primeiro lugar. Toda a gente fez uma grande festa. Depois vim a descobrir que
tinha sido o único a participar.
Ena, grande bronca. E não contou a
ninguém?
Contei,
mas ninguém se importou. Para os meus amigos e família era como se tivesse
ganho o Nobel.
E para além de escrever como ocupa os
seus tempos livres?
Com
imensas coisas. Adoro ler. Gosto de estar com a minha namorada e de dançar. Gosto
de correr...
Não me diga que usa uns daqueles
calções fininhos que se agarram às nádegas...
Gosto
de conversas interessantes, gosto de comer e gosto de ignorar provocações
parvas. Gosto de ver bom cinema através de mecanismos em relação aos quais
prefiro não me pronunciar.
Qual é a sua opinião quanto à
pirataria?
Próxima
pergunta.
Como vê o futuro?
Com
cartas de Tarot. Ou búzios. Conhece outra maneira?
E o que vê assusta-o?
Meu
caro, eu estava a ser sarcástico.
Ah.
Sabe
tanto sobre mim e não sabe que estou a ser sarcástico?
Você diz isso cá com uma cara...
Suponho
que o que queria perguntar era se o futuro, como se adivinha neste momento, me
assusta. Era isso?
Era pois.
Sinceramente
não lhe sei dizer.
Que resposta...
Qual é para si o emprego perfeito?
Um
em que me paguem para fazer algo que goste.
Um momento especial?
Ler
à beira mar.
Uma recordação feliz?
Os
Verões da minha infância.
Elvis ou Beatles?
Beatles.
Praia ou montanha?
Dentro
de casa.
Cães ou gatos?
A
minha tartaruga.
Você deve estar a brincar comigo.
Sabe o que é uma dicotomia?
Sei.
Então responda lá decentemente. Cães
ou gatos?
Gatos,
pronto.
O que dizem os seus olhos?
Han?
Deixo-lhe a última palavra.
Não
tenho grande coisa a acrescentar, sinceramente.
Sendo assim ficaremos por aqui. Renato
Rocha, muito obrigado por este bocadinho.
De
nada, eu é que agradeço a oportunidade.
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