quarta-feira, 26 de maio de 2010

Talvez seja por isto que ninguém liga nenhuma a D. Duarte

D. Duarte, aquele senhor de bigodes que tem um nome enorme e que inclui no currículo ser pretendente ao trono de Portugal, fez uma declaração fantástica ao Diário de Notícias que deve ser partilhada e analisada com cuidado. Diz o hipotético Rei:
Tornar obrigatório o ensino da educação sexual resume-se a dizer: forniquem à vontade, divirtam-se, façam o que quiserem mas com higiene. Praticamente é só isso, em vez de dar referências éticas e morais em relação ao desenvolvimento de uma sexualidade saudável. Ao mesmo tempo, desencorajam-se as aulas de educação moral e estamos a dizer que a moral não tem importância, que só a sexualidade livre é fundamental para a felicidade dos portugueses».
Não sabia que as aulas de educação sexual serviam apenas para dar autorização aos alunos para “fornicarem”! Talvez assim seja no mundo de D. Duarte, onde a imagem de uma turma de alunos em orgia sexual lhe deve fazer erguer os pêlos da nuca e abraçar a sua Isabelinha com pavor da modernidade. D. Duarte não está a criticar a educação sexual nas escolas, mas sim a falar de uma versão da mesma por ele inventada. A verdade é que a educação sexual teria como objectivo ensinar os jovens umas coisas pouco importantes e descabidas, como a utilização do preservativo, como evitar DSTs, ou a preparação de um planeamento familiar para evitar que os números de jovens mães continuassem a aumentar. Que outra coisa seria mais importante que a saúde de uma geração?
Ah, claro! A moral! Não sabia que havia “referências éticas” a serem tomadas em conta quanto à sexualidade; aliás, sempre tive esta ideia modernista de que a sexualidade é uma coisa natural, saudável quando feita com precaução, e desprovida de qualquer factor que a poderia rotular de “imoral”.
Pela mesma ordem de ideias, não deveríamos ensinar aos jovens que o álcool podem ter consequências negativas quando tomado regularmente e em excesso, porque falar sequer da questão seria incentivar a juventude à mais depravada bebedeira! E pior, deveríamos substituir as leis que protegem os menores da bebida com aulas de educação ética e moral para a bebida, de maneira a alertar consciências.
Agora a sério: que besta ignorante. Não precisamos de mais uma pessoa conservadora a acusar a sociedade de falta de moral e irresponsabilidade quando o que estamos a fazer é procurar a melhor maneira de aumentar o nível de cultura e educação dos nossos jovens. Admitamos: os jovens vão fazer sexo. Faz parte, é natural. Não será melhor investir em preparar os jovens para o saberem fazer com cabeça? Ao contrário do que D. Duarte possa pensar, ninguém vai sair de uma aula de educação sexual a dizer “Eu até estava a pensar nos enormes factores morais que uma relação sexual acarreta, mas como me falaram sobre preservativos e protecção da SIDA vou já já a correr ter sexo com vinte raparigas desconhecidas!”.
E a propósito: esta falsa dicotomia entre sexualidade e moralidade tem de acabar. Aliás, já acabou, só que ainda há dinossauros que não se aperceberam. Educar sobre sexo não é o mesmo que ser imoral, e retirar das escolas públicas uma educação moral (e religiosa) não é tirar importância à moral e incentivar à “fornicação”: é inserir educação para a saúde e retirar uma coisa que os meninos podem fazer na catequese.
Sim, D. Duarte: é possível uma pessoa ser moral e ética com os outros e ainda assim ensinar o seu filho a pôr um preservativo. Faz parte de uma coisa chamada “futuro”. Devia experimentar um dia.

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