terça-feira, 10 de novembro de 2009

Parabéns Poupas!



Faz hoje 40 anos que a primeira emissão da Rua Sésamo foi para o ar. É uma data importante, uma vez que se trata de um dos melhores programas infantis de sempre. A Rua Sésamo anda a marcar e ensinar crianças há 40 anos, incluindo eu. Lembro-me perfeitamente de ver as cassetes e os episódios da Rua Sésamo. Lembro-me que todos os miúdos que chegavam ao infantário depois de verem a Rua Sésamo já sabiam as cores, contar, ou até algumas letras.

Hoje estava a pensar nisso e a perguntar-me: o que aconteceu entretanto? Como foi a evolução dos programas infantis desde a Rua Sésamo? Não faço a mínima ideia em relação aos últimos 40 anos, mas posso fazer um balanço dos últimos 12 ou 13. Lembrei-me rapidamente dos Domingos de manhã na TVI, onde um programa de wrestling faz as delícias dos mais novos mostrando homens musculados e de cuecas a esmurrarem-se mutuamente. Lembrei-me do Noddi, com o seu carro amarelo, cujo dia vai ser tão belo, que nada mais é do que uma animação de baixa qualidade com as aventuras parvas de um boneco cabeçudo e em nada educativo. Lembrei-me de todas as variantes do Noddi, Bob o Construtor, Paulo o Carteiro, Roberto o Canalizador, por aí fora, todas elas igualmente fazias de conteúdo. Lembrei-me ainda do programa A Ilha das Cores, que seguia o mesmo esquema da Rua Sésamo mas que, talvez por isso, tenha sido atirado para horários estranhos e entretanto desaparecido do ecrã.

O que é que aconteceu entre a minha infância, em que cantávamos com o Poupas e aprendíamos a contar com o Egas e o Becas, e a actualidade, onde a noção de entretenimento são animações digitais pobres ou bonecos japoneses à pancada uns com os outros?

Sim, “no meu tempo” também havia o Dragon Ball, é verdade. Era fã, e tudo o que a série tinha para nos oferecer era uma história um tanto fantasiosa e complicadas cenas de porrada generalizada entre Songoku, seus amigos e raças de aliens invasores. Mas nessa altura eu SABIA que aquilo era violento. Eu SABIA que era tudo uma brincadeira, um desenho animado até bastante idiota. Eu não andava a imitar o Songoku no recreio da escola, como os miúdos fazem agora com o Wrestling e acabam a partir os pulsos uns dos outros.

Para além disso, eu tinha motivo de comparação. Sabia o que era um bom programa de crianças, e sabia que tinha crescido com um: a Rua Sésamo. Hoje em dia olho para o meu irmão mais novo e penso: o que raio é que ele verá na televisão?

Felizmente, muito pouco. Mas se o fizesse teria pena dele. A Rua Sésamo é uma parte integrante da minha infância; não porque aprendia, mas porque aprendia divertindo-me. Não havia uma fenda tão grande entre a escola (o local das obrigações e das aprendizagem) e os desenhos animado, ou brincadeiras que tinha em casa. Eu sabia ver desenhos animados violentos, ou vazios de conteúdo, porque tinha termo de comparação: hoje em dia, não há um único boneco animado na televisão que estimule uma criança ao ponto a que a Rua Sésamo conseguiu estimular-me. Os programas infantis de agora são pornografia visual, com gritos, cenas de pancada e muitas, muitas cores, trazendo à mistura uma furiosa estratégia de marketing (O que raio são os Gormiti, que se vendem em TODO o lado?!)

A culpa é das televisões, que metem este lixo para as crianças verem (Wrestling ao Domingo de manhã; TVI, a rainha do conteúdo e do bom gosto); mas a culpa também é dos pais, que ligam o televisor e plantam as crianças à frente do ecrã para poderem ir às suas vidas. Resta saber até que ponto o que está a dar na televisão os vai entreter apenas, ou também prejudicar.

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2 comentários:

Paulo39 disse...

Hum..
Pelo que tenho lido agora nos teus artigos, já não é a primeira vez que te ouço (leio) dizer (escrever) que o que se passava na altura em que éramos crianças "é que era bom".
Concordo com alguns argumentos que dás, mas discordo de outros. Em primeiro lugar tens de ver que a realidade hoje é diferente do que era há uma dúzia de anos. É óbvio que muitos dos programas que referiste podem não ser muito educativos, mas deve haver com certeza alguns que o serão.
Quando éramos crianças também havia maus programas televisivos, também havia maus pais, sempre houve e sempre haverá, não é um fruto da actualidade.

Renato Rocha disse...

Tenho de concordar contigo... Mas acho que os critérios pelos quais avaliamos os programas e os pais são os mesmos. Não acho difícil de acreditar que hoje em dia os programas são realmente piores, e em maior quantidade; ou, na melhor das hipóteses (e porque realmente no "nosso tempo" também havia programas maus) em meia dúzia de anos o tipo de programação infantil nas TV's não melhorou particularmente.

Fiz a comparação com o "nosso tempo" porque acho que hoje em dia, com a tecnologia a espalhar-se pelo dia-a-dia das pessoas, é mais difícil filtrar os maus programas, mesmo para o pai mais atento. As crianças têem mais acesso a mais variedade, o que só é bom se for uma liberdade bem controlada; não no sentido de proibir a criança de ver o que quiser (como nós viamos o Dragon Ball, que era só pancada, e adorávamos), mas no sentido de ensinar um contra-peso e dar-lhe os mecanismos de pensamento crítico para distinguir o que são boas influências e o que não é.

Aproveito para agradecer os comments, é sempre bom saber que há gente a passar por aqui! Abraço