sábado, 29 de maio de 2010

Como os conservadores sabem o que é realmente importante

As notícias da birra da direita católica começam a aparecer depois de Cavaco Silva ter desapontado meio país (gosto de pensar que não foi a maioria) ao não vetar a lei do casamento homossexual. Aliás, o seu beicinho prolonga-se agora de tal forma que já procuram uma “alternativa” a Cavaco Silva para as próximas eleições presidenciais.

Esqueçam tudo o que o homem fez como Presidente da República nos últimos anos. Quem quererá saber disso? O importante mesmo é manter a homofobia intacta, e não podemos ter um idiota que vai contra as suas convicções católicas infundadas

Normalmente os Presidentes e figuras do Estado perdem eleições quando fazem disparates, ou quando violam direitos humanos; não quando ajudam a implementá-los.

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E na mesma notícia, testemunhamos a idiotice ignorante de D. José Policarpo:

"Sabemos a fragilidade do veto político na nossa actual Constituição, mas ele (Cavaco Silva), pela sua identidade cultural e de católico, precisava de tomar uma posição pessoal. O veto político era a sua afirmação pessoal."

Sim, claro; e exactamente por ser uma afirmação pessoal não tinha nada de acontecer. Desde quando os vetos são decididos pela "posição pessoal" de quem governa? É só este o critério? D. José Policarpo diz isto, claro, porque Cavaco concorda com ele e não é islâmico, ateu, ou simplesmente a favor do casamento homossexual; porque se o fosse, Policarpo com certeza já não estaria à espera de uma "afirmação" pessoal mas sim de um veto fundamentado e imparcial como os vetos devem ser.

Caro D. José Policarpo: há pessoas em Portugal que acham que a "identidade cultural e católica" do Presidente pouco pesa quando comparada com a importância desta legislação; e a propósito, nem toda a gente tem a mesma identidade católica que o Presidente da República. E porque o Presidente é de todos e não só de vós culturalmente católicos, convém se calhar proteger as minorias da vossa tirania ideológica.

Religião: há dois mil anos a dificultar a vida de quem quer levar o mundo para a frente.


(notícia original: http://tv1.rtp.pt/noticias/index.php?t=Direita-procura-candidatura-alternativa-a-Cavaco-Silva.rtp&article=348559&visual=3&layout=10&tm=9 )

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3 comentários:

Rui Faria disse...

Caro Renato,

Nos dois posts que escreve acerca do Cavaco, parece-me que tem uma falha de informação: nas eleições presidenciais, elege-se um presidente, e nao um governo. Ou seja, uma pessoa apenas, pelo que a sua opiniao pessoal, é a que tem que passar! E aparte disso, quando refere o poder de veto, e que o presidente é de todos, parece nao se lembrar que o presidente é eleito em eleiçoes democraticas! O que tiver mais votos ganha! Nao me parece que o veto seja uma tirania, porque o veto foi democraticamente entregue a uma pessoa!

S disse...

Desculpe lá rui faria, mas chamar democracia ao regime em que vivemos... democracia, assim o que se chama democracia cujo poder esteja mesmo no povo, é coisa de outrora, ou pelo menos está a anos luz de acontecer neste país... só mesmo na grécia antiga a tomar decisões de braço levantado... não se iluda, o mundo político não está nas nossas mãos, não nos cabe a nós decisões nenhumas, ou cabem-nos muito poucas. O único poder que temos é o de escolher um fulano interesseiro para governar o país, de entre cinco ou seis fulanos interesseiros; é assim tipo oferecerem-me uma promoção numa loja de roupa em que posso levar de graça uma camisola à minha escolha, e depois darem-me a escolher entre 5 camisolas em diferentes tons de cor-de-rosa. E se eu não gostar de cor-de-rosa? E se eu até gostar de cor-de-rosa mas não gostar de alguns pormenores da camisola? Tenho de a levar à mesma. E o que disse sobre "a sua opiniao pessoal é a que tem que passar" parece-me tão descabido e sem sentido que nem vou comentar.

Renato Rocha disse...

Caro Rui Faria:

Parece-me que não me expliquei suficientemente bem. O que quis dizer no post é que a opinião PESSOAL do presidente não deve ser definitiva num veto, da mesma forma que um Primeiro Ministro é eleito democraticamente mas a sua opinião pessoal, se mal fundamentada, não deverá ser levada em consideração quando falamos de decisões que afectem o país. Por outras palavras, uma opinião pessoal de nada serve se não for apoiada por dados concretos.

Se acha que entregar o poder de vetar a um Presidente significa dar-lhe carta branca para fazer o que com ele quiser é uma democracia justa, sugiro-lhe que repense o seu conceito de democracia. Exactamente por ser um Presidente de TODOS deverá procurar tratar estes assuntos com toda a imparcialidade e objectividade, domínios nos quais a "opinião pessoal" é irrelevante.