sábado, 22 de maio de 2010

O liberal em mim está com dores…

… mas tenho de ser absolutamente a favor da suspensão daquela professora de Mirandela que, num rasgo de ética profissional, decidiu expor-se toda despida nas páginas de uma revista vendida em todo o país.

A relação entre aluno e professor deve, a meu ver (e comigo sempre resultou assim), basear-se num respeito mútuo que é difícil quando as maminhas de um dos intervenientes são notícia nacional. Não me digam que as aulas desta professora serão as mesmas depois de os seus alunos, que aliás são todos menores de idade, a verem toda nua e poderem usufruir dessa visão para construir todo o tipo de piropos, piadolas ou desrespeitos à professora.

Esta professora acabou por destruir até alguma da sua credibilidade, uma vez que pousar para a Playboy (que muita gente vê como sendo uma “produção artística”; ieah, shure) não é propriamente valorizado senão pelos homens que com certeza adorariam ter tido uma professora daquelas e agora fazem esgotar a revista.

Não quero com isto dizer que as liberdades individuais das professoras devam ser limitadas. Se quiser andar nua, que ande; não precisa é de ser numa revista lida em todo o país.

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8 comentários:

What disse...

Ou se quiser andar nua na revista, ande, mas repende a sua carreira a nível do ensino...

A mocinha deve ter pensado que aquilo em mirandela ninguém via a playboy... xD

Paulo39 disse...

Desta vez não estás a ser muito coerente com a atitude que costumas adoptar :P

Pegando noutro artigo mais recente sobre a opinião de D. Duarte, então achas que essa professora agiu de forma imoral?

Tu mesmo o dizes e sabes que o que ela fez faz parte da vida privada dela e só a ela diz respeito. Nunca deverá ser discriminada por isso. Não estarás a ser um pouco preconceituoso?
Afinal de contas, a "sexualidade" é um tema normal e que deve ser tratado como qualquer outro, tal como defendeste no artigo do D. Duarte.

Além de que ela é professora primária, por isso os meninos e meninas ainda não ligam muito a essas coisas. Seria pior se ela fosse professora duma escola básica ou secundária.

PS: E as fotos, não se arranjam por aí? :P

Renato Rocha disse...

Paulo39:

Não chamei a atitude da professora de "imoral". Para mim não há nada de imoral no que ela fez, e tal como dizes, faz parte da sua liberdade. No entanto, eu não disse que se trata da sua vida privada, porque aparecer nua numa revista não se trata de privacidade pessoal mas sim de vender a sua imagem ao público, tornando-a pública.

As razões porque me oponho à professora não tem nada que ver com uma leitura moralista ou ética das suas acções, que para mim são irrelevantes em si. O que me preocupa são as CONSEQUÊNCIAS dessa sua atitude, que se poderão reflectir no seu desempenho como professora. Prova disso é que a revista esgotou em Mirandela, e não acredito por um momento que todos os seus alunos soubessem da história.

Paulo39 disse...

Não chamaste à atitude da professora imoral, no entanto condenaste (através da ironia) a sua conduta ética:
"...daquela professora de Mirandela que, num rasgo de ética profissional, decidiu expor-se toda despida nas páginas de uma revista vendida em todo o país."
Só não sei o que é que a "ética profissional" tem que ver com as opções de vida de cada um...

"...eu não disse que se trata da sua vida privada, porque aparecer nua numa revista não se trata de privacidade pessoal mas sim de vender a sua imagem ao público, tornando-a pública."
Estás a confundir.
O que eu quis dizer é que pelo facto de a professora ter passado a ser notícia nacional NÃO PODE fazê-la perder direitos, nomeadamente o direito de vender a sua imagem como tantas outras fazem e das quais nunca te vi queixares.
Ou seja, o facto de ser professora primária ou empregada doméstica ou seja o que for não tem absolutamente nada que ver, nem deve influenciar, a sua "restante actividade profissional".

Acho absurdo pensar que esta professora não está em condições de continuar a dar aulas por ter tomado aquela atitude que não absolutamente relação nenhuma com o ensino/escola.

Também não compreendo o teu argumento das CONSEQUÊNCIAS. Já agora, que consequências são essas? Podes especificar um pouco?

E desde quando as consequências devem limitar o grau de liberdade de alguém?

O casamento entre pessoas do mesmo sexo também traz muitas "consequências"...

Sinceramente, depois de ler o teu artigo, vejo que afinal também vês a sexualidade com algum preconceito e não como uma coisa totalmente normal, tal como expressaste num artigo mais recente.
Só pode ser assim, senão não te sentirias "incomodado" com a eventualidade de esta professora continuar a dar aulas.

Por último:
"Esta professora acabou por destruir até alguma da sua credibilidade, uma vez que pousar para a Playboy (que muita gente vê como sendo uma “produção artística”; ieah, shure)..."
Ao contrário do que desdenhas, a Playboy não é uma qualquer revista pornográfica para os homens se masturbarem. Quer queiras, quer não, a Playboy tem muito mais nível do que isso e é uma revista erótica onde se pode apreciar a beleza e sensualidade do corpo feminino.

Pornografia =! Erotismo

PS: Já agora, eu não perco o respeito a pessoas/mulheres "cujas maminhas são notícia nacional". E quem o faz é que está errado, e não a "dona das maminhas".

Renato Rocha disse...

Quando falo de ética profissional significa que há coisa que estão dentro da esfera profissional e que ultrapassam a “vida e escolhas privadas”. Concordo contigo, a professora não deve perder direitos nenhuns. Mas repito: a mim pouco me importa que a professora queira andar nua nas revistas, o que me importam são as eventuais consequências dessa decisão que, sendo ela professora, ULTRAPASSAM as suas opções de vida e entram no seu desempenho profissional. A razão porque não me ouviste queixar de nenhuma outra mulher que se tenha despido por dinheiro é porque em nenhum caso que me consiga recordar essa sua decisão influenciaria negativamente a sua actividade profissional, muito menos trabalhava directamente com crianças menores.
Não acho que a professora tenha perdido qualidades como professora só porque se despiu; mas a escola tem o direito de a afastar não porque lhe apetece, mas porque são esperadas as consequências negativas da situação. Pedes-me para especificar, o que farei. Aliás, já fiz no post, mas repito: em nenhum momento acredito que as aulas daquela professora, a dar aulas a rapazes e raparigas menores, continuem as mesmas depois de toda a escola já a ter visto despida. A relação de respeito mútuo que deve existir entre os professores e os alunos, convenhamos, desaparece quando um dos intervenientes está nu numa revista e o outro está na puberdade.
Desde quando devem as consequências limitar o grau de liberdade de alguém? Estás seriamente a fazer essa pergunta? Em TUDO o que proibimos ou tratamos como “errado” está uma consequência negativa. Roubo, violação, desrespeito, difamação, corrupção, homofobia, escravatura. Queres que continue? A partir do momento em que uma decisão tua afecta as outras pessoas deixa de ser APENAS a tua decisão. Daí que critique ESTA professora e não qualquer outra modelo ou menina que apareça na Playboy. Não porque tenha problemas com a sexualidade, não porque seja preconceituoso, mas sim porque neste caso específico acho que foi uma terrível ideia.
E o teu pequeno comentário sobre as consequências entre as pessoas do mesmo sexo é desprovido de sentido e mal fundamentado. Aponta-me uma única consequências potencialmente negativa do casamento entre pessoas do mesmo sexo. Força.
Mais uma vez, repito porque ainda não percebeste. Não tenho problemas NENHUNS com sexualidade, seios, genitais, liberdades individuais, corpos nus, erotismo. Preocupam-me apenas as consequências que já expliquei desta acção ESPECÍFICA desta pessoa específica.
Por último, eu não disse que a Playboy é uma revista pornográfica. No entanto, não acho que tenha nada de particularmente artístico. Se fosse pela arte e pela beleza natural, então porque não uma revista com homens nus? Com certeza que a beleza artística é comum aos dois géneros, e todos os homens portugueses que compram a Playboy comprariam também uma revista com homens despidos para lhes apreciar a beleza; ou com senhoras mais idosas, sem seios redondos e curvas apertadas. Dizeres-me que a Playboy vende pela “beleza” é como dizeres que muitas mulheres gostam do Cristiano Ronaldo por causa da sua inteligência.
Sou todo a favor de apreciar a beleza do corpo feminino; e desafio-te a pesquisar esculturas e pinturas desde o tempo dos gregos até hoje para ver como esse é um tipo de beleza apreciado desde o início dos tempos. No entanto, e isto é claro a minha opinião, não valorizo especialmente alguém que se despe por dinheiro. Não desrespeito essa pessoa particularmente, mas não lhe valorizo a mentalidade “artística”. Claro que isso se trata de uma opinião pessoal.

What disse...

"Dizeres-me que a Playboy vende pela “beleza” é como dizeres que muitas mulheres gostam do Cristiano Ronaldo por causa da sua inteligência."

LEGENDARY xD xD xD

Paulo39 disse...

"A razão porque não me ouviste queixar de nenhuma outra mulher que se tenha despido por dinheiro é porque em nenhum caso que me consiga recordar essa sua decisão influenciaria negativamente a sua actividade profissional, muito menos trabalhava directamente com crianças menores."

Continuo sem perceber qual é a influência negativa de que falas.
Isso é subjectivo. Como te digo, eu sou capaz de respeitar uma pessoa na situação dela enquanto professora, se existem outros que não o conseguem, quem está mal são eles e não a professora. Eles é que têm de mudar as suas mentalidades, ou pelo menos, aprenderem a respeitar as opções dos outros.

"...mas a escola tem o direito de a afastar não porque lhe apetece, mas porque são esperadas as consequências negativas da situação. Pedes-me para especificar, o que farei. Aliás, já fiz no post, mas repito: em nenhum momento acredito que as aulas daquela professora, a dar aulas a rapazes e raparigas menores, continuem as mesmas depois de toda a escola já a ter visto despida. A relação de respeito mútuo que deve existir entre os professores e os alunos, convenhamos, desaparece quando um dos intervenientes está nu numa revista e o outro está na puberdade."

Insistes no mesmo argumento ao qual eu já respondi acima. Mas digo-te mais: crianças que não têm mais de 9/10 anos não estão na puberdade, estão na infância e nessa fase não costumam ter qualquer tipo de "desejos sexuais", antes pelo contrário, é a altura em que mais se afastam do sexo oposto. Portanto, como disse no 1º comentário, seria bem mais melindroso se se tratasse duma professora do ensino secundário, por exemplo.

Em relação à questão das consequências eu talvez não me tenha exprimido da melhor maneira. O que eu quis afirmar foi que, desde que a liberdade individual respeite a liberdade dos outros e não agrida os outros, não deve ser de forma alguma limitada. Daí a comparação com o casamento gay: muita boa gente se sente ultrajada com semelhante coisa e diz que isso terá consequências negativas na sociedade, no entanto, esses argumentos não fazem qualquer sentido, visto que o casamento gay não afecta a vida quotidiana de ninguém e permite que não haja uma discriminação de certo grupo social. Da mesma forma, uma mulher que decide fazer algo legal e que não afecta ninguém não pode ver os seus direitos atropelados e ser impedida de continuar a exercer a sua profissão.
Se até cirurgiões com SIDA podem operar, porque não haveria ela de poder continuar a dar aulas?

"Por último, eu não disse que a Playboy é uma revista pornográfica. No entanto, não acho que tenha nada de particularmente artístico. Se fosse pela arte e pela beleza natural, então porque não uma revista com homens nus?"

E quem disse que não existem as revistas com homens nus? Elas existem à mesma, o mercado alvo é que difere: mulheres e gays.

"No entanto, e isto é claro a minha opinião, não valorizo especialmente alguém que se despe por dinheiro. Não desrespeito essa pessoa particularmente, mas não lhe valorizo a mentalidade “artística”."

Daí a limitá-la nos seus direitos enquanto cidadã vai um longo caminho.

Renato Rocha disse...

Paulo:
Isto está a tornar-se um bocado chato e doloroso. Vou repetir.
O que para mim está em causa aqui não são as liberdades individuais da professora, que tem todo o direito de fazer o que quiser. No entanto, e isto é a minha opinião que por acaso está de acordo com a da escola, penso que a autoridade desta professora e a sua relação com os alunos seria alterada de uma maneira que transforma esta sua decisão num potencial perigo, ainda que pequeno.
Quando dizes que os alunos é que “estão mal” por não a respeitar, esqueces-te que quem deve ser mudada é a professora e não os alunos, da mesma forma que se uma professora estiver com uma depressão nervosa é ela que se deve afastar e não os alunos que devem obter a compreensão necessária para lidar com ela. São crianças, o que inclui a sua imaturidade e irresponsabilidade ao lidar com situações delicadas. A tua opinião é partilhada por mim no sentido em que se ela fosse minha professora pouco mudaria na minha relação com ela, mas estamos a falar de uma situação num contexto de vila do interior, extremamente conservadora, em que ideias como os direitos das mulheres ou a própria existência destas revistas são quase problemáticos. Por outro lado, estamos também a falar de crianças pequenas, que com certeza ouvirão todo o tipo de comentários depreciativos em casa, e que pela tenra idade não têm a maturidade para lidar com a situação da forma objectiva que tu ou eu teremos.
E quando falas de como os direitos da mulher foram “atropelados”, esqueces-te que não há uma grande quantidade de direitos que ela não tenha já exercido. Teve o direito de aparecer na capa da Playboy, da mesma forma que a escola teve o direito de a afastar; aliás, moveram-na de um emprego para outro, pelo que nem a chegaram a atirar para o desemprego.
Quanto à discussão paralela sobre homens nus, eu sei que há revistas com homens despidos, nenhuma delas com vendas sequer comparáveis às das revistas masculinas. Também tens revistas sobre arte e design, que assentam também na apreciação da beleza; essas também não vendem muito. A verdade é que revistas como a Playboy são, para mim, a forma mais preguiçosa de vender, preocupando-se em escolher não mulheres particularmente bonitas mas mulheres que se enquadrem nos critérios, entre outros, de seios enormes, curvas apertadas e poses provocatórias. As “modelos” são limpas no Photoshop para ganharem um ar de plasticina encerada, tornando-as não numa mulher mas num boneco idealizado. Vende-se uma ideia de beleza e perfeição que, quer querias quer não, se destina maioritariamente aos homens que gostam de passar alguns momentos a sós na casa de banho; e transformam a figura da mulher numa espécie de boneco para ser posto atrás de uma montra para que todos possamos apreciar. O perpetuar desta ideologia é o que transforma o conceito de beleza feminina num corpo tonificado, perdendo-se pelo meio critérios como a inteligência, a cultura, o bom humor ou a personalidade. Teremos, talvez, critérios de beleza diferentes.