O nerd português obteve hoje uma vitória apoteótica sobre as
forças que defendem que uma vida sem noventa minutos de desporto semanais
conduz à obesidade, à hipertensão, à morte de meninos em África e ao
assassinato de gatinhos: as notas de educação física deixarão de contar para a
média dos alunos que não pretendam entrar num curso da área. O Ministério da Educação, liderado e muito bem por um matemático que usa óculos, saiu em defesa
da estirpe mais característica do nerd: o rapazinho ou menininha que tem 20 a
Matemática e Biologia mas não entra em Medicina porque não consegue rematar à
baliza nem sabe jogar andebol. Isto chocou toda a sociedade portuguesa que se preocupa com a educação física nas escolas. Bem, "toda" talvez seja um exagero: houve um grupo que se manifestou surpreendentemente mais que os outros: os professores de educação física. Que a prática do badminton ou as regras que
preceituam uma marcação de um penálti são imprescindíveis na vida de qualquer
cidadão, não só para o seu dia-a-dia como para o seu normal funcionamento
intelectual e motor, ninguém tem dúvidas; mas isso não invalida o facto de hoje
ser um dia de festa para mim e para muitos dos meus concidadãos, particularmente para aqueles que poderão, a partir do próximo ano, respirar fundo: serem totós sem coordenação motora não será mais um estigma. Primeiro os homossexuais, agora eles: isto, meus amigos, é Justiça Social.
sexta-feira, 15 de junho de 2012
quinta-feira, 7 de junho de 2012
Não batam no gordinho: em defesa da Selecção de Todos Nós
Vamos
lá ver uma coisa: o que se tem feito nos últimos dias é uma afronta. Lembrar
aos jogadores que eles são infinitamente mais ricos que o comum dos concidadãos
que estão a representar e que parte desse dinheiro é gasto em carros topo de
gama é, convenhamos, aborrecido. Queria ver como reagiriam esses críticos caso
tivessem um Ferrari e alguém lhes dissesse “Ouve lá, mas tu não achas que
podias ter um carro mais modesto, ou pelo menos não andar para aí com umas
tretas modestas sobre como estás a representar este ou aquele gajo que não tem
que dar de comer aos filhos?”.
A Aula
Três alunos na aula. Entra o professor.
Professor: Bom dia a todos.
Aluno 1: Eia, lá vem este.
Aluno 2: Por que é que ele diz sempre “bom dia” quando na
verdade são duas da tarde?
quarta-feira, 6 de junho de 2012
O Corrector
- A gente temos de ter cuidado com o degrau do comboio! –
avisou a educadora. As crianças levantaram-se, preparando-se para descer na estação seguinte.
De súbito o comboio parou a meio da linha e todos os transportados viraram a cabeça para a educadora, austeros, de boca fechada. As crianças, assustadas, olharam
em volta. Uma das portas abriu-se e entrou um homem de fato branco, gravata
branca, sapatos brancos, enorme cabelo preto e olhos pregados na educadora.
Caminhou até ela enquanto afagava a cabeça das crianças:
- “A gente” deve ser seguido de “tem” e não “temos”, porque “a
gente” é singular e não plural. Apesar de aparentemente incorrecta, a expressão
pode ser utilizada mas – e com isto chegou à educadora, apontando-lhe um
indicador – com muito cuidado. Eu diria até que a gente tem, tem! de ter
cuidado.
E, em jeito de despedida, aplicou um sonoro carolo no cucuruto
da educadora. O homem de branco saiu apressadamente, os passageiros voltaram a
olhar em frente e o comboio retomou a marcha. As crianças riram vendo a
educadora curvada de dor, e aprenderam que a gramática também podia ser
divertida.
terça-feira, 5 de junho de 2012
Cabeças #2
Alguém sem consideração insuflara aquela mulher, pois não
era normal ver-se alguém com dois olhos esbugalhados daquela maneira, prestes a
saltarem das órbitas como dois sabonetes das mãos de uma criança que os aperta;
e mesmo estando eternamente a um segundo de cair não paravam quietos, mexiam-se
como ratinhos, e observavam o mundo com a urgência de uma mulher sozinha num
beco escuro. As maçãs do rosto iam pelo mesmo caminho, arredondadas e luzidias,
e o queixo parecia desaparecer, afunilado, sob o peso de toda aquela
convexidade.
segunda-feira, 4 de junho de 2012
Bigode do Pinhal, o Justiceiro Português
O Trajectória Aleatória, sempre actual, está
preocupado com a classe média. Felizmente não é o único. Hoje temos connosco o
mais recente justiceiro português. Chama-se Bigode do Pinhal e está a fazer
furor nas redes sociais por roubar aos ricos para poder dar à classe média.
domingo, 3 de junho de 2012
A mania das conspirações
Dois amigos estavam a beber café e um deles explicava ao
outro o poder que o seu chefe tinha na empresa. Quem mandava naquilo não eram
os trabalhadores, muito menos a legislação laboral; o tipo fazia o que queria.
Um terceiro amigo chegou, explicando que conhecia o patrão do outro. Era um
pãozinho sem sal; tinha era conhecimentos no Ministério.
Frase Apropriada # 3
Aqui, no alto da estrela, é o lugar de
Roog-Sen.
Catherine
Clémen, A Viagem de Théo
sábado, 2 de junho de 2012
Viagem Surrealista a Xabregas
O dia estava claro: as nuvens pareciam pequenos pedaços de
algodão doce a esvoaçar ao vento, e o sol brilhava forte através de uma fina
camada de água vaporizada. Havia, portanto, sombras definidas e suor na pele, e
as crianças que brincavam na rua faziam-no de boné e protector solar. Mas isso
agora não interessa nada.
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