segunda-feira, 4 de junho de 2012

Bigode do Pinhal, o Justiceiro Português


O Trajectória Aleatória, sempre actual, está preocupado com a classe média. Felizmente não é o único. Hoje temos connosco o mais recente justiceiro português. Chama-se Bigode do Pinhal e está a fazer furor nas redes sociais por roubar aos ricos para poder dar à classe média.

Sr. Bigode do Pinhal, boa tarde.

Boa tarde.

Primeiro deixe-me perguntar-lhe o seu nome verdadeiro.

Não posso, a polícia anda atrás de mim por causa de eu ser um Justiceiro de rua.

Porquê Bigode do Pinhal?

Em criança cresci com dois modelos de Justiceiro: o Zorro e o Robin dos Bosques. Ambos praticavam a solidariedade através da extorsão ou da violência, e eu achei isso bonito e decidi tornar-me um auto-didacta para também ser Justiceiro. Como homenagem fiz uma aglutinação: temos uma referência ao universo mexicano do Zorro com “Bigode”, até porque tenho um bigode de Carnaval com que esconder a minha verdadeira identidade, e por fim uma referência a plantas ou arvoredo. O Robin é do bosque; eu cresci em Castro Verde e portanto sou do Pinhal.

Portanto, considera-se um Justiceiro português

Não me considero, é que sou mesmo. Esta minha veia para a justiça vem de muito longe. Já em miúdo eu costumava partir os dentes aos meninos grandes e gordos que roubavam os berlindes aos mais pequenos. Foi aí que percebi que os meninos que não tinham berlindes se estavam a borrifar para eles. Quando lhes oferecia berlindes recusavam todos mal agradecidos e depois tinham o descaramento de me pedir um bocado de pão. Quem se alegrava mesmo com o meu trabalho eram os meninos que tinham ficado sem os berlindes, porque sempre os podiam reaver ou ficar com mais. Foi aí que eu percebi que havia uma classe sócio-económica que estava ainda mais desprotegida que os meninos sem berlindes. Eram os meninos com alguns berlindes.

Mas não acha que ter pouco é melhor que não ter nada?

Ora aí está a falácia. Veja lá bem o disparate que tá a dizer. Então você acha que ter um pouco de herpes labial é melhor que não ter nenhuma?

Claro que não.

Por vezes o verdadeiro flagelo que destrói uma família é ter pouco e não não ter coisíssima nenhuma. Um tipo quando não tem nada pronto, habitua-se. Veja bem, você não tem um Ferrari. É razão para ficar aborrecido?

Nem por isso.

Imagine agora que ganhava um Ferrari mas depois ficava sem ele. O gosto de ter o Ferrari estava instalado mas você não tinha outro remédio senão ignorá-lo ou, pior, substitui-lo por um Toyota. Gera-se desapontamento, gera-se revolta social e, por fim, gera-se pancada nas ruas.

E como propõem resolver este flagelo?

Aí é que entra o Bigodes de Pinhal. O meu trabalho é basicamente tirar de quem tem muito, evitar que isso chegue a quem não tem de todo e dar a quem tem só um bocadinho.   

Troque lá isso por miúdos

Não, miúdos não roubo, só coisas. Por exemplo, agora a malta tem de levar um taparuére com comida para o emprego porque já não pode ir comer ao restaurante. Ora, o mínimo que posso fazer por estas pessoas é ir a uma loja da Bagatela e roubar umas paletes de taparuére para distribuir ali na zona do Saldanha à hora do almoço.

E fazer um serviço aos mais pobres, que nem possuem almoço?

Se não possuem almoço não precisam do taparuére, caramba.

Mas você só rouba tupperwares? Isso não é muito à Justiceiro...

Você diz isso porque as pessoas têm uma série de preconceitos em relação ao que é ser justiceiro. O Zorro saltava sempre de espada na mão e matava outros mexicanos, e depois rasgava o zê no tecido das vítimas. Ora, experimente lá correr com uma lâmina afiada na mão e rasgar as roupas das pessoas sem ir parar à cadeia. Eu experimentei uma vez e não resultou bem, até me ficaram com o canivete.

E o Robin dos Bosques?

É que o Robin ainda podia roubar um saco de moedas, uma arca de jóias... Agora o máximo é um blackberry ou um cartão de crédito, que aliás não serve para nada porque depois não sei o código. Esta mania das tecnologias veio dificultar largamente a prática da justiça de rua em Portugal.

Mas esses não são os únicos justiceiros. Olhe, há o Batman.

Ainda tentei imitá-lo, sim, mas não deu. É que o gajo era rico e vivia numa cave. O espaço ainda arranjei, até porque o meu apartamento fica num rés-do-chão na Amadora e tem uma arrecadação onde podia meter umas coisas. Mas para imitar o carro tive de pintar o meu Fiat Punto de preto e pôr-lhe uma coisas ao lado das rodas, para o tornar aerodinâmico. Chamei-o de Bigocarro, mas a primeira vez que tentei perseguir um homem de classe média alta que conduzia um Mercedes fiquei retino numa operação stop porque o Fiat Punto começou a soltar peças. Além disso, o meu primo Ronaldo, que era para fazer de Robin, era alérgico a látex. Ora, eu não sabia disso. Lá fui eu de Fiat Punto pô-lo ao hospital.

E planos para o futuro?

Olhe, para lhe ser sincero gostaria de abrir uma escola de Justiceiros. Ser Justiceiro tem os seus benefícios e acho que está na altura dos jovens olharem para a justiçaria como uma actividade séria. De resto vou continuar justiçando e justiçando vezes sem conta. Quer um taparuére da Bagatela? 

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