- A gente temos de ter cuidado com o degrau do comboio! –
avisou a educadora. As crianças levantaram-se, preparando-se para descer na estação seguinte.
De súbito o comboio parou a meio da linha e todos os transportados viraram a cabeça para a educadora, austeros, de boca fechada. As crianças, assustadas, olharam
em volta. Uma das portas abriu-se e entrou um homem de fato branco, gravata
branca, sapatos brancos, enorme cabelo preto e olhos pregados na educadora.
Caminhou até ela enquanto afagava a cabeça das crianças:
- “A gente” deve ser seguido de “tem” e não “temos”, porque “a
gente” é singular e não plural. Apesar de aparentemente incorrecta, a expressão
pode ser utilizada mas – e com isto chegou à educadora, apontando-lhe um
indicador – com muito cuidado. Eu diria até que a gente tem, tem! de ter
cuidado.
E, em jeito de despedida, aplicou um sonoro carolo no cucuruto
da educadora. O homem de branco saiu apressadamente, os passageiros voltaram a
olhar em frente e o comboio retomou a marcha. As crianças riram vendo a
educadora curvada de dor, e aprenderam que a gramática também podia ser
divertida.
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