CENA 1
Director de Programação e Produtor encontram-se numa reunião de trabalho.
Director de Programação: Meu querido amigo, este programa tem de ser feito. Não há hipótese. Eu sei que é terrível, e que poucas audiências tem, mas alguém tem de o fazer. Afinal, é o Festival da Canção.
Produtor: Pois, aquela coisa da tradição…
Director de Programação: Não tarda todas as velhotas que ligam a isto morrem, e podemos enfiar repetições do “A Minha Sogra é uma Bruxa” no horário nobre sem ser preciso chegar a estes extremos; mas por agora há que agarrar o boi pelos cornos.
Produtor: Touro.
Director de Programação: Seja. Precisamos de um cenário.
Produtor: Já tenho um teatro e alguns cubos de acrílico colorido para meter com umas luzes lá por dentro. Dá um tom alegre e moderno.
Director de Programação: Público?
Produtor: Enche-se umas camionetas com velhotas e dá-se dez convites a cada intérprete. Eles trazem sempre família.
Director de Programação: Giro era fazer isto com putos, como a TVI.
Produtor: Não temos o Goucha.
Director de Programação: Mesmo assim. Qualquer coisa era melhor que isto. Enfim.
Apresentador? E que tal o Malato? Aí está um tipo giro.
Produtor: Não dá, não dá. Ele não aceita uma coisa dessas.
Director de Programação: Então?
Produtor: Eu resolvo o problema.
CENA 2
O Produtor entra numa arrecadação, e a um canto, por entre cassetes e armários velhos, está Silvia Alberto.
Sílvia Alberto: Não me digas que é outro programa com putos a dançar.
Produtor: Festival da Canção.
Sílvia Alberto (destruída):Pelo amor de Deus… Vocês odeia-me… Tem de ser…? É do meu sinal? Diz-me a verdade… A Catarina Furtado é mais estúpida que eu e também tem uma verruga!
Produtor: Sílvia, não é nada pessoal… Por favor, não me leves a mal. Anda, temos de te maquilhar e tirar as teias de aranha.
Sílvia Alberto rasteja tristemente, ajudada pelo Produtor, e saem de cena. O pano cai.
FIM
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