quinta-feira, 11 de março de 2010

Um pequeno momento de honestidade

Hoje aconteceu-me uma coisa estranha. Estava de pé, a carregar o meu cartão Lisboa-Viva com viagens de metro, quando um individuo negro, enorme, de óculos escuros e casaco de cabedal se aproximou e parou mais perto de mim do que seria socialmente aceitável. Por momentos pensei que ia ser assaltado, enquanto esperava que o troco saísse da máquina, mas isso é porque sou medricas. As moedas caíram, tirei-as, e estava a afastar-me da máquina quando o enorme negro me fez sinal para voltar para trás, e eu tive a certeza que ia ser morto à facada ou assim. Ele estendeu a mão, enfiou-a dentro da abertura da máquina que cospe os trocos, e retirou uma moeda de 1 euro, que me estendeu de seguida.

Fiquei surpreendido; primeiro porque nunca me esqueço de moedas dentro da máquina, e depois porque aquele tipo podia ter-me deixado ir embora e ganho um euro, que nem é muito mas também não é pouco. Mas não, fez-me sinal e estendeu-me a moeda, pedindo-me ajuda de seguida porque não sabia como pedir um bilhete à máquina. Ajudei-o, e cada um segui com a sua vida.

Gostei deste momento porque, em 30 segundos, relembrou-me o porquê de ser uma pessoa honesta e boa com os outros. Ao ler e investigar sobre religião e moralidade, fico surpreendido quando as pessoas dizem que seria impossível desenvolver um código moral e levar uma vida honesta sem a crença em Deus.

Não faço a mais pequena ideia se o homem me deu a moeda esquecida por ser religioso, mas isso não importa. É por situações como estas que vale a pena ser boa pessoa; porque fazer o bem pelos outros é um investimento na sociedade, que mais tarde ou mais cedo, recebendo o bem, vai responder com certeza na mesma moeda. Não é preciso nenhuma garantia de um código moral superior e infinito, ou a promessa de uma recompensa de quem nos vigia; basta o simples facto de, ao viver em sociedade, fazer o bem tende a atrair o bem, enquanto que se andarmos de um lado para o outro a ofender e roubar toda a gente rapidamente seremos excomungados do resto da sociedade. Chama-se “ser honesto porque sim”; não custa nada, e sabe lindamente.

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