sexta-feira, 30 de abril de 2010
A colher é para ser metida, minha senhora
quarta-feira, 28 de abril de 2010
Momento "Afinal o Facebook é ainda mais banal e estupidificante do que eu pensava" de hoje
Descobriram a Arca de Noé!
Gostaria de dizer que se trata dos resultados de uma fastidiosa investigação científica levada a cabo por arqueólogos e historiadores de todo o mundo, mas não… A arca de Noé foi descoberta por uma “equipa de exploradores evangelistas”, o que é tão prestigiante e digno de respeito como dizer que um novo planeta foi descoberto por “uma equipa de gajos com telescópios do Toys’R'rus”.
Uma rápida pesquisa vai levar-vos a outras “descobertas” da Arca de Noé ao longo dos últimos anos. Poderá ser que desta vez estejamos realmente perante a Arca verdadeira? Os “exploradores” dizem que sim:
“There’s a tremendous amount of solid evidence that the structure found on Mount Ararat in Eastern Turkey is the legendary Ark of Noah,” said Aalten.
Hum, a sério? Isso é óptimo! Um exemplo?
The group claims that carbon dating proves the relics are 4,800 years old, meaning they date to around the same time the ark was said to be afloat.
Ah, percebo… Então a datação por carbono é utilizada para provar que esta sim senhor é que é a Arca de Noé, mas é ineficaz e falaciosa quando demonstra que a idade da terra é muito mais do que os seis mil anos bíblicos, ou que os dinossauros e outros milhares de espécies distintas habitaram o planeta desde há milhões de anos?
Eu sei que não podemos esperar muito de um grupo de tão especializados “exploradores”, especialmente quando, por serem evangelistas, prometem uma científica e objectiva abordagem do que encontraram; mas isto é demasiado. A mesma ciência que demonstra há décadas as mentiras bíblicas é agora utilizada para “provar” a autenticidade de uma descoberta religiosa. Seria para rir, não fossem milhões de fiéis em todo o mundo acreditar na baboseira.
Deixo-vos com o último pedaço de sabedoria científica do responsável pela descoberta, que acho que diz tudo:
Yeung Wing-Cheung, from the Noah's Ark Ministries International research team that made the discovery, said: "It's not 100 percent that it is Noah's Ark, but we think it is 99.9 percent that this is it."
Então se “acham” que é, porquê duvidar?
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terça-feira, 27 de abril de 2010
A todus os fâs deste bloge:
Um grande bem aja. Estou em recuperassão tranquilisante e descançada depois da minha ressurreição, e em breve estarei pronto para retumar a escrita deste bloge. Sei que as notíssias soubre a minha morte teiem corrido os jurnais, e que o excandalo ainda não està bem resolvido. Nada temão.
A minha recuperassão está para breve. Todos os medicos e pessoal ospitalar teiem sido espetaculares. Espero sinceramente voltar para o meu querido blog acim que me foure possível.
Até lá um grande abrasso de amizade para todos e um agradecimento especial ao Jorge Couto, o segurança da noite aqui do hospital, que se voluntariou para escrever as palavras que vus estou a ditar da minha cama.
Mandarei notíssias em breve.
Assinado,
Renato Roxa
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sexta-feira, 23 de abril de 2010
Hoje no Expresso Online
LISBOA | O autor Renato Rocha, famoso pelo seu blog Trajectória Aleatória e pela recente ressurreição a que foi sujeito, voltou a falecer.
“A ressurreição foi mal supervisionada e irresponsável. O ressuscitador era um incompetente” declarou ao nosso jornal um dos familiares de Renato, que deseja permanecer anónimo. “A partir do momento em que o Renato regressou à vida, era da responsabilidade deste hospital mantê-lo vivo”
O hospital em causa, o Hospital Geral da Polícia Judiciária, recusou-se a prestar declarações mas garante que já contactou o Sindicato dos Ressuscitadores Ibéricos de maneira a requisitar os serviços de uma equipa especializada de ressuscitadores. O objectivo será ressuscitar pela segunda vez o autor, que faleceu esta manhã.
“Escusado será dizer que não iremos pagar por esta segunda intervenção” explica o familiar “Mas há que deixar bem assente que este Hospital será contactado pelo nosso advogado”. Ao que conseguimos apurar, a família do autor quererá realmente processar quer o Hospital Geral quer o Sindicato dos Ressuscitadores Ibéricos. A acusação será de negligência médica.
“Um ressuscitador que faz alguém regressar à vida e depois não consegue impedir que o seu paciente morra uma segunda vez é simplesmente incompetente, e deve ser sancionado” diz Paulo Marques, o advogado da família Rocha “Tenho a certeza que quando o Renato renascer pela segunda vez nos apoiará no que foi, para a família, uma decisão difícil mas moralmente obrigatória”. O advogado promete perseverança, garantindo que este caso deve ser levado “até às últimas consequências”.
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quarta-feira, 21 de abril de 2010
Hoje no Diário de Notícias
LISBOA | Renato Rocha, o autor do famoso blog Trajectória Aleatória, foi ressuscitado esta manhã pela equipa médica da Polícia Judiciária. O corpo de Rocha estava a ser preparado para o funeral, a realizar esta tarde, quando uma mensagem da Comissão Reguladora de Conteúdos Imorais e Incomodativos interrompeu o processo e apelou ao ressuscitar do famoso escritor.
“ A ressuscitação correu lindamente” disse Rocha ao nosso jornal, ainda um pouco abalado com o sucedido. “Os médicos e enfermeiros trataram-me com o maior respeito e encorajamento, e sinto-me preparado para retomar o meu trabalho no blog assim que receber alta”. Apesar de estar ainda sob atenta observação médica Rocha não perde o bom humor “Já assinei alguns autógrafos!”
A família do autor está satisfeita com a ressurreição, mas acusa a Comissão Reguladora de Conteúdos Imorais e Incomodativos de excesso de preocupação com a mensagem publicada há dois dias no Trajectória Aleatória. “A Comissão agiu sem o nosso consenso, aproveitando um período de tristeza e luto para nos chamar de imorais. A nossa mensagem nada tinha de ofensiva, apenas queríamos dar a notícia do falecimento do Renato. A Comissão agiu sem nenhum respeito pela privacidade da nossa família”
A Comissão, por seu lado, responde numa curta declaração que “Fez tudo para proteger os interesses comichosos dos leitores do blog, ofendidos pelo carácter violento da mensagem”. A Comissão não quis prestar mais declarações.
Ao que o nosso jornal conseguiu apurar, Renato Rocha terá alta em poucos dias, pelo que não tarda veremos novos posts da sua autoria no seu blog. Resta saber se o autor, ateu e céptico generalizado, escreverá sobre a possibilidade de ter passado por uma experiência de quase morte.
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terça-feira, 20 de abril de 2010
Comunicado da CRCII aos leitores deste blog
A todos os leitores do blog Trajectória Aleatória:
A Comissão Reguladora de Conteúdos Imorais ou Incomodativos (CRCII), liderada por um grupo de velhinhas que fazem croché e se ofendem por tudo e por nada, achou demasiado violenta a afirmação publicada recentemente neste blog. A informação em causa dava conta da morte repentina do autor, e foi assinada pela família do respectivo.
Assim, para satisfazer a Comissão Reguladora e todos aqueles que de alguma forma se tenham sentido minimamente incomodados por uma coisa tão enormemente significante como um post num blog lido por 5 ou 6 pessoas, a autópsia do autor foi interrompida para se proceder à ressurreição do corpo, marcada para breve.
Mais informações serão dadas quando disponíveis.
Atenciosamente,
A Comissão Reguladora de Conteúdos Imorais ou Incomodativos
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segunda-feira, 19 de abril de 2010
A todos os leitores deste blog,
quinta-feira, 15 de abril de 2010
Afinal a cura para o cancro está na Internet: conversa com um crente na energia da água
O Harry Potter é mais moral que o Cristianismo
quarta-feira, 14 de abril de 2010
Portugal: um bocadinho mais perto da teocracia!
terça-feira, 13 de abril de 2010
Conhecem Mr. Deity?
O meu título está aqui
Até que ponto pode um texto falar de si próprio? É essa a noção que tentarei, eu texto, explorar em seguida. Uma vez que a minha pequena divagação filosófica tem limite de parágrafos, vou tentar não me alongar demasiado.
Um texto de ficção como eu próprio pode conter em si dicas para a estrutura de si próprio; por outras palavras, um texto descreve e conta uma história com personagens e acções, mas pode também cair na auto-divagação e, ao invés de transmitir a mensagem necessária e desejada, perder-se em divagações. Entretanto chegámos já ao segundo parágrafo, e ainda nem introduzi a questão convenientemente. É melhor começar de novo.
Um texto de ficção pode conter em si próprio dicas para… Espera. Que desperdício de parágrafos é este? Vou no terceiro parágrafo e ainda não disse nada. Prometo que será agora, no próximo parágrafo, que começarei a falar do que interessa.
Quarto parágrafo, e cá estamos.
Ups, já lá foi. Quinto.
O texto tem agora cinco parágrafos.
Ou melhor, seis.
Ou melhor, sete.
Sabem que mais? Esta progressão está a aborrecer-me. Vamos definir o nosso texto como estando no parágrafo n+1, sendo n o número do parágrafo em que é feita a afirmação “este texto tem X parágrafos”.
Portanto, este texto tem neste momento 10 + 1 parágrafos; ou seja, onze.
Uou, esperem lá, isto não está bem. AGORA é que tem onze parágrafos, porque contamos com ESTE parágrafo; mas assim destruímos a definição construída anteriormente.
Acabei de me contrariar.
E acabei de acrescentar mais dois parágrafos. Seja. Estamos no parágrafo 13.
14.
15.
16.
17.
18.
No entanto… E se eu colocar um vigésimo parágrafo, já a seguir, que diga:
No entanto… E se eu colocar um vigésimo parágrafo, já a seguir, que diga:
Na verdade, temos quantos parágrafos? 19? Ou 20, contando que repetimos um dos parágrafos e por isso dois dos parágrafos anteriores são na verdade o mesmo?
A resposta correcta é: 22 parágrafos. Porque este já conta.
E com isto chegamos às 325 palavras. E agora? 334. Como é deprimente! 338. O mero registo escrito do número de palavras presentes aumenta essa contagem de forma significativa, de maneira que (a propósito, 359) quanto maior for o paleio maior a contagem. 368.
De certa forma torna-se repetitivo, mas não deixa de ser curiosos que nunca possamos contar realmente quantas palavras eu tenho. O mero acto de as registar aumenta-as, e torna a contagem que acabo de fazer e registar obsoleta. Pode ser dito que (416) entre a contagem e o registo à aquele momento em que chego a um verdadeiro número, realista na sua descrição da realidade, mas para um ser humano como vós é fácil dizer tal coisa. Um texto como eu existe por palavras, não por pensamentos. O meu pensamento são as palavras, pelo que (469) acrescentar pensamentos é acrescentar palavras; e o facto de não as poder contar deixa-me com uma enorme insegurança…
Pronto… Já estou eu a suar…
… Basta um nervosismo… uma contrariedade… um minúsculo paradoxo… para me deixar assim…
...hgthGGYHBhhub...!
E agora tusso? Ou foi um espirro? Esta tentativa de me personificar está a deixar-me louco! Como posso ambicionar tornar-me algo mais do que palavras? Quanto muito sou o veículo dos pensamentos e das sensações, mas nunca eles próprios por si só. Já pensaram como a vossa consciência de seres vivos vos facilita a vida? Como é frágil a minha existência, depositada numa folha de papel que é do mais combustível que pode haver?
Sabem quantas fogueiras são acesas com primos e conhecidos meus?
As instruções de utilização de um electrodoméstico. Um livro de crianças. Um catálogo da D-MAIL. Como a vida é precária! A minha existência, definida por aquele que me escreve! Faz de mim o que quer, quando quer, apaga-me com um botão ou com uma borracha, risca-me, limpa-me, rasga-me!
Tinta! A tinta é o meu sangue, derramado enquanto sou escrito!
…
... Estou a suar outra vez……
Agora ainda mais………..
Que…… vergonha, meu deus…….
Perdoem-me……… Perdoem-me toda esta…… esta loucura repentina…….
Esta auto- análise está a deixar-me de………. Rastos……
Sinto-me cansado…….. Cansado como nunca estive antes……… De rastos…….
Perto daquele momento mortífero onde as palavras se diminuem, perdem o sentido…….. Surgen as pmeiras gralhas…….... Oh deus, quem me dera ter un revisor pra meã judar…..
De rastos…… derrotado…… Escrever-me-ei noutra altura……. Mais propícia……
Por agora….. quantos….. quantos parágrafos? Ao menos digam-me……… digam-me……..
(NOTA DO AUTOR: 41 PARÁGRAFOS; E COM ESTE 42)
…….. obrigado, meu bom amigo….. obrigado…..
….. agora vou…. Que me faltam as forças…..
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domingo, 11 de abril de 2010
Senha azul
sábado, 10 de abril de 2010
Alô? Espírito, estás aí?
Hoje tive a oportunidade de ver mais um dos programas da TVI onde uma senhora inglesa afirma falar com os mortos. Quem me conhece e lê este blog sabe perfeitamente qual a minha opinião sobre este tipo de fraudes, e por isso não vou perder tempo a entrar em pormenores.
Mas podem perguntar, como podemos avaliar se isto se trata de fraude ou não? Talvez por isso vi o programa. Não só pela curiosidade, mas também porque queria ver até que ponto a senhora médium seria capaz de me impressionar. Não estava à espera que me desapontasse tanto, mas ok.
Senão vejamos. A médium utiliza um método que é constante e praticamente infalível, que joga com as probabilidades mais simples. Toda a gente os reconhecerá. Lembra-se de um jogo que havia há uns anos chamado Quem é Quem? Havia um tabuleiro com 50 caras diferentes para cada jogador, e cada jogador escolhia um cartãozinho com uma cara. O nosso oponente tinha então de fazer perguntas cuja resposta fosse sim ou não, de maneira a ir baixando as várias caras no seu tabuleiro até sobrar uma: a cara que nós escolhemos para jogar. Lembro-me de jogar esse jogo, e de usar a estratégia mais eficiente, que era cortar logo metade das caras com a pergunta "homem ou mulher?". Das 50 faces só sobravam 25.
A técnica da médium é a mesma. Começa sempre pelo geral, escolhendo entre homem e mulher; depois vai às idades, ou às ligações familiares; e daí parte para o particular. Claro que tem a tarefa facilitada ao olhar para o aspecto e reacções da pessoa que está a enganar. Uma mulher nova, por exemplo, tem provavelmente um dos pais ou avós mortos, pelo que será difícil falar de um espírito de um homem sem acertar em cheio; e quanto mais velha é a pessoa mais probabilidades há em acertar em algum familiar ou amigo. Claro que as reacções são lidas com atenção; no episódio de hoje, por exemplo, assim que a mediu falou “num homem” a mulher alvo da fraude começou imediatamente a chorar. Estava acompanhada pela mãe, dos seus 65 anos, pelo que para a médium ou para qualquer pessoa era óbvio que pelo menos o seu pai ou avó materno estaria morto e por isso acertaria na previsão.
A reacção da mulher, caída em choro repentino ao ouvir a palavra “homem”, denuncia ainda outra parte importante da fraude (para além da crença pré-existente na metodologia). É na reacção das pessoas que estão os “dados” que a médium usa para fazer os seus contactos com os espíritos. Basta ver como é notável o desvio que a conversa adquire quando a pessoa alvo faz uma careta, como quem diz “hum, não estou a perceber bem o que está a dizer”. Num episódio anterior houve um exemplo flagrante. A médium meteu conversa com uma senhora, e fez algumas sugestões. A mulher fez uma série de caretas pensativas, subentendendo-se que não estava a identificar-se com o “espírito” com que a médium parecia estar em contacto. 30 segundos se passaram, e como a senhora alvo não parecia nada convencida mas a sua vizinha, uma mulher de idade, começara a choramingar, a médium mudou a conversa. “Afinal é com AQUELA senhora que o espírito quer contactar”, disse a médium. A outra senhora levantou-se em perfeita comoção, e a primeira senhora sentou-se, sentindo-se provavelmente bastante enganada.
O carácter fraudulento do programa transpira de cada edição. Aconselho-vos a ver; para se rirem, para observarem como uma fraude é produzida e perpetuada na televisão nacional, e para ganhar talvez algum cepticismo em relação a todas estas coisas do fantástico. Nada como ver uma médium a trabalhar para chegar à conclusão de que nada há de extraordinário no que ela faz.
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sexta-feira, 9 de abril de 2010
Todos os dentinhos de leite
O pequeno Pedro devia estar a dormir, mas não conseguia. O entusiasmo era demasiado; e, tinha de admitir, o medo também.
O dente caíra durante a tarde, enquanto estava a jogar futebol. Parou a meio de uma importante manobra defensiva, levou a mão à boca e retirou um pequeno dente de leite, branco e manchado com sangue. Não gostou da visão, mas não queria começar a chorar à frente dos amigos. Largou o jogo, foi a correr para casa e sentou-se à mesa, com o dente depositado à sua frente em cima de um guardanapo. Olhou-o, enquanto passava a língua pelo pequeno buraco que agora tinha na boca.
A mãe reconfortou-o, explicando que era normal e que, aliás, o dente já estava a abanar há bastante tempo. E que ia acontecer com muitos outros dos seus dentes, ao longo do tempo, até ganhar uma coisa chamada dentição definitiva. Pedro não sabia bem o que dizer em resposta. Era suposto ficar por ali à espera que lhe caíssem os dentes todos? Como faria para mastigar as pastilhas elásticas?
A mãe explicou-lhe que havia um lado positivo naquilo tudo, que era a Fada dos Dentes.
- Estás a enganar-me – disse Pedro. Era miúdo, mas não era burro. Apesar de ainda acreditar no Pai Natal com todas as forças do seu ser, estava na idade de questionar tudo o que lhe diziam.
- Não, não estou. Porque faria uma coisa dessas? A Fada dos Dentes existe. Ela tem um exército de ratinhos que te vêem buscar os dentes que caíram, e em troca deixa-te uma prenda. Pergunta ao teu irmão, a ver se não é verdade.
- Pois pergunto mesmo. É que pergunto mesmo – disse Pedro, subindo as escadas. O irmão estava no quarto, a jogar consola. Interrompeu-o:
- Diogo, é verdade que há a Fada dos Dentes?
- Sai daqui, deixa-me jogar.
- Diz-me!
- Sim, sim.
- E o que faz ela?
- Manda os seus ratos buscar o dente que te caiu e deixam-te qualquer coisa. Uma nota, ou assim.
- Porque me haveriam de dar dinheiro em troco de um dente?
- Porque os dentes na terra dos ratos valem muito dinheiro.
- Como os jogadores de futebol?
- Sim, pois – disse Diogo, sem tirar os olhos do ecrã.
Ora, isto fora exactamente o que a mãe lhe dissera. Pedro estava convencido. Voltou a descer as escadas.
- O que faço agora com o dente? Meto-o numa caixa?
- Não, basta colocá-lo debaixo da almofada.
- E como é que me conseguem tirar o dente de debaixo da almofada sem me acordar?
- Porque… é magia.
- Ah.
- Agora vai lavar as mãos para irmos jantar.
Agora aqui estava ele, à hora de se deitar, olhando placidamente para o tecto do quarto à espera que algo acontecesse. Não podia dormir pensando que ia ser invadido por uma trupe de ratos, mas a ideia de receber uma prenda ou até uma nota agradava-o. Levantou mais uma vez a cabeça, enfiou a mão por debaixo da almofada e posicionou melhor o pequeno dentinho. Voltou a deitar-se. Sabia que a coisa não resultaria se não estivesse a dormir, porque, tal como o Pai Natal, os ratinhos não gostariam de certeza de serem apanhados a fazer o seu trabalho. Fechou os olhos e adormeceu sem se dar conta.
Os ratinhos já tinham entrado pela janela quando o acordaram com o seu barulho. As suas patas faziam um ruído arrastado e irritante no parapeito da janela. Pedro abriu os olhos, praticamente em pânico, mas não se mexeu.
- Caramba, não há luz – disse uma minúscula voz.
- Anda com isso, queres que te empurre? – disse uma segunda minúscula voz.
- Por onde descemos?
- Tens ali o cortinado. Agarra-te.
- Ai, merda.
- Cuidado senão acordas o puto. Desce lá isso.
As patinhas dos ratos arranharam pelos cortinados abaixo, e Pedro podia agora senti-los a atravessar o quarto na sua direcção.
- Quantas casas faltam?
- Não vai chegar, já te disse.
- Não foi isso que te perguntei, perguntei quantas faltavam.
- Umas sete, sei lá eu.
- Não vai chegar.
- Pode ser que este tenha mais do que um. Subo eu, fica aqui quieto.
Pedro parou de respirar. As patinhas subiam agora pelo seu cobertor, e podia sentir as pequenas garras do ratinho a furarem pelos seus lençóis. O ratinho entrou por uma pequena frecha entre a almofada e o colchão, ficou de rabo de fora durante uns segundos e voltou a sair.
- Merda, é só um e pequenino.
- Ouve-me, e agora? Fazemos como?
- Deixa-me pensar!
- Quero que me digas o que fazer! – quase guinchou o ratinho em cima do tapete, olhando para o ratinho ao lado da almofada – Não vou perder o meu emprego por causa de uma coisas destas, percebes? Arranja-te! Denuncio-te, se for preciso! O primeiro era teu, não era meu!
- E eu denuncio-te a ti, sua ratazana! O primo era meu mas tu também recebeste a tua parte pelo trabalhinho, e meio queijo da serra não me parece nada mal para manteres a boca fechada!
- Vai meter o nariz na ratoeira, seu filho de um ganda gato! – guinchava agora o ratinho em cima do tapete, agitando os pequenos bracinhos - Tenho quarenta e três filhos pequenos para criar, e não tenho a tua idade! Combinámos que desviávamos aqueles dentes mas só aceitei porque TU me disseste que a Fada não controlava as quantidades! Sabia lá eu que estavam com falta de dentes para a merda do castelo!
- Quem é que te mandou aceitar, então? Mete a ratoeira no rabo.
- Se não te calas eu vou aí e mordo te o…
- Já sei! Vai lá fora!
- Lá fora?
- Vais lá fora e chama os outros. Tive uma ideia. Vamos conseguir os dentes que devemos num instante. Vai lá!
O ratinho atravessou o quarto, desapareceu pelos cortinados acima e momentos depois regressou com uma dúzia de outros ratos, todos eles correndo atrás uns dos outros.
- Ajudem aqui! – disse o rato que estava mesmo ao lado da cabeça de Pedro. Deu um salto, subiu-lhe para cima do nariz e mordeu-o ameaçadoramente. Pedro deu um grito.
- Ao ataque! – disse o rato, mordendo-lhe o nariz outra vez. Os outros ratos treparam pelo cobertor e cobriram Pedro em segundos. Ele gritou outra vez, agitando os braços, fechando os olhos, sentindo a cara coberta por um exército de garras e pelos espessos. Tentou abrir a boca para gritar outra vez, mas um dos ratos enfiou-se entre os seus lábios e abafou-lhe o berro. Um segundo rato entrou-lhe pela boca, enquanto um terceiro se esticava para alargar os lábios.
Pedro não conseguia abrir os olhos. Já não via nada, não ouvia nada, só podia mexer os braços em pânico e procurar cuspir os ratos que lhe entravam pela boca. Sentiu as pequenas garras a enterrarem-se nas suas gengivas, e um dos seus dentes foi arrancado como uma rolha de uma garrafa. Sentiu os pêlos dos ratos ficarem misturados com o sangue quente, e começou a chorar. Queria chamar pela mãe, mas mal se conseguia mexer. Os ratos continuaram o seu trabalho, e Pedro ia sentindo os dentes a sair como que arrancados à força.
- Já os temos! Fuga, fuga! – gritou um dos ratos, molhado até à cintura de sangue e saliva, tirando a cabeça de dentro da boca de Pedro. Os ratos dispersaram, carregando orgulhosamente um dente nas patas pequenas. Atravessaram o tapete na corrida, deixando pequenos ratos de sangue pelo caminho em forma de minúsculas patinhas.
Pedro levantou-se de um salto, cuspiu para o chão e finalmente pôde gritar. Levantou-se da cama, agitou em pânico o colchão e a almofada, no terror de encontrar outro rato. A almofada voou até ao outro lado do quarto, e os lençóis foram arrancados. No meio da confusão e dos gritos, uma azulada nota de cinco euros desprendeu-se da almofada e planou até ao chão do quarto, onde ficou até à manhã seguinte.
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Porque é que eu acho que a criança-prodígio está errada
Sendo fã de um site chamado TED.com, que produz palestras de gente fascinante sobre assuntos variados, vi com curiosidade a palestra de Adora Svitak, uma rapariga de 12 anos obviamente super inteligente e provavelmente sobredotada. Na sua palestra, a pequena defende que os adultos deviam ouvir e aprender com as crianças, e que isso faria toda a diferença para poder mudar o mundo.
Isto vindo de alguém sobredotado não parece grande conselho, uma vez que a maioria das crianças de doze anos não tem grande coisa interessante ou utilitária para dizer aos adultos. Talvez por isso os miúdos andem na escola, a aprender e não a ensinar. Mas Adora tem argumentos de peso: diz ela que coisas terríveis como o Imperialismo, Guerras Mundiais e o Goerge W. Bush (incluído na lista por piada, com certeza) são tudo culpa dos adultos, e não das crianças; e os pequenos, por sua vez, deram-nos personalidades como Anne Frank e um pequeno rapazinho ciclista que, ao que parece, ajudou a juntar milhões de dólares para apoiar o Haiti (milhões esses dados por adultos, não por crianças).
Duvido que estas generalizações sejam muito correctas. Pelo mesmo raciocínio, poderia dizer que os adultos são responsáveis por coisas como a descoberta da penicilina, o desenvolvimento da medicina, ou a construção dos primeiros frigoríficos; enquanto que se as crianças mandassem no mundo toda a gente comia pastilhas elásticas ao jantar.
Adora usa um exemplo flagrante da ingenuidade e estupidez infantil, que na sua opinião é uma coisa boa e a atingir. “Nós crianças não temos medo de estabelecer metas irracionais ou aparentemente impossíveis, como acabar com a fome no mundo ou viver num mundo onde tudo fosse grátis. Quantos de vocês ainda acreditam nesta possibilidade?”. A verdade é que só mesmo uma criança, ou uma Miss Universo, podia olhar para a realidade de hoje em dia e construir a sua vida à volta de tão utópico objectivo. É preciso ter 12 anos para acreditar realmente que a Humanidade poderá atingir tamanhas façanhas. Não há problema em acreditar nisso, muito menos em procurar fazer a nossa parte para nos aproximarmos desse objectivo; mas acreditar que um mundo sem fome é virtualmente impossível não é um problema de mente fechada que os adultos têm; é a conclusão lógica quando se olha para o nosso planeta.
Para Adora, esta capacidade de imaginar objectivos sem limitações é uma boa ideia; e até pode ser. A criatividade é eficiente, quando alguém a deixa idealizar e criar à vontade. Talvez por isso as grandes empresas publicitárias tenham vindo a perceber a vantagem inerente a dar aos seus funcionários um ambiente mais descontraído e estimulante, de maneira a deixar a criatividade o mais “livre” possível. No entanto, isto é pouco eficiente quando lidamos com o mundo real. Mesmo dentro da publicidade, os publicitários podem imaginar qualquer coisa dentro de certos limites. Estes limites são necessários, uma vez que ninguém trabalha com orçamentos ou materiais infinitos e ultra-manejáveis. Lembro-me de ter estudado a “metodologia projectual”, uma espécie de ciclo de regras a seguir quando se cria um projecto artístico; e a primeira coisa a fazer é algo chamado “Recolha de Informação”, de maneira a sabermos de que forma estamos limitados pelos materiais e ideias que vamos utilizar. Isto não serve para nos tirar criatividade, mas sim para a direccionar.
Adora quase compara ainda os adultos com os regimes totalitários, no sentido em que, defende ela, os adultos não deveriam ser capazes de fazer as regras em relação aos miúdos; em vez disso, essas regras, como s regras dentro da escola ou do acesso à Internet, deveriam ser decididas quer pelos adultos quer pelos miúdos, em conformidade de opinião. Isto é provavelmente o maior disparate da palestra, e penso que não é difícil perceber porquê.
A verdade é que há razões para tratarmos as crianças como crianças, e os adultos como adultos. As crianças não estão preparadas, ou por falta de desenvolvimento ou por falta de conhecimento, a lidar com muitos dos problema e desafios que se apresentam à Humanidade; e é da responsabilidade dos adultos a sua educação para que um dia sejam adultos responsáveis. Por alguma razão as crianças não podem votar, não podem beber álcool, não podem casar, não podem conduzir e não podem concorrer à Presidência da República. Será esta uma forma de discriminação? Afinal, diz-nos Adora, a idade não tem nada que ver com os ideais e acções de cada um!
Claro que ninguém está à espera que uma criança de 17 anos, ao fazer anos e atingir a maioridade, ganhe subitamente capacidades que não tinha anteriormente; mas certas fronteiras têm de ser montadas de maneira a preparar os miúdos para certas coisas. Por isso os adultos dão-lhes educação e estabelecem regras que, para uma criança, podem parecer loucas ou irrelevantes, mas que na sua maioria são importantes para o seu desenvolvimento. É por haver adulto a criar os miúdos que os miúdos são alimentados, educados e podem livremente aprender e desenvolver as suas ideias.
Claro que para Adora é fácil falar, uma vez que se trata de uma criança obviamente sobredotada e bastante curiosa e capaz; o mesmo não pode ser dito de todas as crianças de 12 anos. Lá por ser impressionante ver uma criança desta idade falar e pensar assim, não podemos babar-nos e aceitar o que ela diz sem antes destilar as suas mensagens positivas do meio dos outros disparates.
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quarta-feira, 7 de abril de 2010
terça-feira, 6 de abril de 2010
Bate bate levemente (e ainda por cima na Páscoa)
Tratava-se de um homem e uma mulher, na casa dos seus 50 ou 60 anos, de guarda chuva metidos debaixo do braço e Bíblia na mão. O homem, dos dois o único que participou na conversa, trazia uma mala a tira colo, enorme, cheia de folhetos e livros. Assim que abri cumprimentei-os e eles avisaram-me que estavam ali para me falar do que Deus fizera por mim na terra através do seu filho, Jesus. Eu disse que não era crente, mas que estava pronto a ser convencido.
A conversa durou cerca de uma hora, e foi interessante mas estranhamente previsível. Não houve nada que o homem me tivesse dito que eu não esperasse já, desde utilizar passagens bíblicas para justificar o seu ponto de vista até defender como são ridículas as posições científicas.
O homem começou por me dizer que Jesus morrera por mim, e que Deus me dera a sua morte como forma de me oferecer a salvação; prova disso era que a Bíblia referia isto mesmo. Argumentei que não tinha razão alguma para acreditar naquilo, e depois de ouvir muitas passagens da Bíblia perguntei-lhes porque deveria levar o que aquele livro me estava a dizer a sério.
O homem pareceu surpreendido, sorriu-me e disse “Ora, meu amigo, Jesus disse que…” e continuou a ler da Bíblia. Interrompi-o, perguntando-lhe se me podia apresentar alguma razão, fora da Bíblia, segundo a qual eu deveria acreditar que aquele livro tinha sido escrito por Deus. O homem sorriu-me outra vez e leu da Bíblia qualquer coisa como “Este livro é escrito por Deus e pronto”.
“Ok”, respondi, “Mas o que me está a dizer é que a Bíblia diz que a Bíblia está certa. Como posso comprovar isso? Onde está uma terceira fonte, que me permita comprovar que Deus inspirou este livro?”; e o homem fez mais uma citação; da Bíblia, claro.
Desisti. Começámos a falar sobre o porquê da Salvação. Ao que parece, Adão, o primeiro homem, pecou, e por isso Deus enviou o seu próprio filho para nos salvar desse pecado. Disse-lhe que me parecia extremamente injusto levar com as culpas de uma coisa que um antepassado meu fizera há milhares de anos, e a seguir perguntei porque é que Deus, sendo omnisciente, colocara o fruto mesmo à mão de semear, sabendo que ia trazes problemas. O homem partiu para o argumento do livre arbítrio. Como podia Deus proibir que Adão tomasse a sua decisão sem destruir a sua liberdade? “Então Deus sabia dessa decisão?”, “Claro, mas queria que Adão tomasse a sua decisão sozinho”, “Então Deus sabe o resultado das nossas decisões antes de acontecerem?”, “Não”, “Então como pode ser omnisciente?”, “Não, mas ele sabe o que vamos decidir antes de o decidirmos!”, “Então Deus já sabia que Adão ia decidir tomar o fruto, porque é que simplesmente não tirou o fruto do Jardim do Éden?”, “Porque Deus não sabia que Adão o ia tomar, deixando a decisão inteiramente nas mãos do Primeiro Homem”.
Tentei mostrar ao homem que estava a contradizer-se, mas ele desviou a conversa outra vez e começou a falar sobre ciência. “Há muitas coisas que as pessoas hoje em dia acham que sabem mas fora da Bíblia não sabemos nada de nada. Por exemplo, você acredita que o homem veio do macaco?”
Eu disse que obviamente que não, porque os homens e os macacos são primos, descendentes de um mesmo ancestral, e não pai e filho. O homem olhou para mim com um sorriso sarcástico e disse-me que a evolução era mentira, e que se eu tivesse alguma informação sobre isso que ele agradecia muito.
Eu disse-lhe que havia uma série de provas interessantes, começando pelo registo fóssil que demonstrava uma evolução gradual desde primatas até seres humanos, e que os cientistas estavam a construir um modelo cada vez mais realista sobre as origens da nossa espécie; mas o homem interrompeu-me. Ele disse que não acreditava em nada disso porque os cientistas estavam sempre errados. A sua prova? “No meu tempo”, disse ele, “Diziam-me para bebermos muita água, porque fazia muito bem. Ainda no outro dia veio no jornal uma notícia a dizer que os especialistas aconselham a bebermos água apenas quando tivermos sede. Está ver?”. O homem abriu-se num sorriso e numa expressão facial transparecendo “Duh!”.
“Esta casa” continuou ele, apontando para a parede atrás de mim “Existe porque alguém a fez. Você não pode ter uma casa sem ter sido feita por alguém, e assim é com o homem”.
Ao que parecia, a minha casa e um engano de nutricionistas sobre o consumo de água podia destruir o conceito da evolução. Pareceu-me que estava a falar com um potencial prémio Nobel, pelo que lhe perguntei se poderia falar com Deus, da mesma forma que podia falar com o arquitecto e engenheiro que construíra a minha casa. Ele disse que não, e continuou a insistir que a evolução era mentira e que, se eu lhe pudesse explicar alguma coisa sobre isso, agradecia. Falou-me com tamanho sarcasmo e com tamanha certeza que eu não ia poder dizer nada contra ele que em vez de me interromper esperou uma resposta, e eu dei-lha.
Expliquei-me como funcionava a selecção natural, e como uma experiência com E. Coli, a decorrer há 25 anos nos EUA, tinha provado de forma bastante conclusiva que as mutações genéticas beneficiais a uma espécie são transferidas para as gerações seguintes, para benefício da espécie em causa. Por esta altura reparei que ambos, quer o homem quer a mulher, olhavam para mim com olhos de vidro, vazios de conteúdo, como robots acabados de desligar. Perguntei-lhe se sabiam sequer o que era o ADN, na esperança de poder continuar a explicar como o material genético de diferentes espécies apresenta semelhanças proporcionais à sua proximidade na árvore da vida. O homem pareceu acordar de um transe. “Não sei nem me interessa, mas também não preciso de nada disso para saber que a Bíblia está certa”.
Depois de tamanha desonestidade intelectual, percebi que a conversa era inútil. Eu fizera perguntas e interessara-me sobre o seu ponto de vista, mas assim que o homem me pediu explicações e eu lhas dei com toda a descontracção, ele ou desvia a conversa ou contradizia-se. Deu-me um folheto, agradeceu-me a “boa educação” durante a conversa, e cumprimentou-me com um aperto de mão. A senhora que ia com ele também parecia impressionada, talvez não só porque fiz conversa com eles mas também porque não lhes fechei a porta na cara assim que abriram a boca; algo que, penso eu, deve ser raro.
Foi uma conversa interessante, mas bastante vazia. Agora que penso nela, lembro-me de dezenas de coisas que gostaria de ter referido, e que responderiam a muitos dos argumentos que me foram apresentados. O homem era bem falante, simpático, e apesar dos numerosos gafanhotos que cuspiu ao longo da nossa conversa, uma boa companhia; mas deixava transparecer aquilo que mais me assusta no pensamento religioso.
A sua total desonestidade intelectual, que o deixava incapaz de ouvir sequer o que eu estava a dizer a partir do momento em que achava que eu discordaria com ele, abriu-lhe caminho para repetir a ladainha que, mais do que sincera, parecia previamente decorada e repetida vezes e vezes sem conta. Pareceu-me totalmente ignorante de muitas das coisas que tentava atacar, e incapaz de justificar a fé cega e parcial na Bíblia; e pior, quando confrontado com algumas perguntas sobre aquilo em que acredita, ou foi incapaz de as responder por não perceber o que estava a ser perguntado ou simplesmente não queria responder.
Receber aquele casal à minha porta foi positivo, mas ao mesmo tempo triste. Eu estava pronto para ser convencido, e ouvi o que tinham a dizer com atenção mesmo sabendo de antemão muitas das coisas que iriam ser discutidas; e mesmo assim, saí daquela conversa ainda mais afastado da ideia de crer num Deus; não por teimosia ou radicalismo, mas porque as “provas” que aparentemente convencem as outras pessoas me parecem pobres e insustentáveis.