domingo, 20 de dezembro de 2009

A Branca de Leite e os Sete Mafiosos

Prémio para quem reconhecer primeiro qual a história infantil plagiada neste texto.


Era uma vez uma bela imigrante de leste chamada Branca de Leite. Ela tinha esse nome porque tinha uma pele muito clarinha e pálida, já que vinha de um país onde neva todo o ano e não faz sol. A Branca de Leite tinha alguns problemas com as autoridades (especialmente aquelas perto da fronteira), pelo que a sua situação era precária: estava ilegal naquele Reino, e trabalhava como uma escrava para a Rainha, sua Madrasta má.

Por isso, a Branca de Leite vivia no castelo gigantesco e desproporcionado da Rainha, onde tinha de esfregar e engraxar, lavar e ensaboar, cozinhar e desengordurar, costurar e lustrar. Passava os dias inteiros a lavar as escadarias do castelo (assim que acabava o lance principal já todos os outros tinham tempo para se sujarem outra vez!), a costurar os longos e vistosos vestidos da Rainha, a tratar das refeições, a limpar as casas de banho banhadas a ouro, a aspirar as migalhas no salão de jantares. A Branca de Leite mal tinha tempo para si… Mas apesar de tudo, era a rapariga mais bela do Reino!

O que, como é lógico, despertava inveja na Madrasta má. Como todas as Madrastas más, esta era invejosa e maliciosa. Tinha cinquenta anos e nem uma ruga, e orgulhava-se de “nunca ter feito uma plástica”. Para além disso, era mentirosa.

A Madrasta má vivia para as festas, cocktails, penteados e nenhuma, absolutamente nenhuma plástica. No entanto, e apesar de toda a sua vida ser cheia de preocupações à volta de sapatos novos, malas de pele e centros de mesa para as suas festas, a Madrasta tinha muito tempo livre, pelo que passava várias horas a olhar para a Branca de Leite, do cimo da sua torre de marfim e diamantes importados, alimentando a sua inveja pela bela menina.

- Maldita Branca de Leite! – dizia ela todos os dias; e a seguir, voltava-se para o seu televisor plasma de 25 polegadas e perguntava: - Televisor meu, televisor meu! Haverá alguma mulher mais bela do que eu?

E o televisor, sabendo dos muitos problemas de auto-confiança da Rainha, respondia mecanicamente:

- Não! Não há nenhuma, neste mundo, mais bela do que tu!

Claro que havia; era a Branca de Leite! O televisor sabia-o muito bem. Aliás, sabia-o ele e todos os habitantes do Reino. Só a Rainha é que vivia em negação.

Ora, no dia em que a nossa história começa, tudo estava no seu devido lugar no Reino: A Madrasta procurava um novo serviço de catering para a sua festa de Primavera, no alto da sua torre; e a Branca de Leite lavava a escadaria à entrada do castelo com uma escova de dentes e líquido anti-calcário. Foi então que, vinda de lá do fundo da estrada, surgiu uma bela e brilhante mota branca, cromada e ofuscante. Montada nela vinha um homem louro, musculado, de ombros largos e roupinha de nobre: um verdadeiro Príncipe Encantado! A Branca de Leite olhou, rendida; e o Príncipe, reparando na bela rapariga de leste, abrandou até parar e meteu conversa:

- Boa tarde, minha senhora! – disse o Príncipe, com um sorriso encantador. A Branca de Leite largou acidentalmente a escova de dentes e sorriu nervosamente.

Foi com surpresa Madrasta má, entre dois telefonemas para floristas, veio à janela espreitar se chovia e deu por si a olhar para a sua escrava de leste a conversar amigavelmente com um Príncipe Encantado. Em fúria, pôs-se a observar detrás dos cortinados importados, resmungando:

- Maldita Branca de Leite! Maldita Branca de Leite!

O televisor, que estava mesmo a ver o que aí vinha, preparava-se para a resposta habitual.

- Maldita Branca de Leite! – repetia a Madrasta, enquanto a jovem de leste, lá em baixo, oferecia amavelmente uma cerveja fresquinha ao Príncipe Encantado. – Olhem para aquilo! Até lhe dá uma cerveja!

O televisor afiou a língua.

- Televisor meu, televisor meu! – começou a Madrasta, dramática – Haverá alguma mulher mais bela do que eu?

- Não, não há nenhuma mulher mais bela que tu! – começou o televisor, mas não resistiu, e acrescentou – Mas a Branca de Leite é mais simpática!

A Madrasta arremessou o telefone portátil contra o ecrã do televisor, que se rachou ao meio e cambaleou, desequilibrado com o impacto.

- MALDITA BRANCA DE LEITE! – gritou a Madrasta. Houve um momento de pausa. O televisor estava dorido e arrependido. A Madrasta reflectiu durante uns segundos e voltou a pegar no telefone, apanhando-o do chão.

- Chega! A Branca de Leite não voltará a estragar o meu humor! – procurou por entre os números e encontrou o “Assassino Profissional”. Carregou no botãozinho verde e encostou o telefone à sua orelha totalmente desprovida de plásticas.

No dia seguinte, a Branca de Leite foi simpaticamente convidada pela Rainha a ir apanhar flores para decorar o castelo, acompanhada por um florista chamado Romeu. O florista Romeu tinha luvas de seda preta e um ligeiro relevo dentro do casaco, mas a Branca de Leite, na sua inocência, pensou tratar-se de um alicate. Foram pelos campos fora, a Branca de Leite a colher flores e a correr com os animais da floresta. Romeu olhou para a bela rapariga. Era tão bonita, tão inocente e simpática; até lhe prometera uma cerveja fresquinha quando chegassem ao castelo, se Romeu a deixasse colher flores para ela e levá-las escondidas debaixo da blusa! Romeu olhou em volta para a planície e achou-a suficientemente deserta. Engatilhou a arma dentro do bolso do casaco e olhou para a sua futura vítima mais uma vez. Branca de Leite, sentada debaixo de uma nespereira, acariciava um coelho, cheirava o aroma das flores que colhera, sorria ao ver as formas engraçadas das nuvens lá em cima, no céu, sonhava com Reinos longínquos e Príncipes Encantados…

Romeu, o florista, posicionou o silenciador atrás das costas e aproximou-se dela por trás. Ela não deu por nada; continuou a acariciar o coelhinho e a cantarolar inocentemente. Romeu parou. Pobre rapariga, pensou ele. Tão nova, tão bonita, tão simpática, e escrava da Rainha má… Uma súbita onda de compaixão fez tremer o dedo de Romeu, que entretanto se colocara no gatilho do silenciador mas que agora hesitava. Branca de Leite cantarolava na sua língua natal uma música de embalar. O coelhinho adormecia no seu colo. Romeu tirou o dedo do gatilho e limpou a lagrimita ao canto do olho. Arrumou o silenciador dentro do bolso e chamou:

- Branca de Leite!

A menina olhou para o florista com um sorriso carregado de alegria.

- Branca de Leite, ouve o que te vou dizer… A Rainha trouxe-me aqui para te matar! Eu não sou florista coisa nenhuma! Devia estar a liquidar-te… mas não consigo… - outra lagrimita – Tens de fugir, fugir para muito longe! Vai, foge para a floresta e nunca mais voltes! Senão a Rainha mata-te a ti… e a mim também!

A Branca de Leite ficou muito surpreendida, e nem conseguiu dizer nada. O Romeu continuou a segurar o alicate dentro do bolso, virou-lhe as costas, comovido, e desapareceu atrás da nespereira! Branca de Leite viu-o a afastar-se pela clareira.

- Romeu! – chamou ela. O coelhinho ao seu colo acordara entretanto, e olhava-a com curiosidade.

Romeu afastou-se rapidamente. Pelo caminho, tirou as luvas de seda e deitou o silenciador a um riacho: decidiu reformar-se.

Pobre Branca de Neve! Sozinha na floresta, sentiu-se subitamente perdida e assustada. Nunca tinha saído do castelo onde morava desde que chegara ao Reino; e muito menos conhecia aquela floresta! Andara tantas horas com o florista Romeu que já nem sabia de que lado tinha vindo.

- Coelhinho, coelhinho! – exclamou ela, com um ligeiro beicinho – E agora? Para onde vou? Como volto para casa?

O coelhinho não lhe soube responder, e encolheu os ombros. A Branca de Leite levantou-se da sombra da nespereira e olhou em volta. Estava absolutamente perdida! Para onde ir? Tinha de encontrar alguém que lhe pudesse emprestar um telefone, ou tentar chegar a uma estação de serviço! Sem mais demoras, e porque já era fim da tarde, pôs-se a caminho.

Horas se passaram, e a nossa pobre Branca de Leite continuava perdida no meio da floresta. Anoitecera muito rapidamente, e Branca de Leite estava cheia de fome, frio, e medo de dar de caras com algum polícia! Mas ela sabia que nunca podia desistir, e por isso continuou a caminhar, a caminhar, a caminhar… Até que…

Ao virar uma esquina e ao espreitar por detrás de um tronco muito grosso, Branca de Leite avistou uma vivenda muito pequenina, com ar tradicional e um a tabuleta por cima da porta que dizia “RESTAURANTE ITALIANO”.

- Que belo restaurante! – pensou a Branca de Leite – E eu que adoro canelones… Vou entrar!

Aproximou-se da porta, que era muito pequenina; teve de se dobrar só para conseguir tocar a campainha! Esperou uns segundos e a porta abriu-se pouco depois; e de lá de dentro saiu… um anãozinho!

- Oh! Uma pessoa pequenina! – exclamou a Branca de Leite, deliciada.

- Quem és tu? – perguntou o anão com maus modos, encostando-se à ombreira da porta para não deixar que se visse o interior.

- Chamo-me Branca de Leite e estou perdida na floresta há horas! Só procuro um sítio para descansar e um telefone para ligar ao Apoio ao Imigrante! – disse a pobre rapariga, tão convincente que o anão a olhou de alto abaixo com desconfiança mas desviou-se para a deixar entrar.

Branca de Leite curvou-se para conseguir passar pela porta, e quando lá estava dentro olhou em volta e apanhou uma grande surpresa: não era só um anão que vivia naquela casinha, eram 7!

Os anões estavam sentados a uma mesa redonda, coberta de cartas, fichas de póquer, maços de notas e fumo de charuto. Todos os anõezinhos olharam para ela do alto dos seus colarinhos engomados. Todos vestiam camisas de seda, pulseiras e colares de ouro, anéis no dedo mindinho. À sua volta, dezenas de caixas de aparelhagens e televisores.

- Oh! Tão pequeninos! – exclamou a Branca de Leite, a aproximar-se e a tossir por causa do fumo.

- Quem é esta? – perguntou um anão de smoking.

- Não te devemos dinheiro, pois não? – perguntou outro.

- És da polícia? Luigi, vê se ela tem microfones no decote! – ordenou um anão de cabelo branco lambido para trás.

- Olha que estás aqui enganada… Não não fazemos contrabando de diamantes!

O anão chamado Luigi ainda espreitou, em biquinhos de pés, à procura de microfones; mas nada.

- Eu não vos quis perturbar… - disse a Branca de Leite, encolhendo-se – Desculpem, é que ando perdida na floresta e achei que podiam dar-me um pratinho de massa… Estou tão fraquinha…

O anão do cabelo lambido para trás, proprietário de um serviço de acompanhantes de luxo, viu potencial na Branca de Leite.

- Luigi! La pasta! – ordenou ele, e o anão chamado Luigi correu para a cozinha, regressando depois com um prato de esparguete para a Branca de Leite.

Os sete anões viram-na a comer o esparguete, deliciada. Quando terminou, pediu por um sítio para descansar, porque estava muito fraca de toda a caminhada.

- Claro, Branca de Leite! – convidou o anão do cabelo lambido, puxando o cabelo ainda mais para trás com um pente que trazia no bolso da camisa – Anda, vou levar-te para os nossos aposentos!

E lá foi a Branca de Leite subir as escadinhas pequeninas, atravessar o corredor pequenino, entrar no quarto pequenino e deitar-se nas camas pequeninas dos sete anões. O cansado e o peso da bolonhesa dentro do estômago eram tão grandes que ela adormeceu assim que encostou a cabeça numa das almofadas.

No dia seguinte, a Branca de Leite foi acordada por um dos anões.

- Nós vamos agora para a nossa mina de diamantes totalmente legalizada, só voltamos à noite. Não abras a porta a ninguém, especialmente se estiver fardado. E não vás à cave. Não há lá absolutamente nada nem ninguém de interesse, ok?

A Branca de Neve concordou e despediu-se do anão, sem antes agradecer a hospitalidade. Levantou-se das sete caminhas e desceu para o rés-do-chão, a tempo de ouvir o som de sete carros desportivos afastarem-se a toda a velocidade. Sentou-se numa das cadeirinhas pequeninas e olhou em volta.

- Que desarrumação! Estes sete anõezinhos precisam de uma mão feminina nesta casa! Ainda por cima são pessoas tão simpáticas… Vou limpar-lhes a casa, para lhes fazer uma surpresa! Onde estará o limpa vidros?

Mas mesmo quando a Branca de Leite se estava a começar a sentir em casa, outro perigo se preparava para cair sobre a nossa pobre protagonista…

É que a Madrasta má descobrira que Romeu, o “florista”, a tinha enganado; e depois de o punir eficientemente, adiou todos os seus compromissos sociais para encontrar e castigar a Branca de Leite. Fez um ou outro animal da floresta falar sob ameaça de morte e, após algumas horas passadas no Google Earth, descobriu finalmente a localização do restaurante italiano onde Branca de Leite alegadamente se escondera.

Vestida de inocente velhinha vendedora de enchidos, caminhou pela floresta até encontrar o restaurante italiano. Contendo o entusiasmo, curvou-se sob o próprio peso e fingiu tremeliques nas mãos. Tocou à campainha.

- Quem é? – perguntou a Branca de Leite, segurando o Swifer do outro lado da porta.

- Apenas uma inocente velhinha vendendo enchidos, como complemento para a reforma… - disse a Madrasta, na sua melhor imitação de voz debilitada.

A Branca de Leite abriu a porta e espreitou. Comoveu-se, ao avistar a suposta velhinha:

- Pobrezinha! A vender de porta a porta numa idade tão avançada?

- Coitadinha de mim! Anda, compra-me um enchido… Só isso me trará alegria e me tirará da mais pura das misérias… – disse dramaticamente a Madrasta com uma mão na testa, estendendo-lhe debilmente a cestinha cheia de chouriços.

A Branda de Leite olhou para a cestinha com curiosidade, e analisou os enchidos.

- Têm um óptimo aspecto! Oh minha senhora, gostava tanto de a poder ajudar… - entristeceu-se – Mas não tenho aqui trocos nenhuns… Deixe-me ver se eu… - começou a Branca de Leite, preparando-se para entrar em casa à procura de moedas; mas a Madrasta (perdão, a velhinha) interrompeu-a com um choradinho comovido.

- Ora essa, minha linda menina… Eu ofereço-te um destes belos chouriços!

- Mas… Não, não posso aceitar! E o seu complemento de reforma? – angustiou-se a Branca de Leite.

A Madrasta continuava a estender-lhe insistentemente o cestinho dos chouriços.

- Não tem importância nenhuma, minha menina! Eu volto cá noutro dia com umas farinheiras e aí pagas-me tudo de uma vez…

- Não senhor! Eu insisto! Não posso aceitar os chouriços se não me deixar pagar!

A Madrasta, impaciente, forçava agora o cestinho de encontro à barriga da Branda de Leite, mantendo o sorriso amarelo e desdentado:

- Eu já lhe disse que não tem importância… Aceite lá o chouriço…

A Branca de Leite olhou da velhinha para o chouriço, do chouriço para a velhinha.

- Bem… Talvez me deixasse prová-lo… - sugeriu, envergonhada.

A Madrasta tentou lembrar-se da embalagem do veneno que pusera no chouriço, mas não conseguiu recordar qual era a dose mínima recomendada; mas mesmo correndo o risco de não a matar imediata e dolorosamente, decidiu aceitar.

- Ora então prove lá um bocadinho, a ver se gosta…! – cortou uma grossa rodela de chouriço vermelho e estendeu-o à Branca de Leite, que o olhou esfomeada.

- Que bom aspecto! Adoro gastronomia! – e deu uma dentada. Mesmo estranhando a reacção de puro entusiasmo da velhinha ao vê-la comer a rodela, mastigou, saboreou e engoliu.

- Muito obrigado! – disse a Branca de Leite, satisfeita, segundos antes de revirar os olhos e cair redondamente no chão.

A “velhinha” soltou uma gargalhada, atirando a cestinha dos chouriços para o ar. Tocou levemente com o pé na barriga da Branda de Leite, como quem atropela um cão e vai ver se o matou mesmo. Não obteve reacção, e soltou outra gargalhada. A sua enteada estava morta!

Imaginem o susto que os anões apanharam ao chegar a casa ao fim da tarde, com os seus diamantes perfeitamente legalizados! Os sete anõezinhos saíram dos seus carros desportivos e foram dar com a Branda de Leite estendida à porta de casa, com chouriços e morcelas espalhadas à sua volta. O anão do cabelo grisalho lambido para trás pontapeou-a levemente, sem cerimónias. Ela não se mexeu.

- É a terceira vez esta semana… - resmungou, conformado – Luigi, traz os sacos do lixo! Vamos levá-la para o rio.

Os anões envolveram a Branca de Leite nuns cerimoniosos sacos do lixo e meteram-na no porta bagagem de um Ferrarri. Conduziram até ao rio, onde se prepararam para o comovente funeral: Enquanto um dos anões verificava se a bagageira ficara suja de sangue, o anão do cabelo lambido para trás e Luigi apalpavam os bolsos da pobre rapariga, procurando objectos de valor. Depois, enrolaram-na de novo nos sacos de plástico, reforçando-os com aquela fita cola castanha, muito grossa, e arrastaram-na pelas pernas até à margem do rio.

O serviço fúnebre ainda estava a meio, e parte do saco de plástico ainda não estava mergulhada dentro do rio, quando o ronco de uma mota de enormes proporções se fez ouvir, aproximando-se. Os sete anões pararam o que estavam a fazer e puseram-se à escuta. Não conseguiam ouvir nenhuma sirene, pelo que continuaram a empurrar o volumoso saco do lixo para dentro do rio quando a mota branca de Príncipe furou por entre a vegetação e derrapou violentamente na margem do rio. Os anões ficaram paralisados ao ver o Príncipe descer da mota branca, ajeitando os collants de corrida e esvoaçando a capa sumptuosa atrás de si.

- O que têm aí, homenzinhos?

- Príncipe! – exclamaram os anões, exaltados. O Príncipe saltou agilmente por entre eles enquanto desembainhava a espada com um arco pelo ar e, num gesto bem coreografado, cortava o saco do lixo ao meio com um só golpe. A fita cola cedeu e o plástico rompeu-se ao meio, revelando a esbelta e estática figura da Branca de Leite, agora mais branca que nunca.

- Meu Deus! É Branca de Leite, a inocente criada que despertou o meu coração! – disse o Príncipe liricamente.

- Nós não a matámos!

- Nós nem sabíamos que ela estava aí dentro, pensávamos que eram plásticos, só que como o Ecoponto da nossa rua estava cheio viemos deixá-la aqui. Aliás, deixá-los!.

- O saco só tem as minhas impressões digitais porque tropecei para cima dele, mas eu juro que de resto não tive nada a ver com isto!

- Luigi, saca-lhe a mota!

Ao ver que Branca de Leite estava morta, o Príncipe rapidamente a desembaraçou do plástico que a plastificava e a levou para a sua mota, onde a deitou ao seu colo. Com um determinado pontapé e um jeitinho de pulso, colocou a mota a funcionar mais uma vez, e acelerou em direcção ao serviço de urgências mais próximo.

Os anões não foram acusados de homicídio, muito menos de tráfico de diamantes. O negócio vai de vento em poupa.

Quanto à Madrasta má, que tirara um curso-rápido de feitiçaria por correspondência, não conseguiu reverter o feitiço que a tornou idosa. Raramente convidada para festas ou cerimónias, viveu em reclusão no seu castelo com a única companhia do seu televisor.

Anos depois, fez três intervenções plásticas e uma rinoplastia. Actualmente exerce funções como conceituada figura pública.

Por milagre, a inocente albina foi reanimada a tempo. Seguiram-se uma endoscopia, uma lavagem estomacal, análises ao sangue e à urina e dois dias de repouso. O Príncipe esteve sempre a seu lado, e depois do devido consentimento médico, voltou a pegar na bela albina ao colo e a levá-la para a sua mota. Aceleraram romanticamente em direcção ao pôr-do-sol, onde algures atrás do horizonte os esperavam o reino do Príncipe que fez da pequena criada albina sua princesa e rainha. Foram, obviamente, felizes para sempre.


FIM

.

1 comentário:

A falta de um nome de jeito, adivinha disse...

Nao sei se sabes por isso vou aqui escrever.

A verdadeira historia da branca de neve e que ela era uma prostituta. o pai dela queria ficar com a mina dos anoes e entao mandou a filha fazer "amizade" com os mesmos para ficar com o ouro da mina. ela inventa a historia da madrasta e nao sei que...

Agora, que raio de historia e esta para uma criança?!

A tua por outro lado esta bastante "entertaining" (falta me sempre o raio da palavra).