quinta-feira, 3 de junho de 2010

Feriado: porque não?

Hoje é feriado oficial em Portugal. Por isso não tenho aulas, o que não faz grande diferença porque estou quase de férias e todas as aulas servem apenas para auto-avaliações e entregas de trabalhos atrasados. No entanto, é feriado e ninguém trabalha. A razão porque é feriado? Corpo de Cristo.
Quem lê este blog com regularidade saberá que sou um apoiante da laicidade do Estado, que existe mas apenas em algumas ocasiões. A visita Papal foi um bom exemplo de um atentado ao Estado Laico, assim como o feriado que vivemos hoje.
Eu sei que Portugal inteiro, se me lesse, estaria a grita em absoluto pavor e incompreensão. Ao contrário do que se pensa, os feriados são mais sagrados do que propriamente as festas religiosas, pelo que a mera sugestão de que um feriado, qualquer que seja, para celebrar o que quer que seja, não devesse existir, é considerada uma heresia.
Por muito que também goste de feriados, de ficar em casa a ver filmes e dormir até mais tarde, tenho de ser coerente e concordar com quem aponta a hipocrisia daqueles que se queixam que não há laicidade suficiente e depois aproveitam com toda a naturalidade um feriado que apenas celebra uma festa católica.
Sete feriados por ano em Portugal são por motivos religiosos; incluindo o Natal, que por ser uma reciclagem cristã de uma festa pagã e por hoje em dia obter contornos que ultrapassam a religião não poderá ser considerada como uma festa puramente religiosa. No entanto, dias como a celebração do Corpo de Deus, a Imaculada Conceição ou a Assunção de Maria são folgas apenas justificadas pelo seu conteúdo religioso, e que nada dizem a qualquer pessoa que não celebre as mitologias cristãs sobre virgens grávidas. Onde estão os feriados islâmicos, ou budistas? E, pior, qual seria a reacção do povo português se as festas de outras religiões fossem celebrados com folga nacional? Com certeza diriam que é um abuso que o país pare porque algum islâmico quer celebrar uma coisa que poderá muito bem fazer em casa e na qual o Estado nãos e deve intrometer; e se o dissessem, teriam razão. A mesma lógica seria aplicada, por isso, à sua própria religião.
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4 comentários:

Paulo39 disse...

Não confundir estado com cultura.
A cultura do povo português é tipicamente cristã porque este país foi fundado pelas cruzadas cristãs contra os mouros.
Daí, não se devem fazer essas comparações de "e se houvesse feriados islâmicos ou budistas?!".

E já agora, seguindo a tua linha de raciocínio, também és contra os 15 dias de férias Páscoa e os das férias do Natal?

Renato Rocha disse...

Paulo:

Mas como não é a cultura de um povo que define os seus feriados, não vejo porque será importante essa observação. Lá porque a formação do país teve raízes cristãs não significa que devemos dar o desconto; por isso acho que todas as religiões deverão ser tratadas da mesma forma.

E sim, pelo meu raciocínio sou contra as férias da Páscoa. Já em relação ao Natal, tal como disse no post, trata-se de uma celebração que nunca foi cem por cento cristã, e que hoje toma contornos que ultrapassam a religião. A própria Bíblia refere a tradição pagã de decorar árvores e a proíbe, o que não deixa de ser curioso.

What disse...

a pascoa tb n é 100% crista...
esta relacionada com as celebraçoes pagãs da primavera, daí os coelhos e as amendoas... e as galinhas...

Renato Rocha disse...

Bem visto.