- Eu juro que não aconteceu nada – garantiu Lilith pela décima terceira vez. Estava com Ariel no Quarto do Principado, a fazer as malas.
- Queres convencer-me que estiveste uma hora sozinha com ele dentro de uma sala vazia e não aconteceu nada de nada? – Ariel estava a sentir-se particularmente fofoqueira naquele dia.
- Quero – disse Lilith com determinação.
- Pronto, pronto.
***
- Eu juro que não aconteceu nada – garantiu Jack, pela décima terceira vez. Estava com Smith no seu pequeno quarto, a fazer a mala.
- Queres convencer-me que estiveste sozinho durante uma hora com uma sereia como a Lilith dentro de uma sala totalmente vazia e não aconteceu nada de interesse que me possas descrever? – perguntou Smith.
- Quero.
- Pronto, pronto – Smith levantou as mãos como que a pedir tréguas – Mas eu não acredito.
***
- Não acredites se quiseres – disse Lilith – A verdade é essa. Ele está demasiado envolvido com a Rose para sequer pensar em tentar alguma coisa comigo.
- Oh, pelo amor da Pescada – Ariel sentou-se na cama com cinco camisolas no colo – Ele olhou para ti de uma maneira inequívoca. Ali há qualquer coisa.
***
- Seja, ali há qualquer coisa – concordou Jack – Mas ela não vai tentar nada comigo. Ela sabe que ainda estou demasiado envolvido com a Rose.
- Oh, pelo amor da Pescada – resmungou Smith, frustrado – Tu viste como ela se estava a agarrar a ti. A esfregar-se, quase! Ela está doidinha por ti.
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- Que exagero! – murmurou Lilith, como quem rejeita uma possibilidade que gostava mesmo, mesmo, mesmo muito que fosse verdadeira.
- Que exagero não, tu estavas mesmo a pronunciar-te. Fizeste aquela coisa com a cauda, que tu fazes quando queres seduzir algum marinheiro sueco.
Lilith quase atirou dois pares de meias para dentro da mala.
- Isso… Isso…
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- São calúnias absolutas - resmungou Jack.
- Tá bem, tá. Digo-te – Smith riu-se conspiratoriamente e estendeu-lhe um dedo acusatório – Aquela coisa com a cauda é para te deixar maluquinho. Ela também usava aquele truque comigo.
Jack parou de arrumar a mala e apoiou-se na cama.
- Hoje é dia de novela mexicana, certo?
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- Certo – respondeu Ariel – E vou ficar a insistir nisto até teres a coragem de dizer “Ok, eu sinto-me ligeiramente atraída por ele”.
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- Ok, eu sinto-me ligeiramente atraído por ela, é verdade – Jack começou a suar – Mas… é complicado… Eu ainda gosto muito da Rose. Quero encontrá-la. Não quero mais nada neste mundo senão voltar a vê-la…
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- Oh, vá lá – resmungou Ariel, cruzando os braços – Eu sei que ele vive nessa obsessão, mas o seu comportamento trai-o totalmente. O triângulo amoroso é tão banal que já não surpreende ninguém.
- Afinal levo roupa quente ou roupa ligeira? – desviou Lilith.
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- E eu sei lá – respondeu Smith – Ainda nem percebi onde vamos.
- Vamos à procura da Rose.
- Sim, mas há mais.
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- Pois há – disse Lilith – O Pai é que ainda não nos disse nada…
- Leva das duas, então – opinou Ariel – O Nautilus tem ar condicionado.
Lilith fechou a mala.
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Jack fechou a mala.
- Vamos ter com elas? – perguntou Smith.
- Vamos.
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- E se fizeres aquilo com a cauda outra vez, dou-te um sinal para te controlares – brincou Ariel.
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- Ah, ah, ah – resmungou Jack – Muito engraçado.
Jack e Smith saíram do quarto e caminharam pelo corredor.
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- E tens que ter cuidado com a forma como falas com ele – aconselhou Ariel - Estás numa situação complicada. Ele tem de perceber que tu não estás verdadeiramente interessada nele. Senão pode magoá-lo. Esperamos até encontrar a Rose e logo se vê como tudo corre. Pode ser que consigam resolver tudo calmamente.
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- E tens de ter cuidado com a forma como lhe olhas para o decote – aconselhou Smith – Estás numa situação tramada. Ela tem de achar que tu não estás verdadeiramente interessado nela. Senão isso pode deixá-la numa crise de ciúmes descontrolada. Esperamos só até encontrar a tua Rose e logo se vê como tudo corre. Pode ser que elas resolvam isso à pancada.
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- Ok, se tu o dizes… - murmurou Lilith, preocupada.
- O que é que estavam a dizer? – perguntou Smith, aproximando-se delas. Jack vinha ao lado dele, com cara preocupada.
- Nada – cortou Ariel.
- Oh, vá lá. Somos amigos. Fazemos um grupo tão giro – Smith abriu os braços e soltou um sorriso.
- Ela já disse que não foi nada – insistiu Lilith – São conversas nossas.
- Sim. Conversas de mulheres – disse Ariel – E vocês, falam de quê?
- Conversas de homens – disse Smith, orgulhoso.
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