quarta-feira, 27 de julho de 2011

Cento e quatro

A melhor coisa na vida sou eu. Se não existisse eu não existiria, e todas as outras coisas seriam inexperienciáveis; palavra que, avisa-me o corrector automático, não existe. E tanta falta me faz, para descrever a minha própria importância na minha própria história. Não me achem egocêntrico; não o sou. É apenas uma evidência, parece-me. Sem mim não existiria nada além de mim. Não que seja um desses solipsistas; o que quero dizer é que sem mim, eu não teria o prazer de apreciar todas as outras coisas da vida, o que por definição faz com que a melhor coisa da vida seja aquilo que me permite viver todas as outras, em contraste com uma vida que é não vida, uma ausência de existência! E a razão por que todos não pensam assim e dizem “A melhor coisa da vida é o amor” ou “A melhor coisa da vida são os iogurtes”, o que quer que seja, é-me impossível de compreender; estão a ser desonestos convosco próprios. Sem vocês mesmos, não sentiam nem o amor nem o iogurte. Nem nada! Estão a ver? Estão; e mesmo que não estejam, nunca o poderia ver se não existissem. Que outra coisa pode fazer-nos valorizar mais a vida senão compreendermos que sem ela não poderíamos viver todas as outras coisas?
 

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