quarta-feira, 13 de julho de 2011

Samora 25

A primeira vez que passei uma noite na casa de Samora identifiquei-lhe imediatamente uma das características mais estranhas. Samora dormia num sofá, de certo confortável e soberbamente almofadado, mas ainda assim um sofá. Perguntei-lhe se lhe ocupara a cama e tirara uma boa noite de sono.
- Nada disso, meu caro. Durmo sempre no meu sofá. A meu ver, a cama é o lugar do homem primitivo. Desde há milhares de anos que nos deitamos em leitos horizontais, cobertos por palha ou peles ou por têxteis que condizem com o nosso estrato social e as nossas alergias. Só muito recentemente o Homem descobriu o poder da ergonomia, e pela primeira vez se preocupa em adaptar o local ao corpo e não o corpo ao local. Durmo no sofá para celebrar essa vitória, essa apoteose da razão humana. Este sofá – apontou para ele – foi feito por encomenda, por um colega de escola virtuosíssimo na arte de bem mobilar uma casa e que infelizmente já nos deixou. É a sua maior obra, é a maior obra do ser pensante, e por isso parece-me lógico que é sobre ele que me devo deitar. Assim, dormirei com os grandes.

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