sexta-feira, 29 de julho de 2011

Samora 32


Atrevi-me um dia a perguntar a Sara porque trabalhara num bordel.
- Factos da vida – respondeu-me – uma rapariga precisa de dinheiro, e essa rapariga desapontou os pais. Fechou a torneira. Há que ir buscá-lo a algum lado.
- Nunca te sentiste…?
- Nunca senti nada. Fazia sexo com aqueles homens odiosos mas pensava no dinheiro. Sou o estereótipo da prostituta sem escrúpulos, da mulher que vende o corpo para comprar mobília, da jovem desflorada por tuta e meia num beco escuro. Ainda me queres?
- Se quero.
Sara sorriu, como aliás sorria sempre. Não era um sorriso satisfeito ou feliz, apenas um sorriso. Uma confirmação. Agora estava do outro lado da barricada, do lado de quem é cliente, do lado de quem recebe o serviço e nem sequer a troco de dinheiro. Os nossos encontros eram repetidos com a frequência que as ausências de Samora da cidade nos permitiam, e com certeza que Sara teria outros encontros com outros homens noutras ocasiões. Sobre isso não queria pensar, até porque tinha a certeza que era minha e só minha. Quando a via com Samora, era minha e só minha.

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