terça-feira, 9 de novembro de 2010

O Papa toca violino

Casamento "natural". O Papa Bento XVI voltou ontem a criticar o casamento entre pessoas do mesmo sexo, defendendo o matrimónio entre homem e mulher como modelo a seguir. "As condições de vida mudaram e com elas avançaram enormemente os progressos técnicos, sociais e culturais. Não podemos contentar-nos com esses progressos. Com eles devem vir sempre os progressos morais, como a atenção, a protecção e a ajuda à família, já que o amor generoso entre um homem e uma mulher é o marco eficaz e o fundamento da vida humana na sua génese, no seu nascimento, no seu crescimento e no seu fim natural"

O Papa confunde “progresso” com “cá para mim o ideal era continuarmos todos a ter leis que defendam a posição retrógada da minha Igreja”. Para o Papa, o progresso ideal é a não-evolução. É a estagnação moral. E pior que tudo, a meu ver, o Papa nem tem a decência de dizer abertamente que é contra o casamento homossexual. Ou contra as famílias monoparentais (releiam a sua declaração e vejam lá se não se enquadra). Em vez disso, o Papa mistura a sua homofobia com um discurso coerente mas fraco, cheio de palavras carinhosas que fazem dele “uma figura bonita”, como muitos fiéis o escrevem. Esses fiéis ou concordam com ele e o escondem também atrás de “o que importa é a esperança que ele traz”, ou são analfabetos.

O Papa confunde também “apoio à natalidade” com “proibição do aborto”. Reparem que o Papa não defende que deve ser obrigatório ter filhos, ou proibido que um casal decida não reproduzir-se. Muito menos defende apoios concretos. O Papa fala apenas do aborto não por uma preocupação genuína com a natalidade, mas sim por causa da carga religiosa que o tema carregar. Neste ponto, o Papa mostra mais uma brutal desonestidade. Ao invés de defender aberta e corajosamente a sua doutrina, mascara-a com falinhas mansas sobre como:

"a natalidade seja dignificada, valorizada e apoiada jurídica, social e legislativamente".

Ouve-se suspiros na multidão. O Papa é tão doce, tão carinhoso!

Falta-lhe a coragem de dizer: “Ouça, vamos lá deixar tudo bem claro. Os ateus são violentos, o aborto é uma abominação perante Deus e os homossexuais, desculpem lá, mas deviam ser impedidos de casar ou, Deus nos livre, tentar criar uma criança”.

Se não percebem qual é o truque por ele usado, pensem no Hitler a dizer algo como:

“O que desejamos é que todos aqueles que pertencem ao mesmo grupo de crenças e características físicas possam, em conjunto, defender os nossos lindos ideais comuns, e assim proteger o que é para nós a mais sagrada das populações: a ariana. Desejamos a protecção nas nossas crianças e um futuro melhor para elas, e apenas isso. E sentimos que é nosso dever perante as gerações futuras defender a todo o custo o seu saudável crescimento num mundo onde possam crescer rodeadas de outras crianças bonitas e limpinhas como elas.”


http://www.ionline.pt/conteudo/87358-espanha-papa-defende-que-o-estado-deve-ajudar-familias-heterossexuais

1 comentário:

patricia colaço disse...

Só fico feliz pelo facto de que tanto em Santiago de Compostela como em Barcelona não terem comparecido nem a metade das pessoas previstas. Também fico feliz pelo facto de terem havido pessoas a manifestarem-se contra o facto de termos gastado 6 milhões para trazer "Sua Santidade" a Espanha e termos que ouvir discursos retrógadas e que vão em contra da liberdade de cada um. A sua visita saíu do meu bolso! Cada um que pense o que quer e acredite no que quer e consegue. Eu pessoalmente, como dizia o nosso poeta António Gedeão no seu "Cântigo negro": "Não sei por onde vou, não sei para onde vou, mas sei que não vou por aí".