quarta-feira, 27 de julho de 2011

Toda a História da Cultura e da Arte (pelo menos do ponto de vista elitista, europeu e altamente selectivo do programa de História e Cultura das Artes)

Primeira Arte que importa: os gregos. Esqueçam os milhares de anos antes, estes é que são importantes porque souberam construir templos. Equilíbrio, harmonia, o Homem e os Deuses, Fídias e o século de Péricles que durou trinta anos. Depois os Romanos: é a arte grega só que com arcos, nomes diferentes para os deuses e os frescos de Pompeia que só apareceram séculos depois (e por causa) do Vesúvio. Organizados, imperialistas, bons a fazer pontes. O século de Octávio, que durou algumas décadas. Chegam os Bárbaros: olá, tudo bem? Resposta: Cristianismo é oficial, rapazes. Guerra para ali, guerra para acolá, a civilização perfeita é destronada por tipos de vieram do Norte e usavam barba grossa. Guerras, guerras, guerras, guerras. Os monges fecham-se em mosteiros, aprendem a ilustrar, perdem horas só na primeira letra de cada página e são os únicos que sabem ler. A malta recorre à catedral para se animar da vida difícil, onde os educam sobre os benefícios do homem da barba com uma amêndoa na cabeça. Olhem o relevo, olhem o capitel, olhem que catedral grande e linda. Deus é grande! Mas o Carlos Magno é maior. Alguma paz europeia, vem o feudalismo, nascem esses malandros dos burgueses que são artesãos, mercadores, e banqueiros. Nha nha nha nha nha nhaaaa, a minha catedral é mais alta que a tua! Tem mais agulhas, e contrafortes mais bicudos, e vitrais com mais meninos a serem abençoados pelos trezentos santos que vamos produzindo por dia. Sabem que mais? Isto diz Lutero: Eu acho que essa coisa do catolicismo não me agrada. Levar dinheiro em troca do paraíso? Deus é de todos, é pessoal. Pimba, papel na porta da Igreja. Barulho, confusão, os bispos e os Papas a correr de um lado para o outro. E agora? Enquanto esses tipos em Florença andam a reler os Antigos, a fazer homens nus, a estudar a perspectiva e a desenhar decentemente a figura humana, nós vamos solucionar tudo na paz do Senhor: Primeira, Index. Segunda, Inquisição. Terceira, orçamento ilimitado para reconstruir Roma. Sim, é a melhor cidade do mundo e já está apinhada de monumentos; e depois? Mais uma praça: Bernini! Esse não é o da Santa Teresa a ter um orgasm… Sim, e qual é o problema? Temos de conquistar pelas emoções e não pela razão, pelo êxtase e não pelas explicações científicas! A propósito, esse louco do Galileu já pediu desculpas? Segue-se quem? Um século de tédio até que um Rei de peruca pensa: Eia, gostava de ter um Palácio. O Palácio é meu, e o Estado sou eu. Lá o constrói, coisa enorme, reúne lá a corte toda que lhe beija os pezinhos, e entretanto vem Voltaire e Locke e Rousseau dizer: Er, não está já na altura de rever como tratamos o povinho? Acende-se uma luz, enquanto dentro dos salões a malta decora os armários com bibelôs; e só lhe chamam Rococó porque a piroseira da decoração precisava de um nome à altura. Morre um Luís, seguem-se outros dois; e é sobre o pescoço do dezasseis que cai a guilhotina. Abrem-se as portas da Bastilha: é a Revolução! Chega o Neoclássico, arte bem iluminada: Equilíbrio, harmonia, austeridade, os edifícios são úteis ao povo. O carvão, o caminho de ferro, a máquina a vapor: meus caros, querem emprego? Então toca a descer à mina. Bem vindos à idade romântica, onde os artistas se sentam a ver o mar e choram como meninos. Resposta? Realismo, o retrato da época, as senhoras de rabo para o ar a apanhar verduras secas. Resposta? Pinceladas curtas e rápidas que ofenderam meio mundo e impressionaram o restante. Entretanto morre gente à conta das novas tecnologias: vivam os caminhos de ferro, a Torre Eiffel, a modernidade! O van Gogh corta a orelha, o Cézanne geometriza, o Gauguin vai para o Taiti. Rodin sabe esculpir bem para caraças, pá! E a propósito, já viram aquele inglês que vende aquele papel de parede cheio de mariquices? Vira o século e toca o mesmo: mais coisas novas a acontecer, uma atrás da outra, a maior parte ao mesmo tempo em atropelo. Fauvistas e a mania da cor, o Kandinsky abstrai-se, os Dadá e o urinol, Picasso e os bonecos que “até a minha filha fazia”, o Futurismo com a mania da pancada e do excesso de velocidade, o Malevitch que é preguiçoso, o Mondrian que só tinha uma régua e três lápis de cor, o Dalí e os relógios, o Rivera e os murais, o Pollock e as telas no chão, os informalistas que não sabiam desenhar, a casa na cascata ou a cascata na casa, a escola revolucionária com candeeiros bonitos, a forma e a função, os cinco pontos da arquitectura e o estilo que de tão internacional que foi tornou as casas todas feias e iguais. Um gajo dá por ela e estamos na actualidade, o Homem já foi à Lua, já voltou e ainda não conseguiu lá voltar, o muro caiu, a Internet e a nova geração, e os artistas gostam demasiado da Coca cola, penduram coisas por arames, tornam tudo hiper-realista, ou cobrem prédios com cortinados, ou minimalizam-se, ou tornam tudo tão conceptual que já ninguém percebe nada de nada. E os gregos, onde já lá vão… A seguir? Não sei.

2 comentários:

What disse...

É fascinante que consigas fazer com que a leitura se faça à velocidade a que os avanços na história se vão dando. Depois dos Luíses e da Revolução começa tudo a agitar-se até ao fim do texto em que metes ali o travão a fundo com a referência aos gregos.

Very very good.

Julia disse...

fantastico. para que ter um manual de HCA quando se tem o resumo do renato?