quarta-feira, 23 de maio de 2012

Humor negro + cérebro à mostra + bebé = perda de leitores



Sobre o que é uma das mais lidas notícias do dia? Economia, finanças, crise europeia, futebol? Não;  massa encefálica à mostra. A notícia tem o prometedor título: “Facebook pede desculpa a pais depois de retirar imagens do filho que nasceu com malformações”.


Contexto:


Ficamos por aqui ou levamos isto ao extremo? Na dúvida, o Trajectória Aleatória apresenta com relativo orgulho e superficial desprezo pelos apreciadores do politicamente correcto uma transcrição exclusiva das conversas entre os intervenientes deste caso.

(pais descobrem que criança está basicamente condenada a uma curta e dolorosa existência)

Pai: Oh que chatice, então e agora?

Mãe: É assim, eu gostava de ficar com uma recordação do Grayson James. O melhor é trazê-lo ao mundo e aproveitar enquanto ele ainda respira para tirar umas fotos bonitas.

Pai: Parece-me perfeitamente racional. Vou comprar as molduras.

(Nove meses depois a criança vem ao mundo com o cérebro exposto e outras maleitas. Durante as oito horas de vida tem a apoteótica sensação de ser a estrela da companhia, sendo visitada por um fotógrafo profissional)

Mãe: Falta aqui qualquer coisa...

Pai: Não te chega já teres estas fotos? Olha como ele ficou particularmente disforme nesta aqui! Que fofo!

Mãe: Estou aqui ofendida com qualquer coisa que não sei bem o que é...

Pai: É por causa das molduras? Disseste que gostavas de laranja.

Mãe: Não é isso... Espera, passa aí o Grayson James.

(a Mãe tira uma fotografia da criança sem gorro, exibindo o cérebro exposto)

Pai: Queres mais luz? Posso acender o candeeiro.

Mãe: Não é preciso, daqui consigo apanhar perfeitamente o lóbulo frontal.

(Entretanto a criança perece)

Mãe: Oh, bolas, agora estou de luto e é desagradável.

Pai: Como queres lidar com isto? Psicólogo? Decorar molduras com massinhas?

Mãe: Não. Sinto que devíamos partilhar com todos os nossos amigos o cérebro exposto do pequeno. Só assim poderemos honrá-lo.

Pai: Faz-se uma festinha temática e projectam-se as imagens.

Mãe: Não me chega, continuo ofendida.

Pai: Podemos enviá-las por e-mail para todos os nossos conhecidos.

Mãe: Só para os nossos conhecidos? Tens vergonha dele, é?

Pai: E que tal se puséssemos as fotos no Facebook, para TODO o mundo ter acesso a elas?

Mãe: Traz o portátil.

Pai: E que faço com as molduras?

(Reunião dos chefes do Facebook. Mark ainda está de lua de mel, pelo que a equipa é liderada por Chefe do Facebook 1 e Chefe do Facebook 2)

Chefe do Facebook 1: Ok, fica então decidido que a timeline foi uma óptima ideia e que de futuro temos de dificultar ainda mais a vida aos nossos utilizadores. Próximo tema: fotografia de um bebé com cérebro à vista.

Chefe do Facebook 2: Que coisa terrível!

Chefe do Facebook 1: Concordo. Tivemos aliás várias queixas de utilizadores quanto ao conteúdo de uma imagem na qual...

Chefe do Facebook 2: ... um inocente e belíssimo corpinho de bebé é mostrado de forma pura e natural.

Chefe do Facebook 1: Mas o bebé tem o cérebro à mostra...

Chefe do Facebook 2:  Não; o que está exposto é o amor dos pais por aquele filho.

Chefe do Facebook 1: Na forma de um cérebro?

Chefe do Facebook 2: E qual é a diferença entre um encéfalo destapado e um pezinho descalço, ou uma mãozinha a agarrar o dedo do papá, ou a boquinha a bocejar? Faz tudo parte do bebé, e os bebés são em tudo fofinhos.

Chefe do Facebook 1: Discordo totalmente e acho que é uma falta de respeito para com o bebé e para com os nossos utilizadores...

Chefe do Facebook 2: A questão é mesmo essa. Poderemos nós, uma empresa multinacional e com responsabilidades perante os nossos usuários, evitar que uma senhora utilize gratuitamente os nossos serviços para fazer chegar a todo o mundo uma criança com a massa encefálica toda para fora?

Chefe do Facebook 1:  Epa, eu acho que sim.

Chefe do Facebook 2: Seu insensível.

(de regresso a casa dos pais)

Pai: Olha querida, a exploração do nosso filho deu frutos! Podemos continuar a pôr imagens deles online!

Mãe: Nem outra coisa se esperaria. Onde já se viu ter de respeitar o bem estar das outras pessoas? Passa-me o portátil.

Pai: Obrigado por continuares a ignorar as molduras que te comprei.

Mãe: De nada.

Pai: De nada?

Mãe: Queria dizer que elas são lindas, amorzinho.


Fim

(ia dizer que a história tem um final aberto, mas achei que arriscar essa piada já seria demais)

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