segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Quem partiu o apagador?

A discussão entre os dois lados da questão na controvérsia sobre a mesquita a ser construída perto do Ground Zero está a atirar a popularidade de Obama para níveis preocupantemente baixos. A sensibilidade americana está ao rubro como uma ferida aberta, porque para muita gente é uma ofensa pessoal e incrível a construção de um monumento a uma religião que teve mão directa no atentado a apenas algumas ruas de distância.

Obama opinou de forma diferente, autorizando a construção. Isto é uma lição de tolerância que devia ser bem pensada por aqueles que colocam a ofensa pessoal à frente da liberdade de culto dos outros.

Estive a pensar que uma analogia pode ajudar a compreender a situação e o meu ponto de vista. Vejamos esta imagem do Papa no Terreiro do Paço, aquando da sua visita a Portugal. A gigantesca missa contou com milhares de católicos e com a cobertura pormenorizada da televisão.


Outra imagem do Terreiro do Paço, com mais aninhos:



Será igualmente ofensivo da parte do Papa a celebração da sua visita a Portugal numa praça onde, séculos antes, homens e mulheres foram queimados vivos por lerem um livro proibido, ou comerem por serem judeus? Se as famílias dos queimados fossem vivas com certeza estariam a manifestar a sua ofensa pessoal; e no entanto a sociedade seria unânime ao relembrar que se calhar os católicos na actualidade e o Papa por si só não podem nem devem ser responsabilizados ou prejudicados por acções do passado, com as quais nada tiveram que ver.

Vamos explicar aos muçulmanos americanos que não podem ter uma mesquita na sua área de residência porque uns tipos com os quais nada devem ter em comum senão um culto religioso rebentaram com duas torres? Por uns pagam os outros. Todos conhecemos a injustiça neste sistema desde que, na escola primária, fomos confrontados com a típica ameaça do professor, “Se não me disserem quem estragou o apagador ficam todos de castigo”.

À parte de tudo o que penso sobre religiões, há uma coisa que é sagrada (passo a expressão): a liberdade de cada um, desde que não prejudique os outros. Há milhões de muçulmanos que não são terroristas, e os primeiros não devem pagar pelos segundos.

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2 comentários:

What disse...

E o 11 de setembro não teve que ver com divergências religiosas, os afganis tavam era fodidos porque o Bush lhes andava a chupar o petroleo todo.

Os talibans são um grupo terrorista não um grupo religioso. No entanto, de todos os sitios em nova iorque, pq construir uma mesquita ali?

Renato Rocha disse...

A mesquita é a dois quarteirões do Ground Zero, não é "no" Ground Zero". Ainda a dias foi transmitido um Daily Show onde gozavam com o facto de haver várias mesquitas, algumas que já existiam antes do 11 de Setembro, no mesmo bairro de Nova Iorque.