domingo, 26 de setembro de 2010

Educação sexual em casa?

Para quê ter um apoio na escola que transmite aos adolescentes os conhecimentos e a educação sobre a sexualidade que muitos deles nunca terão em casa? Isto porque toda a gente sabe que se há gente com quem os adolescentes se sentem à vontade para falar sobre sexo é com os paizinhos. Alguns desses paizinhos juntaram-se numa plataforma que é contra a educação sexual nas escolas, porque a ideia de ter um profissional treinado a avisar os filhos da melhor forma de evitar as DST é um pesadelo compreensível para muitas famílias.

A principal objecção é simples: “há coisas que são para ser tratadas pela família”. Muitos pais pensam que são eles quem deve ter a responsabilidade de falar com os filhos sobre sexo, e aí concordo com eles. Não acho que a educação sexual deva ser obrigatória nas escolas, simplesmente porque muitos pais preferem, movidos por motivações religiosas, excesso de zelo ou simples mania das grandezas, serem eles a transmitir os conhecimentos que acham importantes às crianças. Um desses pais surgiu hoje numa reportagem na TVI. Dizia, “a primeira coisa que disse ao meu filho foi, assim que tiveres alguma dúvida vem é ter comigo”.

E aqui entra o problema. Para muitos pais, a noção de educação sexual é isto. “Se quiseres fazer-me alguma pergunta vem ter comigo”. Perceba-se que não é “Se quiseres fazer alguma pergunta sobre o funcionamento dos teus genitais, ou sobre os efeitos negativos de andares a fazer sexo oral ao teu namorado, vem ter comigo”. Os pais que normalmente se escondem atrás desta estratégia, enfiando nos ombros dos filhos a responsabilidade pela sua própria educação sexual, não falam abertamente com eles sobre nada. Uma criança com dúvidas e incertezas mais depressa vai ter com amigos ou conhecidos, malta da sua idade com quem tem confiança, ajudando a propagar boatos e informações erradas.

A forma como a educação sexual é dada apresenta outro desafio. Aqueles “Kits” que o Governo tem estado a levar às escolas não me parecem bem o equivalente a “profissionais treinados”. Gostaria de ver esta disciplina (ou como lhe queiram chamar) ser administrada por profissionais cuja sua área seja realmente a da educação sexual, para assim garantir que a educação é mêmo educação.

Se os pais querem impedir que os seus filhos tenham educação sexual, força. Viva a não-obrigatoriedade da ES nas escolas. Mas lembremo-nos de que numa sociedade moderna como a nossa é tempo de dar iguais oportunidades a todos. Ou seja, o rapaz que nasce na família de pais informados e responsáveis, e que falam com ele sobre tudo abertamente, terá com certeza uma vantagem sobre o rapaz que nasce numa barraca, em que os pais mal têm tempo de se preocupar a vida escolar da criança; por alguma razão um grande número de gravidezes em adolescentes ou em DST pertence às classes sociais mais baixas. A educação sexual vem preencher uma lacuna inadmissível nos dias de hoje, em que quer queiramos quer não os adolescentes começam a fazer sexo cada vez mais cedo. Tentar impedir que haja Educação Sexual nas escolas não é defender os valores da família ou o bem das crianças. É uma irresponsabilidade.

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