sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Mas ele é apenas um velhinho simpático…!

NOTA: O tipo de letra, os itálicos e as cores estão todas erradas neste post. O Blogger desenvolveu outra vez uma personalidade. Hoje é "maníaco depressivo que estraga a vida às outras pessoas", e por mais alterações que faça ele não me deixa mudar sequer as cores das citações. As minhas desculpas.


Sim, lá velhinho ele é. E pode ter cara de cordeiro. Mas o Papa continua a ser, a meu ver, um dos mais bem vestidos e publicitados monstros mentirosos na actualidade. Não bastava a clássica história dos preservativos em África, que por si só deve ter assassinado mais gente do que muitos dos mais activos serial-killers na história. Não bastava as histórias mal contadas e as semi-investigações à volta da protecção dos padres pedófilos. Não bastava a constante mentalidade retrógada, que publicitava junto dos seus fiéis o quanto o casamento homossexual ou outras formas de liberdade individual são coisas a evitar.

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Aproveitando a sua viagem a Londres, o Papa veio avisar para os perigos do “secularismo agressivo”, porque todos sabemos que coisas horrendas acontecem quando os países começam a separar a religião do Estado. Na boa tradição católica, o Papa dá um exemplo (assim os fiéis não têm de investigar por si só ou sequer pensar): os nazis! Sim, esses… espera, vou citar:

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"(...) a tirania nazista, que desejava eliminar Deus da sociedade e negava nossa humanidade comum a muitos, especialmente aos judeus, a quem não consideravam dignos de viver. (…) Ao refletir sobre as lições sombrias do extremismo ateu do século XX, jamais esqueçamos como a exclusão de Deus, da religião e da virtude da vida pública conduz, em última análise, a uma visão parcial do homem e da sociedade e, portanto, a uma visão "restritiva da pessoa e seu destino"

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O drama, o horror, e a tragédia. Nada como referir os Nazis para levantar as emoções da assistência. Curioso também que esta mensagem venha do representante da Igreja Católica, que na altura em que Hitler andava a planear limpar o sebo aos judeus e outras minorias fazia acordos com o governo alemão para, entre outras coisas, manter o ensino da religião católica nas escolas, ou… Espera, vou citar o acordo em si:

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His Holiness Pope Pius XI and the President of the German Reich, moved by a common desire to consolidate and promote the friendly relations existing between the Holy See and the German Reich, wish to permanently regulate the relations between the Catholic Church and the state for the whole territory of the German Reich in a way acceptable to both parties.

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Bem, aparentemente os danados dos ateus não pareciam ser grande problema para a Igreja naquela altura. Mas querem mais contradições? O Papa diz no seu discurso que,

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(…), jamais esqueçamos como a exclusão de Deus, da religião e da virtude da vida pública conduz, em última análise, a uma visão parcial do homem e da sociedade e, portanto, a uma visão "restritiva da pessoa e seu destino"

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O que é curioso, visto que o primeiro artigo do acordo em questão deixa bem claro, cito, que

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The German Reich guarantees freedom of profession and public practice of the Catholic religion.

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E outra, para mostrar como, já na altura, as relações entre a moralidade católica e os ateus demolidores de valores eram cheias de atritos;

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Article 3

In order to foster good relations between the Holy See and the German Reich, an apostolic nuncio will reside in the capital of the German Reich and an ambassador of the German Reich at the Holy See.


Article 5

In the exercise of their clerical activities the clergy enjoy the protection of the state in the same way as state officials


Article 8

The official income of the clergy is immune from distraint [7] to the same extent as is the official salary of the Reich and state officials.

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Especialmente ilustrativo é o juramento que qualquer bispo alemão tinha de fazer ao tomar posse de uma diocese:

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Article 16

(…) "Before God and on the Holy Gospels I swear and promise, as becomes a bishop, loyalty to the German Reich and to the State (Land) of . . . I swear and promise to honour the legally constituted government and to cause the clergy of my diocese to honour it. With dutiful concern for the welfare and the interests of the German state, in the performance of the ecclesiastical office entrusted to me, I will endeavour to prevent everything injurious which might threaten it."

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É curioso que o Papa venha agora dizer que a culpa (como sempre), é dos ateus e de “formas agressivas de secularismo”. Isto, claro, no contexto da já enjoativa conversa dos “valores tradicionais”. Reparem que o Papa não fala de nenhuma consequência prática dessas terríveis formas de secularismo. Pelos vistos não há guerras, nem desgraças, nem mortes, nem ataques aos direitos humanos; apenas um ataque aos “valores tradicionais”; que, por coincidência, são definidos pela Igreja. Ou seja, o Papa apenas resmunga (não pela primeira vez, e muito menos pela última) o quanto as formas modernas de secularismo (presentes em países sub-desenvolvidos e perigosos como a Suécia) estão a destruir os valores medievais e retardados da sua Igreja e da sua visão atrasada da vida.

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Suponho que só nos resta colocar o Papa no mesmo lugar que aquele pastor que queria queimar o Alcorão, ou aquelas pessoas que falam sozinhas no metro. Todos têm uma coisa em comum: vivem num mundo só deles, alheios ao desenvolvimento e à evolução humana, lançando de vez em quando a cartada da “incompreensão” e da vitimização; como se a Igreja Católica, a maior religião mundial, fosse uma minoria em perigo.


Links:

http://www.concordatwatch.eu/showkb.php?org_id=858&kb_header_id=752&kb_id=1211

http://noticias.cancaonova.com/noticia.php?id=277857


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