quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Smith e as Sereias - episódio 12

Polícia de Segurança Subaquática

Departamento do Atlântido Norte

Relatório preliminar a ser entregue para apreciação dos superiores. NÃO DOBRAR.

Código de ocorrência: 1245674-N4

Local: Igreja de Nossa Pescada dos Mares, Terrenos do Palácio Real

Data: a preencher pela Entidade Reguladora da Coerência.

Relatório efectuado pelo Secretariado de Documentação da Acção Policial baseado no registo de ocorrência do Agente BOLHA, José Abrantes, carapau, oficial de Segundo Nível, e Agente SALGADO, Carlos Maria, linguado, oficial de Segundo Nível.

Segue-se relatório da ocorrência.

Parágrafo primeiro. Brigada número 346 chamada ao local pela central telefónica com denúncia de uma ocorrência de violência doméstica qualificada e possível suspeito armado e perigoso. A Brigada composta pelo agente SALGADO, Carlos Maria e BOLHA, José Abrantes dirigiu-se naquele preciso momento ao local citado acima a fim de lidar com a possível ameaça à segurança pública subaquática. Chegados ao local, os agentes intervenientes depararam-se com uma multidão na entrada da Igreja de Nossa Pescada dos Mares, igreja anexa ao Palácio Real. Os agentes destacados promoveram a reordenação dos transeuntes e a restituição da ordem pública, pedindo, cito, “Por favor, circulem. Deixem passar a autoridade. Não há nada para ver aqui”

Parágrafo segundo. Os agentes destacados BOLHA e SALGADO dirigiram-se ao interior da Igreja, tendo atravessado o espaço geográfico que os separava de uma outra aglomeração de cidadãos. Os agentes destacados restituiram também aí a ordem pública, cito, “Deixem passar, vá lá”. Ao chegar ao local específico da ocorrência, os agentes destacados depararam-se com a seguinte situação.

Parágrafo terceiro. Um indivíduo, sexo masculino, cerca de vinte e cinco anos, caucasiano, metro e setenta e seis, cabelo castanho e traços inequívocos de ser humano, encontrava-se deitado de costas em contacto com o solo do local de ocorrência. O indivíduo possuia na sua área do ventre uma ferida consequente da transposição violenta de uma arma branca, precisamente um tridente azul, através da sua pele e carne. O indivíduo sangrava e declarou ao avistar os agentes destacados, cito, “Este filho da mão tentou assassinar-me! Prendam-no! Prendam-no!”

Parágrafo quarto. Agente SALGADO dirige-se locomotivamente para as imediações da vítima, procurando reconfortá-la utilizando técnicas precisas de restituição da calma em situações de crise. Agente BOLHA dirige-se ao segundo indivíduo nas imediações da ocorrência, masculino, trinta metros de altura, caucasiano, identificado imediatamente pelo agente citado como Poseidon, Rei dos Mares. Terceiro indivíduo encontra-se nas imediações do segundo indivíduo Poseidon, peixe, família Salmonidae, tonalidade prateada. Agente BOLHA atinge as imediações de Poseidon e indivíduo da família Salmonidae e questiona os citados indivíuos sobre a ocorrência. Poseidon, Rei dos Mares, declara, cito, “Fui eu que lhe acertei com o tridente, mas foi sem querer”. Indivíduo caucasiano humano declara, cito, “Seu mentiroso, seu velho, seu panele…” Indivíduo caucasiano humano não verbaliza a conclusão da sua declaração. É interrompido por Poseidon, Rei dos Mares, cito, “Vê se te calas! Não abras a boca!”, indivíduo citado continua, dirigindo-se ao agente BOLHA, cito, “Ouça, senhor agente. Está tudo bem. Foi um acidente infeliz, mas já chamámos um médico excelente que tratará deste homem. Não há qualquer tipo de ocorrência a registar por aqui, tenha a certeza”.

Parágrafo quinto. Agente BOLHA explica a Poseidon, Rei dos Mares, que é seu dever de Estado averiguar o que sucedeu. Agente SALGADO declara, cito, “Ok, vamos precisar das identificações de todos estes senhores. Quem é a vítima? Senhor, como se chama?”. Indivíduo caucasiano humano declara, cito, “Smith. Chamo-me Smith. E não foi um acidente, aquele velho espetou-me com o tridente na barriga de propósito”. Indivíduo da família Salmonidae declara, cito, “Senhor guarda, que a Pescada me fulmine com a sua justiça misericordiosa se Poseidon meu rei não estiver a afirmar a verdade. Aquele homem chamado Smith entrou no meu confessionário e fez-se passar por mim, o que é uma gravíssima ofensa à autoridade da Pescada e só por isso merecia uma chamadinha de atenção. Poseidon meu rei teve um pequeno momento de, hum, irritação, mas tudo não passou de um acidente.”

Parágrafo sexto.Indivíduo do sexo feminino, caucasiana, cabelo ruivo, metro e setenta e sete, barbatana verde, aproxima-se das imediações do agente BOLHA, declara, cito, “Eu vi tudo. O meu pai tentou assassinar o meu marido”. Indivíduo identificado como Smith, a vítima, declara, cito, “Ariel!”. Indivíduo identificado como Poseidon, Rei dos Mares, declara, cito, “Como te atreves a desafiar o teu pai desta maneira?!”. Indivíduo da família Salmonidae declara, cito, “Por favor, mantenhamos a calma na casa da Pescada!”

Parágrafo sétimo. Agente SALGADO aproxima-se das imediações da localização do agente BOLHA e declara, cito, “Vamos lá acalmar os ânimos. Pelo que já deu para entender o senhor Poseidon atingiu o senhor Smith com o seu tridente por acidente”. Indivíduo identificado como Smith declara, cito, “Já disse que fui practicamente assassinado, caramba! Onde está o médico?!”, ferida do indivíduo citado apresenta desproporcionada produção de sangue. Vítima com sintomas prévios de morte, incluindo palidez e dificuldades em manter estabilidade motora. Indivíduo identificado como Ariel declara, cito, “Senhor agente, eu serei testemunha. O meu pai fez de propósito para atingir o Smith. Alguma coisa ele ouviu ali dentro para…”. Indivíduo identificado como Smith declara, cito, “Pois ouvi! E se daqui a dez segundos não tiver setenta médicos em cima de mim abro a boca e o vosso Rei vai sentir-se totalmente humilha…”. Indivíduo identificado como nosso Rei dos Mares declara, cito, “Chamem o médico! E tu mantém-te calado! É uma ordem! Senão deixo-te a morrer!”. Indivíduo identificado como Ariel aproxima-se das imediações da vítima e presta-lhe os primeiros cuidados de socorro.

Parágrafo oitavo. Agente BOLHA coloca olhar na direcção do olhar de agente SALGADO, declara, cito, “Não estamos aqui a fazer nada. É uma mera disputa doméstica, vamos mas é esperar pelo médico e sair daqui para ir beber uma cerveja” (CORRIGIR PARA “(…) ir preencher aquelas notas administrativas”). Agente BOLHA demonstra concordância com declaração e proposta do seu colega com uma inclinação de cabeça e respectivas alterações na expressão facial. Indivíduo identificado como Poseidon demonstra significativa tentativa de controlo pessoal e emocional e declara, cito, “Senhores agentes, muito obrigado pela vossa presença aqui mas como podem ver nada há para ser resolvido… Ora aí está o senhor doutor.”

Parágrafo nono. Indivíduo, molusco marinho, pertencente à ordem Octopoda, locomove-se na direcção do indivíduo identificado como Smith e administra uma completa análise da situação médica da vítima. Indivíduo molusco identifica-se junto do agente SALGADO como Dr. Polvo, médico cirurgião, cédula profissional AF-83568. Agente BOLHA declara, cito, “Senhor Smith, lamentamos por este acontecimento e se lhe pudermos oferecer mais alguma assistência por favor contacte a esquadra mais próxima”. Indivíduo identificado como Smith responde a questões dirigidas pelo médico identificado como Dr. Polvo com o objectivo de o último proceder a um diagnóstico. Indivíduo identificado como Poseidon apresenta agradecimento aos agentes destacados e conduz esses agentes citados à saída da localização da ocorrência. Indivíduo do sexo feminino, caucasiano, olhos azuis, cabelo louro, instabilidade emocional evidenciada por lábios a tremer e olhos humedecidos de forma húmida, aproxima-se do espaço físico ocupado pelo agente BOLHA e declara em tom de voz reduzido, cito, “Ele tentou matá-lo mesmo”. Agentes citados dão como terminada a sua intervenção no local da ocorrência e dirigem-se ao seu posto de trabalho habitual na região geográfia pré-definida pelo capitão da polícia local.

Secretariado de Documentação da Acção Policial aguarda autorização superior para proceder ao arquivamento deste registo.

Final de relatório.

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1 comentário:

What disse...

Desculpa comentar num post não relacionado mas...

Picture this...
Missa do 30º dia (da morte) do meu tio, lá em S.Martinho. Mesmo sem acreditarmos encomendamos a missa porque ele iria gostar, e as pessoas que conhecemos que o conheciam a ele fazem mta questão.


O sermão é sobre...
"A Ciencia traz a vaidade e a Caridade faz-nos subir aos olhos de Deus".

Kaboom!