terça-feira, 14 de setembro de 2010

Smith e as Sereias - episódio 13

NOTA: Tentei mudar o tipo de letra deste post umas 10 vezes, mas o Blogger decidiu desenvolver uma personalidade lixada hoje à tarde e por isso, ao que parece, pedir que metade do texto seja em Courier e a outra metade em Arial é pedir demais. As minhas desculpas pela estupidez do Blogger.


Previamente, em Smith e as Sereias, Poseidon espetou com o tridente na barriga de Smith, quase matando o desgraçado. Ariel é testemunha, e Lilith atesta também que tudo não passou de uma tentativa propositada de Poseidon para aleijar e, quem sabe, assassinar o humano. Smith é tratado por um misterioso Dr. Polvo, conhecido anteriormente por ter imensos escrúpulos ao denunciar uma família de fugitivos atlantes.


Relatório referente ao dia 4 de Junho, 17hoo, enfermaria do Palácio Real.

Paciente: Smith

Categoria: Visitante

Espécie: Homo sapiens

Sintomas: tridente espetado na barriga, dores na região do ventre e abdominal, perda de sangue

Tratamento efectuado: Remoção do tridente através das técnicas Small-Hutsen para a remoção de corpos estranhos na região do ventre. Aplicação de curativos de Alga XD-56, medicamento CORALIFECTA para evitar infecções posteriores e cozedura da ferida efectuada com linha nº4, quarenta e três pontos.

Principais perigos posteriores: infecção

Estado do paciente: Estável, sob observação.

Médico responsável: Dr. Polvo

Enfermeira de pelotão: Enfermeira Ariel


***

Smith acordou tonto. Olhou em volta, estava na cama do quarto do Principado. Tentou mexer-se, e sentiu uma dor acutilante na barriga. Tentou sentar-se na cama e deu de caras com um homem de trinta metros, barbudo, sentado à beira da cama.

- Ui – resmungou – O que é que faz aqui?

- Olá, Smith – respondeu Poseidon – Como te sentes?

- Como se um inconsciente me tivesse tentado assassinar.

- Ainda bem - respondeu Poseidon – Preciso de falar contigo.

- Sou todo ouvidos. O tridente?

- Deixei-o no meu trono.

- Ok. Só para saber.

- Tu ouviste uma coisa que não corresponde com a realidade – disse Poseidon.

- Sobre o Poseidon gostar de homens?

- Exactamente.

- Pronto. Se Poseidon assim o diz, eu acredito.

- Pronto.

Houve uma pausa. Trocaram um olhar demorado.

- Então – começou Smith, encolhendo os ombros – não se importará com certeza se eu partilhar…

- Ok – cedeu Poseidon – Esta situação é constrangedora. É óbvio que tu não tens o mínimo interesse em contar a ninguém o que ouviste, pelo menos por agora. Senão já o terias feito. No entanto…

- No entanto – interrompeu Smith - não terei o mínimo problema em abrir a boca caso a oportunidade chegue. Sabe, em caso de emergência. Ou se estiver muito muito descontente com qualquer coisa.

Houve outra pausa. Poseidon começou a tremer.

- Ouve, seu oportunista – estendeu o dedo grosso a Smith – se achas que me vais conseguir chantagear com essas falinhas mansas estás muito enganado. Eu sou o Rei dos Mares. Comigo não se brinca.

Smith esboçou um sorriso, bastante sincero até apesar das dores. Inclinou-se na direcção de Poseidon.

- As minhas exigências são muito simples – disse Smith.

***

Parei para pensar, procurando manter a cara de mau oportunista que sempre vira nas pessoas mais velhas quando brincava em pequeno na taberna dos meus pais. Eu sabia que aquela pausa estava a ficar cada vez mais exagerada, mas a verdade é que entre antibióticos à base de algas e medicamentos para dormir eu não tinha tido tempo nem oportunidade para pensar nas exigências que constituiriam, juntamente com o terrível segredo da homossexualidade herege do meu futuro sogro, a maior chantagem que com certeza alguém fizera ao Rei dos Mares. Dinheiro? Muitas sereias? Um cargo importante? Corais valiosos? Saiu-me a primeira coisa que me veio à cabeça:

- Exijo um compromisso sério da sua parte em encontrar a Rose.

- Quem?

- A Rose. A namorada do moço louro que ninguém sabe o nome. E exijo que liberte a sua filha Ariel de qualquer obrigação ridícula. Eu sei muito bem que ela não está a dormir comigo no mesmo quarto por vontade própria. E exijo também meios, muitos meios, para poder fazer o meu trabalho de Relações Extra-Marinas como deve ser. Um submarino, cheques viagem, qualquer coisa.

- Não quer mais nada? – sarcastizou Poseidon.

- Quero sim – continuei. Parei por momentos para pensar – Um escritório maior.

Poseidon estava vermelho, tremia por todos os lados, mas agora que eu sabia perfeitamente que ele era maricas já não tinha medo nenhum daquelas ameaças corporais todas.

- Combinado? – perguntei, a sorrir como um menino bonito.

Podeison foi-se embora sem sequer se despedir, e bateu com a porta do quarto. Presumi logo que aquilo era um “sim”.

***

Não sei o que me deu na cabeça, mas senti uma necessidade muito grande de visitar Smith. Talvez por isso tenha pedido à enfermeira da tarde para me dar a mim os medicamentos. Eu própria os levaria ao paciente, avisei-a. Subi as escadas da enfermaria até ao quarto do Principado. Entrei.

Smith estava a dormir, e ainda bem. Estava extremamente cansado da anestesia e de todos os medicamentos. O Dr. Polvo, aquele miserável que me tenta sempre apalpar a barbatana com um dos tentáculos sem ninguém ver, fez um trabalho notável com a cicatriz. Smith abriu a boca e fechou-a, soltou um ronco e acordou.

- Olá, Smith – disse eu. Dei-lhe um sorriso. O coitado mal se mexia.

- Ariel – resmungou ele – Suponho que hoje durmo aqui na cama.

Aquela personalidade matreira e por vezes inconveniente fora exactamente o que me atraíra nele, naquela noite fatídica em cima de uma rocha em Cabo Verde. O resultado desse momento de irresponsabilidade multiplicava-se agora em células especializadas dentro do meu útero. Nutria por este homem uma espécie de ódio mal dirigido, culpando-o pela desgraça que me ocorrera ao engravidar; mas naquele momento apeteceu-me deitar-me ao lado dele.

Deite-me mesmo, sem saber bem o que fazia. Ele não me tentou agarrar, nem aproveitar-se da situação de nenhuma maneira. Era sinal de que estava mesmo adoentado.

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