Um dia eu e Samora sentámo-nos a discutir as modas.
- Hoje as pessoas vão na rua e riem-se daquelas que se vestem mal. Mas que significa vestir mal? Antigamente ser-se gorda era o traço mais apreciado numa mulher, até mais que a inteligência. Hoje as gordas são o que são, aconselhadas a emagrecer por causa da “saúde”. Saúde! – soltou uma gargalhada e quase se engasgou na coca-cola – Qualquer moda é definida democraticamente pela maioria. Uma minoria define o que a maioria deve seguir. A maioria, por ser burra, absorve o que deve absorver, aliás é para isso que lá está, se tivesse a possibilidade de decidir sozinha estava na minoria e não na massa. Depois, por mais ridícula ou aparatosa que seja a ideia, sobrevive e prolifera-se. A estupidez é toda uma questão de democracia. Um estúpido sozinho é estúpido, cem estúpidos juntos são uma voz com opinião válida. Porque é que ir à missa é virtuoso e sacrificar um galo em honra dos espíritos da Natureza é loucura?
- Mistura fé com gostos superficiais – observei – Não serão universos opostos?
- Porque os tratam assim. No fundo, ambos são interpretações parciais e imprecisas, opiniões humanas mais do que falíveis.
- Há que respeitá-los.
- Não, há que destruí-los. A História ensinou-nos que só é feita quando a vanguarda avança e toma conta da preguiça instaurada.
- A mudança é boa, portanto.
- A mudança é terrível, porque geralmente se muda para pior.
- Então em que ficamos?
- Por aqui – Samora apontou para o seu estúdio à nossa volta – é por isso que, apesar da minha genialidade, prefiro o sofá aos círculos académicos.
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