quarta-feira, 22 de junho de 2011

Samora 12

A senhora Primm tinha sete gatos e doze peixes dourados e duas catatuas e três tartarugas e quatro cães e, ocasionalmente, baratas na cozinha. Viva sozinha desde a morte do marido, há trinta anos. Nunca voltara a casar. Apreciava observar os homens da loja de mobiliário do outro lado da rua a descarregar móveis de tronco nu (os homens, não os móveis), ver televisão, comprar batedeiras para as suas sopas e decorar queques com cremes coloridos. Um dia convidou-me para decorar queques, mas eu recusei. Samora contara-me que um dia lhe entrara em casa e vira um bebé de plástico perfeitamente vestido e limpo sentado numa cadeirinha, na cozinha. A Senhora Primm apresentou-o como sendo o seu neto. Estava a dar-lhe de jantar. Samora observou o bebé de plástico com atenção e terá dito:
- É de plástico, minha senhora.
Ao que a Senhora Primm amargamente respondera:
- Para mim é mais verdadeiro que o senhor.
Fechou-lhe a porta na cara. No dia seguinte veio bater-lhe à porta para lhe oferecer meia dúzia de queques decorados. Samora agradeceu, trouxe-os para dentro e colocou-os em cima da mesa do estúdio. Acabei por seu eu a comê-los, estavam maravilhosos. 

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