quinta-feira, 23 de junho de 2011

Samora 13

Samora acreditava que sempre que andava de carro a Terra movia-se debaixo das suas rodas e nunca ao contrário.
- Ninguém me garante – dizia-me ele sempre que viajávamos de carro – que não é o planeta todo que não gira sob das minhas rodas e impulsionado por elas. Nós estamos quietos, o mundo é que se move por baixo e com ele vem tudo o que sobre ele existe. Não sou eu quem vai ter com as coisas, é o mundo que se contorce para me trazer o que pretendo. Eu ponho o carro a funcionar e acelero mas não vou ter com o meu destino, ele é que tem ter comigo; e pelo caminho arrasta o mundo com ele. Bom seria se isso só acontecesse com destinos importantes.
- Talvez – arrisquei uma vez – quando o destino é menos bom seja o carro que viaja sobre o mundo e não o mundo sob o carro. Assim o mundo não é rodado por uma ninharia qualquer.
Samora segurou o volante com as duas mãos, olhou-me e sorriu.
- Com a breca, e não é que faz sentido, isso?
- E como funciona? Se cada carro rodar o mundo sob si quando anda é o caos, o mundo não pode rodar para cada carro.
- Pois claro que não pode – Samora pôs outra vez os olhos na estrada - é exactamente por isso que só roda quando eu passo. 

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