quarta-feira, 17 de agosto de 2011

No "Diário de Notícias" de hoje:

Fontes da Polícia revelaram ao nosso jornal que Renato Rocha, um desconhecido autor de um blogue a preto e branco, foi formalmente acusado de desobediência civil e preso preventivamente na passada Terça feira à noite. Ao que foi possível apurar, esta acusação surge no seguimento de declarações feitas por Rocha a alguns amigos e familiares que provocaram uma onda de contestação: o autor terá dito que não apreciava ir à praia, e que preferia dedicar o seu tempo a actividades como a escrita, a leitura de livros de qualidade e a visualização de filmes considerados pela acusação como “demasiado intelectuais para o mês de Agosto”.

Na casa do arguido foram encontrados uma série de DVD's de filmes estrangeiros, um computador com vários documentos Word de várias páginas e mais de dez livros que não são nem de Rodrigues dos Santos nem biografias de alguma rainha de Portugal: todos os indícios levam o Ministério Público a temer pelo equilíbrio mental do arguido, o que conduziu à sua prisão preventiva. 

“Estamos a falar de um típico caso de superioridade egocêntrica” defende Carlos Pires, psicólogo. “Renato Rocha tem claramente enraizada a crença de que é superior aos outros cidadãos, e por isso criou para si esta personagem que encarna. Todos os portugueses gostam de praia, toda a gente sabe disso. Ele só quer chamar a atenção e ser diferente dos outros”. O especialista acrescenta ainda que “As razões que levam o Renato Rocha a negar a praia desta forma tão apaixonada devem ser estudadas pelo tribunal. A sentença final deve ter em conta o estado psicológico do rapaz”.

A Comissão de Utilizadores do Litoral Alentejano, local onde Rocha se encontrava de férias no momento da sua detenção, já reagiu. Em comunicado, a Comissão diz que “O Sr. Rocha tem claramente algo contra a praia, contra a nossa costa, contra o Alentejo e consequentemente contra Portugal. É uma falta de patriotismo, nesta altura de crise, criticar desta forma selvagem as praias portuguesas e assim afastar os possíveis turistas”.

Dona Amélia, a porteira do arguido, encontra-se em estado de choque. “Confesso que quando ele chegou cá ao prédio me parecia alguém completamente normal. Um jovem simpático, que dizia os bons dias. Quando vi as notícias de hoje fiquei horrorizada. Uma vez tivemos um extremista de direita aqui no prédio, e depois disso nunca pensei encontrar-me uma situação semelhante mas ela aqui está”.

“O Sr. Rocha foi constituído arguido mas é só o que lhe posso dizer neste momento”, diz Paulo Marques, o advogado de defesa de Rocha. Marques não comentou os recentes posts publicados pelo seu cliente no seu blog, nos quais ridicularizava cidadãos em contexto de praia. Num deles, jovem compara as brincadeiras na água entre namorados ao processo de lubrificação antes do acto sexual: texto que a Comissão Evangélica Portuguesa já apelidou de “anti-cristão e muito, muito, mas muito ofensivo” e a Associação de Sexólogos Nacionais de “incitador de interpretações erradas sobre o fenómeno da lubrificações vaginal”.

A opinião pública não vê com bons olhos a tese defendida por Renato Rocha. “Eu senti-me ofendido”, diz um popular na praia. “Aquilo não se diz de ninguém. Um gajo não gostar de política é uma coisa. Agora, não gostar de praia é demais. Se até o Marcelo Rebelo de Sousa é conhecido por ir a banhos, quem é que esse Roberto Rocha pensa que é? Melhor que o Professor?”

Também nas redes sociais de move a onda de contestação. O grupo “Vamos enviar por correio um saco de areia com beatas para esse parvalhão do Renato Rocha para ele ver quem é que manda aqui” já conta com dois mil apoiantes.

“O blogue não vai parar”, garantiu Rocha a um minúsculo grupo de apoiantes à porta do Campus da Justiça. “Já pedi a um amigo que continue a publicar algumas coisas que tinha escrito antes de ser detido. Por agora estou concentrado em provar a minha inocência”.

O julgamento está marcado para a próxima Quinta feira.

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