sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Samora 37

Dois anos depois fui com Samora visitar uma exposição a um Museu. Chegámos com antecedência, a seu pedido, e vi-o atravessar a rua e passar ao lado da porta de entrada. Desapareceu na esquina, ao fundo, e cinco minutos depois ressurgiu da esquina oposta. Havia contornado o edifício. Veio ao meu encontro.
- Quando me dirijo a um local novo contorno-o sempre, especialmente quando se trata de edifícios belos, enormes, intimidatórios. O seu tamanho real é menor do que parece à primeira vista; e depois de os contornar ficam mais pequenos e conheço-lhes as fachadas, as janelas, as portas e outras intimidades. Sinto que os trago ao colo. Você não?
Disse-lhe que não. Olhou-me com escárnio.
- Dê a volta, encontramo-nos à entrada.
Contornei o edifício e aproximei-me de Samora.
- Pronto – disse, ao ver-me – Já podemos entrar. Agora o edifício é igual para os dois. 
Pobre Samora... um gigante homem reduzindo edifícios aos seus tamanhos mínimos para poder entrar. Que mais manias estranhas poderiam revelar a secreta e quase imperceptível verdadeira natureza do homem que tinha medo do mundo e por isso o procurava reduzir? Não era o intelecto de Samora que se esticava e rodeava o mundo; era Samora quem reduzia o mundo para que pudesse depois rodeá-lo de forma satisfatória. Só muito mais tarde compreendi o poder desta aparente contradição entre o que Samora pensava sentir e o que Samora sentia na realidade.

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