domingo, 21 de agosto de 2011

Samora 46


Samora era um pouco mais alto que eu e o seu corpo possuía a forma de uma pera gigante: pelo ventre, barriga e coxas um tanto inchadas, pelo afunilar da medidas à medida que se sobe até ao pescoço, e finalmente pelos dois queixos e pela cabeça oval. Cabelo claro, levemente suave, que Sara afagava com afrodisíacos movimentos do indicador. Olhos arredondados, nariz grego, bocarra em concordância com os enormes pedaços de carne que por vezes consumia. Tez pálida pela falta de exposição solar, e uma crónica e impenetrável camada de suor desde o couro cabeludo, atravessando a testa, e chegando à orla das sobrancelhas espeças: camada essa que limpava com assiduidade utilizando o lenço branco que transportava sempre consigo. Sempre houve em Samora uma presença notável, um andar pesado mas consciente, uns movimentos estudados, educados mas rudemente orgânicos, como se a sua constituição física moldasse continuamente o tecido do espaço-tempo e assim obedecesse ao mais alto desígnio da alma que transportava: o de desafiar todos os Homens e todas Coisas a compreenderem que lhe eram inferiores.  

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