domingo, 7 de agosto de 2011

O Trajectória Aleatória foi à praia

O Trajectória Aleatória não queria ficar atrás de todos os canais de televisão que, neste Agosto cheio de acontecimentos, dedicam grande parte do seu tempo a noticiar acontecimentos de importância nacional como “Está a chover”, “Já está sol outra vez”, ou “Ainda não choveu mas vai chover se calhar amanhã”. O Autor, na tradição dos repórteres de Verão, foi para a praia entrevistar alguns Populares e saber as suas opiniões sobre os últimos desenvolvimentos no estado da “metrologia” e da “metriologia”

- Senhor Popular, muito boa tarde.
- Boa tarde.
- Está calor, não está?
- Está sim.
- Qual a sua opinião sobre a temperatura da água?
- Está assim-assim.
- Qual a sua opinião sobre o estado do tempo, apesar da crise?
- Acho bem.
- E tu, pequenino popular?
- Eu gosto pruque posso brincar na praia.

- Outro Senhor Popular, qual a sua opinião sobre o boletim metrológico para amanhã?
- Olhe, eu sou da opinião de que derivado ao facto de haverem previsões de chuva não vou vir amanhã para aqui à praia.
- E sobre a crise?
- Acho mal.

- Um Terceiro Senhor Popular. Boa tarde. Como vê o facto de esta manhã chovido?
- Olhe. Eu acordei e estava a chover. Tomei o pequeno almoço e estava a chover. Meti-me na camionete e estava a chover. Saí da camionete e estava a chover. Cheguei à praia e estava a chover. Estendi a toalha e estava a chover, e disse para a Maria: Não há direito. Se eu soubesse que ia chover não tinha vindo para a praia. É o país que temos, não há nada a fazer. Agora prontos. Já aqui estou.

- Um Quarto Senhor Popular: De que forma está a crise a afectar a sua ida à praia?
- De maneira nenhuma, venho a pé, moro mesmo ali do outro lado do pinhal.
- E não sente a crise nas suas férias?
- Não sou gastador.
- Mas com certeza tem alguma coisa na sua vida que tenha sido prejudicada por causa da crise.
- Assim de repente...
- Pense lá bem.
- Olhe, se calhar como menos gelados.
- Sente-se injustiçado, portanto.
- Sim, se calhar é isso.
- Portanto, acha mal.
- Sim, acho mal, pronto.

- Um Quinto Senhor Popular. Diga-me, está revoltado com a crise...
- Não é com a crise, é com o Gueverno.
- Por causa da crise...
- Não. Há já mais de trinta anos que venho aqui para a Arrábida, chego cá este ano e não há areia. Só pedragulhos destes grandes. Agora uma pessoa para ir banhar-se tem de andar por cima dos pedragulhos.
- E ir para outra praia?
- Não posso, por causa da crise, e porque é sabido que de férias uma pessoa tem direito a vir à praia e estar sem se mexer. O que me choca é que o Gueverno fala muito de turismo, fala muito de investimentos e de coisas mas quando é para fazer ninguém faz nada. Onde foi parar a areia da Arrábida? Foi com certeza culpa do Gueverno.
- E da crise.
- Sim, e da crise também, mas principalmente do Gueverno. Eu e sete amigos meus vamo-nos manifestar. Não há direito porque no fundo uma pessoa vem à praia é para se divertir, não é para andar em cima de pedragulhos.

- Um Sexto Senhor Popular. Boa tarde.
- Boa tarde.
- Veio à praia, estou a ver.
- Sim.
- E está a gostar?
- Estou.
- Qual a sua opinião sobre a praia?
- Está calôri.
- E mais?
- E ontem choveu.
- Qual a sua opinião sobre as previsões metrológicas que indicam a possibilidade de aguaceiros para amanhã?
- Acho mal. Mas os senhores metrilogistas às vezes enganam-se. Mas se calhar amanhã não se enganam. Não sei bem.
- Amanhã já não vem à praia?
- Pois se calhar não.
- E o que pensa disso?
- Acho mal.
- E o que pensa do tempo para hoje?
- Acho bem.
- E o que pensa da crise?
- Acho mal.
- E das férias?
- Acho bem.
- E do sol?
- Acho bem, também.
- E a água?
- Tá fria.
- E o que pensa disso?
- Acho mal.
- E se a água estivesse quentinha?
- Aí era melhor.
- Muito obrigado. 

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