sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Samora 42


Segundo o próprio, Samora ocupou mais de três dezenas de actividades profissionais ao longo da vida, que incluíram pedreiro, mergulhador, professor universitário, escritor (dedicou sete anos a um enorme volume sobre a Catedral da Sagrada Família, que nunca chegou a terminar), crítico de cinema, forcado e, para minha surpresa, cirurgião.

- Mas só por algumas horas – explicou-me – As circunstâncias assim o pediram. Fui também bêbado de rua e modelo nu.

- E qual das profissões preferiu?

- Esta – abriu os braços, indicando o seu estúdio, os seus livros, e o copo de coca-cola fresca ao seu lado. 

Ser Samora era, para Samora, uma actividade profissional. Ser ele mesmo era um serviço prestado ao mundo, do qual se ocupava com diligente gosto mas sem esquecer a sua maior responsabilidade: manter-se ele mesmo. Acusá-lo de egocentrismo é ingenuidade simplista. Samora amava-se, e sentia-se superior aos outros não por ser mais inteligente, não por ser mais forte, não por ser melhor em nada; simplesmente por ser superior aos outros por definição, pela sua definição de "outros" e de "Samora". 

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