Três amigos jantando:
- Que vai ser agora? Bolo de bolacha? Mousse? Baba de camelo?
- Qual quê. Quero uma borunhola fresquinha.
- Quê?
- Uma borunhola fresquinha.
- Fresquinha!
- As borunholas não se comem fresquinhas.
- Ai é?
- Ai é.
- Educa-me lá, então.
- As borunholas comem-se mornas, toda a gente sabe isso.
- E com canela!
- Não, com canela nem por isso. Morna sim, mas sem canela.
- Sem canela...?
- Sem canela.
- Também concordo.
- Um verdadeiro apreciador de borunhola come-a bem morna, bem devagarinho, mas sem canela.
- Pois eu prefiro-a fresca e com açúcar por cima.
- Com açúcar!
- Com açúcar e sem canela!
- Vocês comem a borunhola sem açúcar?
- Pôr açúcar numa borunhola é redundante, aquilo já é doce...
- Calma lá, eu também aprecio pôr-lhe qualquer coisinha em cima.
- Nós moscada, queres ver?
- Não. Além de morna, gosto dela com um pouco de compota em cima. Ou doce de tomate. Com o doce de tomate da minha avó... Ui!
- Açúcar não, que é redundante; mas pões-lhe compota que também é doce... Tu realmente...
- Eu realmente quê? O parvo és tu, que a comes fresca. Aquilo vem frio e não sabe a nada.
- Morna é melhor, queima-te a língua...
- Com canela, já disse. Nem fresca nem morna, à temperatura natural. Parece-me óbvio...
- A mim parece-me óbvio que se come é fresca e com açúcar.
- Pois a mim parece-me óbvio que vós gostais de estragar borunholas em largo número à conta das vossas extravagâncias.
- Proponho então o seguinte, já que só nos vemos uma vez por mês e nunca discutimos isto: hoje cada um come uma borunhola como o que está à sua direita desejar.
- Que disparate, vou deixar de a comer fresca por causa de uma brincadeira?
- Não interrompas, olha que isto parece divertido. Talvez possas provar uma borunhola morna e com compota e finalmente dar-me a razão que mereço. Ó chefe! Três borunholas. Uma morna e com compota aqui para o meu ilustre...
- Outra fresca e com açúcar para ele.
- E uma terceira ao natural, com canela, para este cavalheiro.
Vieram as borunhelas, todos provaram, ninguém gostou da sua. Depois despediram-se e separaram-se, cada um com um sorriso interior e a certeza que o verdadeiro apreciador de borunhola era mesmo ele.
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